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Barcos e raia do Pan: legado zero

Equipamentos para o remo, que custaram R$ 1,28 mi, estão sem uso

Por Silvio Barsetti , Bruno Lousada e RIO
Atualização:

No discurso, o legado do Pan-Americano de 2007 é pomposo, tem frases de efeito e eloquência. Na prática, dispensa retóricas e se desnuda em fatos que põem em xeque sua credibilidade. O último exemplo de desleixo pós-Pan vem do remo e mostra como R$ 1,28 milhão foi parar no lixo. Para a competição de dois anos atrás, cinco catamarãs e duas lanchas foram construídos. Custaram aos cofres públicos R$ 380 mil. Hoje, estão abandonados. Cinco desses barcos ficaram meses ao relento num hangar da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dois permanecem como figurantes à margem da Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul. "Os barcos estão sem condições de uso e não temos autorização para ajeitá-los. Esse é o legado do Pan? Fico revoltado com isso", protesta o presidente da Federação de Remo do Rio, Alessandro Zelesco. O descaso no remo não para por aí. Para caracterizar o alto grau de profissionalismo do Pan, uma raia eletrônica foi comprada (por cerca de R$ 900 mil) da Hungria. Seria a grande novidade nas competições na Rodrigo de Freitas. No entanto, por causa de um defeito nos partidores eletrônicos - estrutura que segura os barcos na largada da regata - está recolhida desde o fim de 2007 num contêiner do Estádio de Remo da Lagoa. Seus cabos de aço produzem ferrugem e estão com os dias contados. A diretoria afastada da Confederação Brasileira de Remo (CBR), agora sob intervenção da Justiça, chegou a emitir nota para esclarecer o problema dos barcos. No documento, explica que catamarãs e lanchas foram recolhidos para reparos por que apresentavam "alguns problemas de estrutura e navegação". Não fala sobre a raia. "Os barcos que estão sem utilidade têm casco antimarola e são importantes não só para as regatas como para os treinos das equipes", afirma Wilson Reeberg, candidato de oposição à presidência da CBR - o pleito realizado em 21 de março foi anulado pela Justiça e nova eleição deve ocorrer até julho. De acordo com o coordenador do Polo Náutico da UFRJ, Fernando Amorim, um dos responsáveis pela construção dos barcos, não havia nenhum reparo a ser feito quando as embarcações deixaram de ser utilizadas. "Depois do Pan, a Confederação Brasileira de Remo nos pediu que guardássemos os barcos e eles nunca mais apareceram para pegá-los", disse. O dinheiro investido nos barcos e na raia veio do governo do Estado. Também custeou os atracadores flutuantes (com mais R$ 460 mil) localizados no Estádio de Remo da Lagoa. "Estamos diante de uma negligência da CBR, que não sabe o que fazer com esses barcos", prosseguiu o coordenador da UFRJ. Outros problemas atormentam quem acreditava ver os equipamentos do remo no período do Pan à disposição de atletas, clubes e de federações. Alguns deles chegaram a ser propalados como exemplos de legado e nem sequer saíram do papel, como a cabine de largada e uma nova torre de arbitragem. A raia, conhecida como albano, supera, contudo, todo o descaso possível com os aparelhos e instalações do remo na Lagoa. Simplesmente não funcionou quando chegou da Hungria. Partidores eletrônicos com defeito tiveram de ser substituídos por outros que vieram do Paraná em caráter de emergência. Após o Pan, houve a devolução para a federação paranaense e o conjunto da moderna raia deixou de ser aproveitado. Na fase de instalação da raia, 16 poitas enormes - estruturas de concreto de 300 quilos cada para servir de base às boias - foram colocadas na lagoa. Quando os cabos de aço tiveram de ser retirados, não se demarcou o lugar das poitas e isso ocasionou mais uma frustração para a comunidade carioca de remo. Atletas e clubes pretendiam servir-se das poitas, deixando de lado os galões com britas que delimitavam as boias. Mas nem mesmo a contratação de um homem-rã foi suficiente para que as grandes estruturas de concreto pudessem ser encontradas. As poitas tiveram um destino parecido com o do dinheiro público aplicado no remo: afundaram no lodo da lagoa. O QUE ELES DISSERAM Alessandro Zelesco Federação de Remo "Os barcos estão sem condições de uso e não temos autorização para ajeitá-los. Esse é o legado do Pan? Fico revoltado com isso" Fernando Amorim Polo Náutico da UFRJ "Depois do Pan, a CBR nos pediu que guardássemos os barcos e eles nunca mais apareceram para pegá-los"

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