As falsas estrelas e suas faltas

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Por Ugo Giorgetti
Atualização:

Um dos problemas do êxodo do futebol brasileiro em direção a várias partes do mundo é transformar em indevidas estrelas muitos jogadores que, por alguma razão, ainda jogam aqui. A maioria dessas "estrelas", em situação normal, não passaria de atores coadjuvantes. Nada contra coadjuvantes. Ao contrário, são grandes profissionais e sustentam muitos filmes. Mas é importante dar às coisas os nomes que têm. De qualquer maneira, a proliferação de falsas estrelas no futebol é irritante e freqüentemente passa dos limites, principalmente pelo fato de que esses personagens tendem a perder completamente a noção do que valem, e do que são. Tomam atitudes de verdadeiros craques, quando não são. Ou, por outra, revelam que não são verdadeiros craques também por causa das atitudes. E o pior é que essas manifestações, esses rompantes de prima donna, são ignorados, quando não acobertadas pela diretoria de vários clubes. Tomemos, por exemplo, o caso da gloriosa Sociedade Esportiva Palmeiras, porque seus casos são francamente acintosos. Sei que é difícil entender de futebol, e revelo publicamente minhas limitações, o que talvez justifique porque não compreendo como jogadores de ataque recebem um número infinitamente maior de cartões, amarelos e vermelhos, do que os da defesa. Sempre pensei que zagueiros e defensores receberiam, por exigências da posição, mais cartões e advertências. Não no Palmeiras. Pior, são sempre os mesmos jogadores a reincidir nas mesmas atitudes, distribuindo cotoveladas e pontapés, reclamando ridiculamente dos juízes, repetindo atos que parecem naturais, até porque não há nenhuma reação visível do clube. Kleber, Valdivia e também Diego Souza perdem jogos e jogos por causa de expulsões e cartões amarelos, contaminando até mesmo o modesto Martinez e o reserva Denilson. Todos reclamam histericamente, com chiliques de autênticos rock stars. Isso vem desde o Campeonato Paulista e nada, nada acontece. O clube simplesmente ignora, pelo menos publicamente, porque o treinador acaba de declarar que o assunto é interno, portanto, não da conta dos simples torcedores. É sintomático também que seja unicamente o treinador a tomar a dianteira das explicações em nome do clube. Em qualquer empresa faltas, repetidamente cometidas e que prejudicam os resultados do trabalho, são punidas rigorosa e implacavelmente. É verdade, sem dúvida, que o conceito de disciplina e punição de um modo geral é muito elástico e flexível no Brasil. É só abrir os jornais. Mas, contraditoriamente, o que essas "estrelas" almejam não é ficar por aqui, mas sim jogar na Europa, onde não permaneceriam nem por um mês, fazendo o que fazem no Brasil. Da maneira irresponsável como agem, Valdivia e companhia têm diante de si um grande futuro, no Brasil. Pior para nós, que teremos nossos nervos constantemente postos à prova vendo atitudes infantis, ridículas, aliás perfeitamente compatíveis com a qualidade do futebol que muitas vezes essas figuras apresentam. Falsos craques, apenas sombras num deserto que já foi um dia ocupado por verdadeiros talentos, e por dirigentes com mais firmeza e noção de disciplina. Em tempo, hoje o Palmeiras enfrenta o Grêmio em Porto Alegre, num jogo decisivo para suas pretensões. Valdivia, como de hábito, não joga. Tomou o terceiro amarelo contra o Santos.

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