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Após 44 anos sem título, boxe retoma a nobreza

Em luta dramática, meio-médio Pedro Lima ganha de americano por 7 a 6 e conquista o ouro

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Por Bruno Chazan
Atualização:

Depois de 44 anos, o boxe brasileiro voltou a figurar no lugar mais alto do pódio em Pan-Americanos. O baiano Pedro Lima conquistou a medalha de ouro dos meio-médios, ontem, ao vencer por 7 a 6, de forma dramática, o norte-americano Demetrius Andrade na decisão. Ele repetiu o feito de Luiz Leônidas César, Elcio Neves e Rosemiro Mateus Santos, nos Jogos de São Paulo, em 1963. A alegria só não foi maior no Pavilhão 2 do Riocentro porque minutos antes o também baiano Éverton Lopes foi esmagado na decisão dos leves por 21 a 8 pelo cubano Yordenis Ugas e ficou com a medalha de prata. Obstinado, Pedro não se intimidou com o maior porte físico de Andrade, que tem ascendência cabo-verdiana. Dominou quase todo o combate e entrou no quarto e último assalto com vantagem de 5 a 3, mas permitiu a virada a 55 segundos do fim. "Atira golpes!", gritou, então, o técnico Luis Dórea. Empurrado pela torcida inflamada dos companheiros de seleção, Pedro retomou a vantagem 12 segundos do fim, para não largar mais. "Nem sei o que pensei quando acabou a luta, ainda estava trocando golpes com ele", contou Pedro. "Parti para o coração e consegui virar. Foi na garra." A vitória levou o Pavilhão 2 ao delírio. O ministro dos Esportes, Orlando Silva Júnior, que assistia ao combate da primeira fileira, aplaudiu com grande entusiasmo. O ex-campeão mundial Acelino Popó Freitas, chefe da delegação brasileira no Pan, chorava, como de costume. "Acabou o sufoco", gritava. Pedro tentava escolher as palavras, mas não conseguia. Era hora de lembrar os tempos difíceis da infância, em que vendia chocolates e picolés em Riachão do Jacuípe, no nordeste baiano. "Eu batalhei, eu sofri, mas foi com fé em Deus que cheguei até aqui", vibrava o pugilista, descoberto por Dórea aos 15 anos nas ruas. REMÉDIO A relação dos atletas com o treinador chama a atenção pela intensidade. Dórea chegou a gastar do seu bolso para comprar remédio a Pedro, no início da carreira do campeão. Foi na academia do técnico, em Salvador, que quatro pugilistas fizeram, por 42 dias, a preparação para o Pan: Pedro, Rogério Minoutoro, Éverton Lopes e Paulo Carvalho. O restante da equipe treinou em Santo André, no Grande ABC. "Todos eles são muito humildes e fazem parte da minha família", disse o treinador. PROFISSIONALISMO O bom desempenho no Pan pode até atrair os brasileiros para o profissionalismo, mas, no que depender de Dórea, esse passo só será dado após 2008. "Nosso objetivo é Pequim", avisa. A única medalha olímpica do País foi a de bronze conquistada por Servílio de Oliveira no longínquo 1968, na Cidade do México. O boxe brasileiro deixa o Pan do Rio com o quádruplo de medalhas que ganhou em Santo Domingo, há quatro anos. Foram oito no total: seis de bronze (Myke Carvalho, James Dean Pereira, Glaucélio Abreu, Davi Souza, Rogério Minotouro e Rafael Lima), além da prata e do bronze de ontem. "A qualidade nós sempre tivemos, faltava investimento", afirma um dos outros três técnicos da seleção, Ulisses Pereira, que credita à Lei Agnelo-Piva o começo da recuperação do esporte. Antes de disputar a Olimpíada de Pequim ano que vem, os lutadores deverão participar do Mundial de Chicago, em outubro.

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