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Brasileiro vai da areia da praia para o sonho americano no beisebol

Aos 16 anos, o brasileiro Eric Pardinho vive a expectativa de ser chamado para jogar na liga profissional dos EUA

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Por Rafael Pezzo
Atualização:

Com espinhas no rosto e alguns poucos fios no bigode, característicos da adolescência, Eric Pardinho chega um pouco envergonhado. Liberado do treino por um resfriado, o garoto de 16 anos estava descansando quando a equipe do Estado chegou ao CT Yakult, em Ibiúna, no interior de São Paulo, para falar com a principal promessa do beisebol brasileiro.

O garoto acanhado ganhou fama internacional no último mês de setembro, durante sua primeira convocação à seleção brasileira principal. Na etapa classificatória para o Clássico Mundial de Beisebol, a Copa do Mundo do esporte, em Nova York, Pardinho lançou a bolinha perto das 95 mph (152 km/h), velocidade alcançada por boa parte dos jogadores da Major League Baseball (MLB), mais importante liga da modalidade no mundo.

  Foto: ESTADAO CONTEUDO

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“Consigo lançar a mais de 90 mph (144 km/h) desde o ano retrasado”, conta o garoto de forma humilde, mas que se mantém ambicioso. “Acho que posso melhorar. Minha meta mesmo é chegar nas 97 mph, 98 mph (156 km/h, 157 km/h).”

O feito do adolescente, então com 15 anos, foi assunto nos principais veículos de imprensa esportiva dos Estados Unidos. “Foi algo impensável, um menino de 15 anos chegando na seleção principal”, conta Pardinho, que ri ao ser perguntado se imaginava que seria famoso tão jovem: “Do nada o negócio estourou.”

Não apenas os jornalistas estrangeiros se abismaram com o potencial do menino. Cerca de cinco clubes da MLB já demonstraram interesse em contratá-lo a partir do dia 2 de julho, data da abertura da janela de contratações internacionais da liga. “Eles não falam diretamente comigo. Chegam aos meus pais e avisam que estão de olho em mim. Não chegam a falar de propostas financeiras.”

O garoto ainda não se preocupa com isso: “Não tenho preferência por nenhum clube ou cidade. O que eu quero é jogar.”

Pardinho foi apresentado ao beisebol pelo tio, durante um passeio na praia, aos seis anos. “Estava brincando e ele disse que eu levava jeito para o esporte. Não deu uma semana, meu pai me levou para fazer um teste e fiquei por lá.”

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Aos oito, ele finalmente foi colocado como arremessador, e aos dez, foi convocado pela primeira vez à seleção de base, para o Campeonato Pan-Americano, na Nicarágua, em 2011. Dois anos e duas convocações depois, onde foi o principal do jogador da equipe, Eric foi convidado para treinar em Ibiúna, melhor centro de treinamento da modalidade no País. “Depois que entrei no CT, decidi levar o beisebol para a minha vida.”

Pardinho divide o alojamento do centro de treinamento com outros 31 jovens, que possuem rotina de atividades diárias. “Vou à escola de manhã e treino à tarde de segunda à quinta. De sábado e domingo, treino e jogo no meu time, em Arujá.”

“Antes, eu não treinava assim, então grande parte do meu tempo era de sossego. Minha cidade (Bastos) é pequena, não fazia quase nada. E aqui, como é correr e treinar todos os dias, às vezes dá uma canseira”, explica o menino, entre mais risadas.

Esse jeito tranquilo e relaxado foram colocados à prova em setembro, quando desembarcou em Nova York para o maior desafio da sua vida. O técnico da seleção, Barry Larkin, ex-jogador da MLB e membro do Hall da Fama, e o treinador de arremessadores LaTroy Hawkings, outro ex-MLB, quiseram ter certeza que o garoto ficaria bem sob pressão.

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“Sempre me davam muita atenção. Como eu era muito novo, eles se esforçavam para que eu não ficasse nervoso, me diziam para fazer o que eu sabia.”

Seu talento e a fama que ganhou nos Estados Unidos após sua apresentação em setembro deixam o garoto muito confiante que será contratado em julho. Tanto é, que não hesitou em saber dos colegas de seleção que jogam por lá como funcionam as coisas. “Já fiz várias perguntas. Quis saber como funcionavam os programas, como é a vida por lá. Isso varia muito de acordo com o time que você vai.”

Dependo da franquia, ele pode tanto mudar de país logo depois do acerto, como apenas no início do próximo ano, para realizar a pré-temporada com o novo time.

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Se em menos de dez anos ele passou de uma criança que brincava na praia a um fenômeno do esporte, não será uma mudança de país que tirará o sossego do garoto. “Já pensei sobre isso. Para mim, será uma coisa nova. Como quando eu vim pra cá (Ibiúna). Era novo, saí da minha casa e cheguei aqui. Então, vai ser algo novo, de novo. Um passo já foi, agora será outro.”

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