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Argentina vai em busca de equilíbrio

Para acabar com jejum de 21 anos, técnico quer que defesa e ataque tenham mesmo nível e faz mistério na escalação

Foto do author Gonçalo Junior
Por Gonçalo Junior e RIO DE JANEIRO
Atualização:

A Argentina estreia hoje contra a Bósnia-Herzegovina, no Maracanã, com um time fora do prumo: um ataque poderoso, autointitulado "Quarteto Fantástico" (Higuaín, Messi, Agüero e Di María), mas com uma defesa mediana e criticada dentro do próprio país. "Não temos um Messi zagueiro", resumiu Demichelis. A busca desse equilíbrio é o grande desafio para o técnico Alejandro Sabella encerrar um jejum de 21 anos sem título - a última conquista foi a Copa América de 1993. É o maior jejum de títulos da história. Entre os campeões do mundo, só é superado pela Inglaterra, que não ganha nada desde 1966. Preocupado com o tamanho da empreitada, Sabella faz mistério sobre a escalação. "Temos algumas dúvidas físicas e táticas. Precisamos avaliar quem suporta os 90 minutos. Além disso, é preciso esconder algo também", afirmou o treinador em uma concorrida entrevista coletiva no Maracanã. O mistério vem desde o início da semana. Sexta-feira, em um treino secreto no Centro de Treinamento do Galo, ensaiou uma formação com três zagueiros, tirando um dos avantes para escalar um defensor. Saiu Lavezzi, que disputa posição no ataque com Higuaín, ainda sem ritmo por causa de uma contusão no tornozelo esquerdo, e entrou o defensor Campagnaro. "Ter mais atacantes não significa ser mais ofensivo. Isso é relativo. Mais importante é a qualidade dos jogadores e ocupar bem os espaços", disse Sabella. O leve treino de ontem, de reconhecimento do Maracanã, não ajudou a resolver o mistério. Além dos exercícios físicos, jogadores e comissão técnica mostraram admiração pelo estádio. Até Messi tirou fotos. "Com muita gana de jogar no grande Maracanã pela primeira vez na minha vida e por começar bem o Mundial. Vamos com tudo", escreveu o craque ontem em sua conta no Facebook.Testes. A formação com três zagueiros não é totalmente nova. Foi utilizada em alguns jogos das eliminatórias sul-americanas e também no segundo tempo do amistoso com a Eslovênia, vencido por 2 a 0. Mesmo tendo sido testada, a formação mais defensiva é uma alternativa de Sabella para minimizar os espaços da Bósnia, que vai optar pelo contra-ataque. Mais ou menos o que fez a Croácia contra o Brasil no jogo de abertura da Copa. "A Bósnia é uma equipe técnica, com jogadores habilidosos, como Pjanic, e também muito altos", alertou Sabella. O foco defensivo é o perigoso atacante bósnio Edin Dzeko, que joga no Manchester City. O zagueiro Fernández afirmou que o time vem trabalhando para que o rival tenha pouca (ou nenhuma) chance de dominar a bola perto da área ou aproveitar o jogo aéreo, um trunfo da equipe de Safet Sucic. "Dzeko é um jogador fisicamente poderoso e que não deverá ter espaço. Precisamos tomar cuidado com os cruzamentos", afirmou. Ferrolho. No ataque, o apelido grandiloquente fala por si. Messi foi quatro vezes o melhor do mundo - os argentinos ainda se referem a ele dessa forma, ignorando o atual detentor do título, Cristiano Ronaldo; Higuaín foi artilheiro do Campeonato Italiano; e Di María, protagonista na conquista da Copa dos Campeões com o Real Madrid. Só Agüero teve uma temporada difícil, por causa das contusões. Sabella não vai desperdiçar esse potencial, mesmo que Higuaín não esteja em forma. Deve escalar os quatro. Se conseguir fazer um ou dois gols aí, sim, vai armar o ferrolho. "Temos de facilitar as coisas e criar um ambiente favorável para ele (Messi)", afirmou o treinador. A defesa preocupa somente quando é comparada com esse ataque fantástico. Nas Eliminatórias, a Argentina sofreu 15 gols em 16 jogos. Em apenas quatro partidas saiu de campo sem conceder gols. Já nos amistosos, o desempenho melhorou. Nos últimos cinco, o time não sofreu gols. "O time é um só. A defesa começa lá na frente, com o trabalho dos atacantes. E os defensores começam atacando, com uma boa saída de bola", afirma Garay.Colocar esse discurso em prática é a chave para a Argentina ir longe na Copa e sonhar com o fim do jejum. E o desafio de Sabella, que também quer entrar para a história. Tudo começa hoje no Maracanã.

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