Bernardinho considera normais vaias na estréia do vôlei

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Por MARIO ANDRADA E SILVA
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O técnico Bernardo Rezende acha que a unanimidade é burra e por isso considerou normais e até saudáveis as vaias que recebeu quando foi apresentado antes do jogo de estréia da seleção masculina de vôlei, contra o Canadá, nos Jogos Pan-Americanos. "Passei mais tempo da minha vida no vôlei sob vaias do que sob aplausos. Quando eu era jogador e entrava na quadra a torcida me vaiava porque queria ver o William jogar. Quando virei técnico, joguei a maior parte das vezes no exterior e portanto era vaiado pelas torcidas locais", disse o treinador na entrevista coletiva, uma conversa onde a tensão era latente. "Não vejo problema. Até prefiro que acabe esta unanimidade em torno da seleção. Nos traz mais ao que é real". Bernardinho falou ao lado de Giba, novo capitão e melhor amigo do antigo líder Ricardinho, cortado da equipe às vésperas da estréia da equipe. O técnico e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram vaiados no Pan. O protesto da torcida atingiu pela primeira vez dois ícones da preferência nacional e, enquanto o presidente Lula dá sinais evidentes de ter sentido o peso das vaias, o técnico as acha saudáveis. O filho Bruno Rezende foi ainda mais vaiado do que o pai quando entrou em quadra. "Acho bom que ele tenha passado por isso. As vaias fazem parte da vida de um esportista. Quanto ao fato de eu ter escolhido o Bruno para substituir o Ricardinho não aceito nenhum tipo de provocação. Não sou tão burro assim. Ele foi escolhido numa sequência natural, ele é o terceiro levantador do país e por isso foi chamado", disse Bernardinho. Quando a conversa com os jornalistas caiu no tema Ricardinho, o técnico brasileiro não deixou de ser ríspido uma única vez. Um repórter citou que o técnico da equipe americana tinha comentado o caso. "Ele tem que pensar na equipe dele. Eu cuido da minha. Ele fala demais", respondeu. Para todos os que buscaram saber os reais motivos do corte de Ricardinho, a resposta era a mesma. "Já me pronunciei. O que eu tinha que dizer sobre o caso eu disse a ele. Não vou bater boca com ele através da imprensa", disse, citando que seu trabalho como comandante da equipe é tomar decisões difíceis e fazer o que acha correto, incomodando pessoas ou não. Giba recebeu a mesma pergunta e respondeu talvez com mais diplomacia, mas sem abrir a porta do grupo para estranhos. "O que aconteceu com o Ricardo é uma coisa de família. Discutimos e resolvemos isso em família", disse ele. Giba foi perguntado se o corte de Ricardinho poderia estar relacionado com uma discussão sobre prêmios pelas conquistas. Bernardinho não conteve a sua irritação com a pergunta. "A gente sempre conversou sobre prêmios com quem de direito que é o Ary (Graça, presidente da Confederação Brasileira de Vôlei). Isso acontece no início do ano e envolve todos os campeonatos que a gente participa. Tem sido assim nos últimos sete anos e este ano não foi diferente", disse. Claro que Bernardinho não iria ficar sofrendo um ataque da mídia sem reagir no final. O contra-ataque do treinador veio na última bola do jogo, uma última pergunta sobre as vaias que ele recebeu. "Foi bom. Não somos mais unanimidade. Vamos achar o nosso lugar no mundo real. A coisa sempre fica em níveis extremos. Ou são heróis imbatíveis, ou time em depressão. Ou são isso ou são aquilo então é melhor simplesmente um "não leiam", disse Bernardinho, sugerindo ao público o que fazer com as notícias da imprensa. A frase saiu tão contundente que o gerente de imprensa do Maracanãzinho aproveitou a deixa e mandou na hora um "Obrigado pela entrevista", encerrando.

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