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Aos 11 anos, brasileiro Arthur Fernandes já se destaca no golfe

Descoberto quando acompanhava um treino do pai, golfista mirim caminha para ter carreira sólida e vencedora

Por Caio Possati
Atualização:

Arthur Fernandes estava levemente ansioso. Para um garoto de 11 anos, é difícil disfarçar que a vontade de estar no campo era maior que a de responder perguntas sobre sua curta, mas já promissora, trajetória de dois anos como golfista mirim. Mas, gentil e cavalheiro —valores tão prezados no esporte em que ele disputa —, o garoto esperou a entrevista acabar para mostrar suas habilidades numa modalidade incomum no Brasil.

A conversa com o Estadão aconteceu em Indaiatuba, interior de São Paulo, no campo de golfe onde Arthur desenvolve um talento que já o levou a vencer torneios entre adultos e até a representar o País em disputas internacionais. Ele acaba de voltar da República Dominicana, onde jogou o Caribbean Championship, em Punta Cana. A competição poderia classificá-lo para o Mundial do ano que vem nos EUA. Arthur ficou entre os cinco primeiros, mas a vaga não veio.

Arthur se tornou rapidamente colecionador de medalhas e troféus; ele é o segundo no ranking brasileiro da sua categoria Foto: Caio Possatti

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“Esse ano eu não consegui a classificação, mas ano que vem vou treinar muito para conseguir chegar à Pinehurts. Ano que vem vai ser um ano com bons torneios, vou estar bem treinado e sei que vou conseguir me classificar para o mundial”, afirmou Arthur, cheio de confiança.

Mas a não classificação não diminui o que o golfista, natural de Valinhos (SP), vem realizando desde 2019. Já são mais de 20 medalhas e dez troféus que ele conquistou. Títulos que o levaram para a 2.ª colocação no ranking da Federação Brasileira de Golfe na Juvenil E (até 11 anos) e ao 1.º lugar da lista da Federação Paulista. Ele tem o apoio dos pais, concilia estudos e golfe e espera abraçar a modalidade.

PROMESSA

Quem viu no garoto jeito para o golfe foi Luís Menezes, ex-jogador e professor de Alexandre Fernandes, pai de Arthur, que costumava levar o filho aos treinos no Terras de São José Golfe Clube, em Itu (SP). “O Luís deu um taco para ele passar o tempo enquanto eu treinava. Depois, me disse: ‘Vamos parar um pouco sua aula e observar seu filho’”, conta Alexandre.

Dali, Arthur foi para a escolinha. Aprendeu o básico e sentiu que já estava preparado para dar as primeiras tacadas. “O Arthur precisava de alguns ajustes. O movimento dele é natural. Isso é bom para o golfe”, diz o técnico Juan Cruz.

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É possível dizer que a ascensão de Arthur é efeito de um trabalho que tem transformado o golfe em um esporte mais conhecido entre as crianças. Em 2017, o empresário e golfista Felipe Almeida implementou no Brasil o Kids Golf Tour, uma série de torneios com sede em diferentes lugares. Na avaliação de Almeida, a organização dessas competições tem contribuído para a criação de uma comunidade do golfe e incluído nela praticantes mirins. 

Artur tem muita habilidade numa modalidade incomum no Brasil Foto: Caio Possati

“Até em 2017, as crianças não tinham espaço. Até os mais talentosos não tinham referências porque não jogavam tanto contra as outras crianças da mesma idade. Nesse caso, a competitividade tem ajudado no desenvolvimento”, disse Almeida ao Estadão.

Nas disputas, os bons resultados demoraram a aparecer para Arthur. Ele amargou um 5.º lugar em uma das etapas do Brasil Kids Golf Tour (entre sete participantes) e ficou na lanterna no Sul-Americano. Mesmo assim, gostou da atmosfera dos torneios e pediu para continuar. “Comecei a levar os treinos a sério.” 

Em 2020, ele ganhou uma das seis etapas do Brasil Kids e ficou em segundo nas outras cinco. Neste ano, venceu cinco de seis etapas do mesmo circuito e ficou duas vezes em segundo no sul-americano.

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ENTRE OS ADULTOS

Dos vários troféus que Arthur tem na sua coleção, alguns vieram de competições entre adultos amadores, como o Nomads Club. Nele, além de ser campeão, o golfista-mirim foi o que mais embocou bolas em menos jogadas entre todos do torneio. “Alguns até não acreditavam, mas uma das pessoas que disputou com ele confirmou que a contagem de tacadas estava certa e disse: ‘o menino joga muito mesmo’”, lembra Alexandre.

Para crianças de 6 a 10 anos, os jogos são de nove buracos, que passam a ser de 18 a partir dos 11 anos. Além do aumento do circuito, a distância dos tees shoots, local de onde parte a primeira tacada, também muda na mesma faixa etária. Jogar com adultos facilitou Arthur a fazer a transição quando completou 11 anos. “Eu já jogava dos tees que os adultos jogavam, e as crianças jogavam do meio. Então, eu estava com uma vantagem grande quando comecei a competir em 18 buracos”, explica o garoto.

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BRINCADEIRA SÉRIA

Por trás dos resultados, há uma rotina preparada para Arthur se destacar e se desenvolver ainda mais. Ele treina até quatro vezes por semana, realiza um trabalho funcional com fisioterapeutas e faz consultas com um coach mental, requisitado após os pais perceberem que o filho se frustrava e sofria emocionalmente quando perdia.

Entender as razões do nervosismo do filho motivou a mãe, Adriana, a começar um curso de psicologia e estudar Psicologia do Esporte. “Se tiver uma forma de ajudar, de fortalecer a cabeça para a hora do jogo, eu vou estudar”, diz.

Os pais enfatizam que o filho deve tratar o golfe como uma diversão, mas o que não o livra de cobranças: “O que a gente mais quer é que o Arthur se divirta. Se ganhar, ótimo. Mas, se perder, é necessário treinar mais”, afirma o pai.  Mas, para Arthur, administrar essa pressão parece ser fácil.  Justamente porque golfe, para ele, é unir a seriedade dos torneios com a diversão que as crianças tendem a buscar nas brincadeiras.

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