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Aurélio Miguel: ´Ganhamos tudo no Pan de Indianápolis´

Judoca lembra com alegria dos Jogos de Indianápolis, em que seu esporte trouxe 5 ouros: ?Foi fantástico?

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Por Agencia Estado
Atualização:

Foram duas as medalhas que ganhei em Pan-Americanos, a de prata, nos Jogos de Caracas, em 1983, e a de ouro, em Indianápolis, em 1987. Atualmente, não tenho tido tempo para lutar judô, para fazer mais nada por causa da atividade na Câmara. E confesso que sinto falta. Os dois Pans dos quais participei são inesquecíveis. Em Caracas porque foi a estréia, minha primeira competição poliesportiva representando o Brasil. É muito bom conviver com todos os atletas das diversas modalidades. O Pan, a principal competição continental, é a festa das Américas. Sempre alimentava aquele sonho de representar o Brasil numa grande competição. Mesmo que eu já tivesse disputado Pan-Americanos de Judô, Mundial e Copa do Mundo, os Jogos são diferentes. A própria cobertura de imprensa é diferente. Tem grande repercussão, é muito gostoso esse congraçamento entre as diversas modalidades. Me recordo de que a vila pan-americana de Caracas ficava a 40 minutos de ônibus, numa auto-estrada, serra abaixo. A vila não estava totalmente concluída. Quando chegamos, tivemos de fazer uma faxina grande, cada atleta teve de fazer sua própria limpeza. Lembro de que as camas eram ruins, improvisamos dois colchões no chão - pior para o pessoal do basquete, com aqueles atletas grandões... Eles estavam no mesmo andar da equipe de judô. O Brasil tinha grande chance na modalidade, mas infelizmente fizemos seis finais com a equipe masculina e perdemos as seis, incluindo a minha. Apesar de termos feito uma boa apresentação indo às finais, não ganhamos nenhuma medalha de ouro e isso marcou bastante o grupo. Deixamos o Pan aborrecidos. Poderiam ter sido seis de ouro, mas foram seis medalhas de prata. Foi um momento triste para nós. Também o que marcou a final de Caracas foi o desempenho da seleção de futebol, com o Dunga e o Neto na equipe, que acabou perdendo a final para o Uruguai. Também o futebol ficou com a medalha de prata. Mas o Ricardo Prado foi ouro na natação e o Agberto Guimarães no atletismo. Em Indianápolis foi diferente. Ganhamos cinco medalhas de ouro com o judô. Tive a felicidade de conquistar o ouro lá. E também o Pessoa (Sérgio), o Cagianno (Rinaldo) e as duas meninas, Soraia André e Mônica Angelucci, que ganharam medalhas inéditas para o judô em Pan. As mulheres nunca haviam conquistado medalhas no judô. Fizemos outras finais e ganhamos várias outras medalhas. Para nós foi fantástico. Lembro também de que ficamos no Forte Harrison, residência militar, com uma área grande de bosque. Eu me lembro, como curiosidade, de que saímos para correr bem cedinho - tínhamos um problema de excesso de peso - pelo bosque e nos perdemos. Os 50 minutos, uma hora, que tínhamos de fazer de corrida, viraram duas horas porque não achávamos o caminho de volta. Chegamos andando, mas isso nos ajudou a perder peso. Fiz três ou quatro lutas naquela disputa. Me lembro bem do americano Lee White, que estava em casa, meu adversário na semifinal. E também da final contra o canadense Joe Meli. E venci bem os dois. Acho que o imobilizei, mas não me lembro direito. Devo ter fita porque tinha uma filmadora e desde 1982 filmava minhas lutas, para estudar. Estou passando tudo para CD, vou poder ver com calma. Do pódio, minha memória é de ter a sensação do dever cumprido. Em 1987, eu estava voltando de cirurgia por causa de lesão no ombro direito. Uma coisa que ficou muito marcada naqueles Jogos foi a conquista do basquete masculino do Brasil sobre a seleção norte-americana. Nos anos 80, não havia patrocínio, era grande a dificuldade para os atletas. Um ano após o Pan de Caracas fui cortado dos Jogos Olímpicos (1984, em Los Angeles) pelos dirigentes. Tive problemas sérios por discordar dos dirigentes. Meu sonho de bater recordes de conquistas foi por água abaixo por causa dessas divergências. Não fui aos Jogos Pan-Americanos de Havana (1991) - estávamos afastados -, não fui a Mar del Plata (1995) e a Winnipeg (1999), por causa de problemas políticos. Isso atrapalhou bastante minha carreira e a de diversos atletas. Nessa história (os judocas brasileiros brigaram por anos contra a dinastia Mamede no comando do esporte), todos foram perdedores. Mas o judô do Brasil tem grande tradição, dificilmente fica fora do pódio numa competição internacional importante. Acredito numa boa apresentação do Brasil em casa, no Pan do Rio. Os atletas acabarão superando dificuldades que porventura encontrarem. Eu espero que seja a melhor apresentação do judô em Jogos Pan-Americanos porque temos uma excelente equipe. Sempre digo que a equipe atual é a melhor de todos os tempos. Hoje, há um grupo seleto de atletas com grande chance de trazer medalhas de ouro. Eu vou estar lá, como comentarista de TV, e sei que será um colírio para os meus olhos ver o judô no Pan do Rio. (Em depoimento a Heleni Felippe)

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