PUBLICIDADE

Apostar no futuro? Só cartomante

Boleiros

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Fazer planos para o futuro é uma coisa complicada. O fato é que esses planos respondem a um desejo do ser humano de que o futuro reproduza um eterno presente, que, se não é muito bom, pelo menos é conhecido. Que depois as coisas corram exatamente como não foi previsto, pouco importa. É o caso desses planos para a Copa de 2014, no Brasil. Parece que vai ser daqui a uma semana. Todos se agitam, haverá festa enorme, onde será anunciado o nome do país sede, etc, etc. O curioso é que no fundo nós, brasileiros, acreditamos muito pouco em planejamentos, isto é, acreditamos muito pouco no futuro. Parece haver enterrada na nossa alma a convicção, mesmo que não confessada, de que as coisas inevitavelmente vão dar errado em algum momento. Portanto é necessário tirar do presente tudo o que oferece. A delegação brasileira que vai acompanhar a cerimônia da Fifa é um exemplo. Segundo a CBF, a delegação incluiria modestamente quatro integrantes: o assessor de imprensa Paiva, o treinador de plantão, Dunga, o professor Romário e, por último, mas não por derradeiro, Ricardo Teixeira. Se a CBF anuncia essa discreta delegação, a Fifa anuncia outra coisa. Esperava 40 pessoas na delegação brasileira, mas, dados os indícios, já se prepara para providenciar cadeiras extras. De fato notícias de jornais dizem que políticos de todos os partidos, naturalmente seguidos de seus séquitos habituais, se preparam para embarcar rumo à cerimônia. É uma coisa incrível! Ainda não estamos sequer na fase do dinheiro que vai correr, ainda não iniciamos a etapa dos negócios subterrâneos, do jogo de influência, das vantagens realmente importantes. Que quer dizer tanta gente querendo ir à cerimônia da Fifa? Não é só vigem de alguns dias à Suíça? Talvez não para nós, brasileiros. Uma voz interior está sempre a nos dizer: não perca essa chance, é apenas uma viagenzinha, mas aproveite, isso pode não se repetir, pode ser que a gente sequer organize a Copa, 2014 está longe, talvez nem haja a Copa, vá! Pouco importa que a Fifa considerou nossas cidades seguras para a realização da Copa, que o mesmo relatório considerou a rede hospitalar de nossa principais cidades adequada, aprovou a situação de nosso transporte público e acreditou que as reformas e construções de estádios serão feitos numa parceria envolvendo dinheiro público e também privado. Pouco importa esse relatório. Porque nós, que vivemos aqui, sabemos a verdade. Desse ponto de vista alguns dias na Suíça com todas as despesas pagas é algo não desprezível. Porque é imediato, acontece agora, e não nos anos que virão. Quem sabe o que virá? Afinal sete anos são sete anos. Sete anos atrás Bin Laden não tinha dado inteiramente o ar de sua graça, não existia a questão do Iraque, a Rússia não estava se armando de novo, a Turquia estava perto da União Européia e havia invernos como sempre. Isso para falar apenas do lado de lá. No nosso modesto continente também acontecem coisas politicamente inesperadas e climaticamente desagradáveis. E, além disso há, claro, a brevidade da vida. Quem garante presença em 2014? É melhor, portanto, ir pra Suíça agora. Pode ser uma viagenzinha de nada, mas já é um começo, certo? Vamos passo a passo, devagar e sempre, agarrando o que o instante oferece. Só cartomantes acreditam no futuro.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.