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Cabo Verde só apanha, mas sai vitorioso

Por Amanda Romanelli e ATENAS
Atualização:

A seleção de Cabo Verde encerrou a sua participação olímpica com duas derrotas em dois jogos - ontem, se despediu do torneio de basquete ao perder por 104 a 68 para a Alemanha. Mas ficou o sentimento de missão cumprida, de um trabalho quase diplomático, ao colocar o país africano no mapa do esporte de alto rendimento. "Esta é a nossa Olimpíada", admitiu o técnico Eric Silva, ainda antes da estréia de Cabo Verde, segunda-feira (derrota por 77 a 50 para a Nova Zelândia). Na Grécia, o time participou da sua primeira competição de âmbito mundial. Até jogar contra os neozelandeses, Cabo Verde não havia enfrentado nenhuma equipe que não fosse de seu próprio continente. A ex-colônia portuguesa tem população de 500 mil habitantes. Fora do país vive quase um milhão de cabo-verdianos. A forte imigração, especialmente para EUA, Holanda, Angola e Portugal, tem conseqüências. Na seleção pré-olímpica de basquete, sete dos 12 jogadores nasceram em outros países - há seis americanos e um holandês. O técnico Silva é senegalês. Nenhum atleta atua em Cabo Verde. "Alguns até entendem, mas a maioria não fala criollo (língua local derivada do português, o idioma oficial)", explica o capitão Mário Correia. "Por isso, usamos o inglês para a comunicação." Destaque da seleção no Pré-olímpico, o armador Jeff Xavier, de 22 anos, marcou 43 dos 118 pontos da equipe. Foi o cestinha nas duas partidas. Nasceu em Rhode Island (EUA), joga na Liga Universitária Norte-Americana pelo Providence College e nunca tinha ido a Cabo Verde até três semanas atrás, quando o time se reuniu para fazer a preparação - aliás, a maioria dos atletas não se conhecia. "Pedi a cidadania cabo-verdiana porque tenho orgulho das minhas origens", revelou. "Meus pais nasceram lá. Quero ajudar Cabo Verde, uma nação muito pobre." Sentimento semelhante tem Tony Barros, atualmente sem clube. "Não recebemos ajuda. Jogamos por nosso país, por orgulho e por nós mesmos. É duro, mas é assim." A preparação de Cabo Verde para o certame na Grécia foi marcada por dificuldades. "Tivemos de diminuir nosso orçamento, de 400 mil (R$ cerca de 1 milhão) para 260 mil (R$ 658 mil)", contou o presidente da Federação de Basquete, Kitana Cabral. Uma série de empresas privadas e estatais, além do governo, uniu-se para financiar o sonho olímpico. Uma empresária radicada em Angola pagou o material esportivo. As bolas foram doadas pela Federação Internacional de Basquete (Fiba). "Após a competição, vamos receber material da Nike", festeja Cabral. "Já está quase tudo certo."

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