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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Calçada da fama é pouco

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Por Antero Greco
Atualização:

No meio da tarde de ontem, aproveitei vacilo do querido Wilson Baldini Jr. e virei para mim a televisão da editoria de Esportes que ele monopoliza durante o Pan. Justo naquele momento, vários canais que transmitem a maratona esportiva davam flashes da homenagem à genial Marta, convidada a deixar as marcas de seus pés na calçada da fama do Maracanã. Reverência mais do que justa para a melhor jogadora de futebol da atualidade e com participação decisiva na campanha que levou ao ouro. A cerimônia de ingresso no panteão de boleiros foi concorrida. Para ver Marta ganhar espaço no qual estão Zico, Pelé, Nilton Santos, Romário e tantos outros astros, havia curiosos, os papagaios-de-pirata de sempre, além de João Havelange e Carlos Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro ? este, sorridente, ficou pertinho da craque, ao alcance dos cliques. A presença desses dois personagens era simbólica, pois representava o aval do futebol (Havelange presidiu a antiga CBD e a Fifa por décadas no milênio passado) e do movimento olímpico nacional. Sinal de respeito, portanto, por uma jovem que bate um bolão. Tudo bonito, tudo aceitável, mas é muito pouco. Não adianta grande coisa Marta enfiar o pé na massa especial que a solidificou para a história. Acabada a festa, ela e as outras garotas que encantaram o público no Maracanã voltarão a suas quase anônimas rotinas. A estrela maior vai deliciar os olhos de torcedores da Suécia, país que a acolheu e no qual ganha a vida. Andréia, Elaine, Rosana, Simone Jatobá, Cristiane Silva, Kátia Cilene também encontraram espaço na Europa. As demais roem osso por aqui mesmo ? justamente onde a porca torce o rabo. Se o futebol masculino, badalado, amado, seguido, sofre com falta de recursos ? ou com o mau uso deles ?, o futebol de saias quase inexiste. Vive à custa de iniciativas de um ou outro clube, uma universidade acolá, um mecenas ocasional. As atividades são irregulares; os torneios, esporádicos; a divulgação, mambembe. Na dia-a-dia, somem. Essas meninas voltam à cena apenas quando se aproxima competição de vulto ? Pan, Mundial, Olimpíada. Nessas ocasiões, muita gente lembra delas, e, após conquista de medalhas, não faltam promessas de que "agora vai". Vai pra onde? Pra lugar nenhum. Desligadas as câmeras de tevê, sem os microfones e as máquinas fotográficas em torno dos cartolas, elas ficam ao deus-dará, engrossam a multidão de patinhos feios do nosso esporte, como a turma do hóquei sobre grama, beisebol, softbol, luta greco-romana, para citar exemplos de ?nanicos?. Marta e fiéis escudeiras merecem apoio, mais do que homenagem com ranço oportunista. De qualquer forma, mostraram ontem, para quem gosta de futebol de resultados, como é possível ganhar com espetáculo, gols e dribles. Ah, mas futebol feminino é diferente, podem alegar os pragmáticos de plantão. É diferente, sim, porque divertido, lúdico ? o futebol como as pessoas no fundo amam. QUE VIRADA! Nessa enxurrada de Pan, quase passa batida a virada do Palmeiras sobre o Vasco, na noite de anteontem. Quem foi ao Palestra Itália viu episódio antológico e com ingredientes clássicos, do time que perdia por 2 a 0 e chegou aos 3 a 2, com gol no fim e um jogador a menos. Não foi espetáculo de primor técnico, mas lavou a alma por aquilo que apresentou de dramaticidade. O futebol é paixão. Como a vida.

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