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Beisebol brasileiro ganha respeito

Por Agencia Estado
Atualização:

O beisebol brasileiro saiu do anonimato. A afirmação parece pretensiosa, mas é dita com autoridade pelo principal jogador do País. Kleber Ojima, de 26 anos, foi eleito pela Federação Internacional de Beisebol como o melhor pitcher (arremessador) no Mundial de Cuba, em outubro, quando o Brasil fez campanha histórica, surpreendeu as potências do esporte - quase venceu os donos da casa - e terminou num honroso sétimo lugar. Hoje, no Pré-Olímpico do Panamá, se prepara para enfrentar novamente os cubanos. Mesmo antes do Mundial, o talento de Kleber já havia se revelado no exterior - defendeu o Mitsubishi Horishima, na Liga semiprofissional do Japão. "Foi por apenas um mês, mas aprendi muito, pois tive contato com a língua e a cultura daquele país." A exemplo de outros atletas, a paixão pelo esporte começou em casa. O pai, Mário Ojima, e o tio, Paulo Ojima, jogaram beisebol nos anos 50 e 60 - Paulo chegou a defender a seleção. Hoje, acompanhado pelo irmão Thiago, Kleber tenta honrar a tradição familiar. "Batalhamos para isso." Seus primeiros arremessos foram dados aos 7 anos, pela extinta equipe do Tozan, de Campinas, onde nasceu. Aos 16 anos, foi para o Mogi das Cruzes, pelo qual chegou à seleção. "Minha família está em Campinas, mas tenho ligação afetiva com Mogi, pois vários amigos moram lá." O primeiro resultado expressivo foi o quinto lugar no Pan-Americano de São Domingos, quando o Brasil só perdeu dos medalhistas (Cuba, Estados Unidos e México) e obteve três vitórias. O bom desempenho valeu a Kleber o convite para jogar no Japão. Desligou-se do emprego num restaurante de São Paulo e da pós-graduação em administração para tentar a sorte no Oriente. "Atuei bem, recebi elogios da torcida e da imprensa local", contou. "Deixei boa impressão, tanto que poderei voltar à equipe em 2004." Surpresa - Mesmo com a boa campanha no Pan, o Brasil entrou no Mundial como zebra. E o início não foi bom, com derrotas para Panamá (11 a 6) e Estados Unidos (7 a 1). A recuperação veio com vitórias consecutivas sobre México (5 a 3), Japão (8 a 2), França (7 a 4) e China (4 a 0). "Foi uma verdadeira façanha, pois ninguém dizia que chegaríamos à segunda fase", disse Kleber, que fez a melhor exibição na vitória por 2 a 1 diante da Holanda, nas oitavas-de-final. "Ganhamos o respeito dos rivais." Nas quartas-de-final, o adversário foi a fortíssima seleção de Cuba. "Nossa atuação surpreendeu muita gente", lembra Kleber. Com seus arremessos precisos, o Brasil esteve por duas vezes em vantagem, deixando boquiaberta a torcida local. Só perdeu o jogo na última entrada. Depois da partida, Kleber saiu de campo chorando, amparado pelos companheiros. "É difícil explicar o que senti, sabíamos que poderíamos ter vencido." Na premiação do Mundial, a recompensa: Kleber recebeu os troféus de pitcher com melhor média de partidas ganhas e perdidas e de melhor arremessador destro do torneio. "Agora, os rivais sabem que terão de lutar muito para nos vencer." Projeção - Graças à influência dos EUA, país onde nasceu o beisebol, é nas Américas que estão as melhores seleções, como Cuba, atual octocampeã mundial, Panamá, Nicarágua, Canadá e México. Por isso, Kleber critica a disputa do Pré-Olímpico. "Há muitas equipes boas no continente e só duas se classificam para Atenas. A Europa, sem tradição, também terá duas vagas. É injusto." No Brasil, o beisebol ainda não é um esporte de massa, mas Kleber entende que não há receita mágica capaz de impulsioná-lo. "Precisamos de títulos. Se ganharmos, a mídia dará mais espaço ao beisebol e o esporte ganhará força." Líder - Pela posição em que joga, Kleber adquiriu espírito de liderança incomum. O pitcher é uma espécie de camisa 10 do futebol, pois comanda todas as jogadas. "Ele é o maestro do time. Precisa dificultar o trabalho do rebatedor e disso se originam as outras ações." Curiosamente, seu estilo foi moldado pelo treinador cubano Omar Carrero. Contra Cuba, mostrou o que aprendeu e quase eliminou a favorita do Mundial: a bola mais baixa, "sem peso", atrapalhou os rebatedores rivais. "A variação de jogadas é fundamental, foi o que procurei fazer." Após o Pré-Olímpico, Kleber quer aproveitar o fim de ano com a família. Só decidirá o futuro profissional em janeiro, mas revela o objetivo. "Atuar no Mitsubishi é a chance de chegar à Liga Profissional do Japão."

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