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Aposta leva João Gabriel Souza ao seu primeiro Mundial

Saltador do Pinheiros pensava na aposentadoria, mas atingiu meta proposta por técnico e fará sua estreia em Moscou

Por AMANDA ROMANELLI
Atualização:

SÃO PAULO - João Gabriel Souza achava que a temporada de 2013 seria a última como atleta. O saltador do Clube Pinheiros, de 28 anos, pensou em deixar o esporte de vez. "Eu não conseguia me destacar, vi outros caras mais novos aparecendo", conta. "E eu poderia ser um cara de (saltar) 5,40 m". Foi quando veio uma aposta de seu técnico, Henrique Martins. "Ele me disse que, se eu saltasse 5,50 m, eu não pararia". E João, que chegou aos 5,61 m em junho, vai para Moscou disputar seu primeiro Mundial.

 

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O saltador, que até 2009 treinava com Elson Miranda e fazia parte da equipe BM&F Bovespa, passou por momentos turbulentos. Em junho daquele ano, durante a disputa do Sul-Americano de Lima, o exame antidoping realizado no Peru acusou a presença de boldenona, um esteroide anabolizante. João ficou suspenso por dois anos, mas nega o uso de qualquer substância proibida. Em sua defesa, afirmou que a carne consumida no torneio poderia estar contaminada, mas sua justificativa não foi aceita.

 

Em 2011, antes mesmo do fim da punição, o atleta começou a sentir saudades da pista. "Eu fiquei triste com a suspensão, claro, e fui atrás de me manter, trabalhar, porque já estava formado em Educação Física. Descobri que existe vida fora da pista. Mas começou a me dar vontade de voltar, não para a dinâmica dos treinamentos, mas para as provas. Porque saltar, voar, é muito gostoso."

 

Por conta própria - já que se estava suspenso e sem clube -, João voltou aos treinos. Sofreu para montar a planilha, encontrar a maneira de treinar, já que sua formação não era voltada ao alto rendimento. Mesmo assim, trabalhou sozinho por quase sete meses. Até Henrique Martins, ex-colegas de treinos e agora técnico, voltou de um período nos EUA, onde fez seu mestrado. Assumiu a preparação de João, que foi contratado pelo clube Pinheiros em 2012.

 

O desafio proposto por Martins não demorou muito para dar resultado. Já em fevereiro, em uma série de competições em pista coberta realizadas no ginásio da BM&F Bovespa em São Caetano do Sul, João ultrapassou a meta proposta pelo técnico: fez 5,51 m. A alegria pela marca, porém, veio seguida de uma lesão nas costas, que o tirou dos treinos por um mês e meio. A preparação para o Troféu Brasil, onde tentaria o índice de 5,60 m para o Mundial, ficou prejudicada.

 

No torneio disputado no começo de junho, parou nos 5,40 m. Um mês depois, em uma competição improvisada pela Federação Paulista de Atletismo, João teve mais uma chance para buscar o índice. Foi quando, na pista do Ibirapuera, alcançou 5,61 m.

 

Com a lesão e a pressão por resultados - a vaga só foi confirmada no Sul-Americano de Cartagena, em meados de julho, após a vitória de Thiago Braz na competição -, João diz que o Mundial será a parte menos complicada da temporada. "O processo de garantir a vaga teve muito mais peso do que o Mundial em si. Saltar em Moscou é motivação pura, e eu sei que tenho que melhorar, saltar pelo menos 5,70 m para conseguir ir à final."

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Graças à aposta vencida, João deixou para trás a ideia de se aposentar. Seu clube investiu na compra de equipamentos, como colchões, postes e varas, e agora o saltador poderá treinar na pista que fica no Pinheiros - antes, trabalhava no Centro Olímpico, que é da Prefeitura, ou no Núcleo de Alto Rendimento do Grupo Pão de Açúcar.

 

"Fica o sentimento de gratidão a quem me apoiou, porque sem eles não seria possível", diz o atleta. "O resultado desse ano me garantiu mais três", brinca. "Vou até 2016. Tenho varas, colchão, credibilidade. Treino com o cara que eu gosto de treinar, no clube que me apóia. É um grande momento para mim."

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