
24 de março de 2018 | 07h00
Escalar 82 montanhas de quatro mil metros em 120 dias. Esse é o novo objetivo do alpinista Waldemar Niclevicz, um dos maiores nomes do Brasil no montanhismo. Em sua busca excessiva por recordes, o brasileiro lança uma nova expedição a partir de junho para comemorar os 30 anos de carreira dedicados a escalar os principais topos do mundo.
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O desafio, que inclui os Alpes na Europa, passando por França, Itália, Suíça e Áustria, já foi realizado por pouco menos de 50 pessoas e nunca em apenas quatro meses. Sendo assim, Waldemar pretende tornar o Brasil o primeiro País não europeu a completar o feito, que normalmente leva anos de preparação.
Em entrevista exclusiva ao Estado, o alpinista revelou que objetivo não é apenas completar a expedição, mas também registrar todo o percurso. "Vamos mostrar a importância histórica, cultural e esportiva do alpinismo e mostrar sua essência", diz, lembrando que os Alpes são o berço do alpinismo mundial.
"O alpinismo como esporte começou nos Alpes, é uma região cheia de história, grandes nomes começaram ali e estar nesse cenário é muito gratificante", conta Niclevicz. O objetivo é produzir dez episódios contando toda a aventura.
Completando 30 anos de carreira, Waldemar relembra com carinho os momentos mais importantes e diz ser difícil escolher um específico, mas elege sua primeira escalada, no Aconcágua, na Argentina, quando tinha apenas 21 anos de idade como inesquecível.
Ele conta que fazia uma semana que ninguém conseguia subir ao topo, e ele fez o caminho sozinho. "Nunca tinha chorado e me emocionado tanto. Aquilo me fez olhar para frente e pensar: quero escalar montanhas para o resto da vida e sentir isso novamente".
Em 1991, após escalar na Bolívia, Peru, Chile e Argentina, de maneira precária, como relata, foi a hora de ir para o Monte Everest (8.841 metros). Waldemar pediu dinheiro para amigos, se endividou, mas conseguiu conhecer as grandes montanhas do mundo nessa viagem. "Quanto mais escalava, mais fascinado ficava. Entendi que era importante chegar lá em cima pelo prazer de chegar, mas também profissionalmente", afirmou o primeiro sul-americano a subir na maior montanha do mundo.
Se fosse o primeiro brasileiro a conseguir a façanha, poderia continuar e transformar seu hobby em negócio com patrocínios. Deu certo. Em 1995, conseguiu apoio de muitos amigos para ir ao Everest novamente. "E então entrei no cenário mundial do alpinismo", disse.
Em 2000, subiu o K2, a segunda maior montanha do mundo, na fronteira entre China e Paquistão. "Em termos de alpinismo, foi a mais importante da minha vida. Nenhum outro brasileiro sequer foi para lá novamente", diz.
"Quando você escala o Everest é reconhecido como bom alpinista pelo público geral, mas quando escala o K2, é conhecido pela comunidade mundial do alpinismo", explica.
Segundo Waldemar, muito mudou nos últimos anos. Em 1991, diz ele, apenas 342 pessoas tinham chegado ao alto do Everest. Em 1995, eram mais de 600 e hoje, são mais de 7 mil. As 14 montanhas acima de oito mil metros no mundo começaram a ser "vencidas" cada vez mais", diz.
Apesar da diferença no cenário, o brasileiro diz que a profissão ainda segue precária por conta da falta de patrocinadores. "É muito difícil ser alpinista profissional no Brasil, um esporte desconhecido. Hoje, as pessoas sabem um pouco mais, mas naquela época, não", opina.
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