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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Caminho suave

Por Antero Greco
Atualização:

Pessoal, agradeço a satisfação que me proporcionaram os senhores José Maria Marin, Marco Polo Del Nero, Gilmar Rinaldi e Carlos Bledorn Verri, no futebol conhecido por Dunga. A primeira metade do quarteto toma conta da CBF e a segunda toca o bonde na seleção. Esse grupo retocou e aprovou código de conduta batuta para jogadores doravante convocados a defender as cores da pátria nas batalhas que os esperam pelo mundo. Que inclui o Brasil (vez ou outra).Voltei décadas no tempo ao ler os jornais de ontem. A existência de versão atualizada de catálogo de boas maneiras - ou cartilha, no popular - foi publicada pela Folha de S. Paulo e vocês não imaginam como me fez sentir mais novo. Na hora, lembrei-me da infância feliz e risonha no Externato Santo Eduardo, na rua General Flores, encravado no querido Bom Retiro. Pois lá, na escolinha da dona Mafalda, temida e respeitada por todos no bairro, o mundo das letras se abriu para mim pelas páginas ilustradas e mágicas de Caminho Suave, aquela sim a única cartilha instrutiva para muitas gerações. À medida que conferia itens impostos aos defensores da amarelinha, fazia associação imediata com o livro mítico, que devorei no pré-primário.Estava na reportagem, por exemplo, que não é permitido o uso de bonés, brincos e outros acessórios ("Ivo vê a uva"); são vetadas manifestações religiosas ou políticas ("Vovô viu o ovo"); proibido usar chinelo nos locais onde a seleção se hospedar ("Zezé come azeitona"); o atleta deve cantar o hino nacional ("Z, de zabumba"); jogador não pode usar iPad, celular, etc em preleções, refeições e vestiários ("Cido deu coice no Totó"); ser pontual à programação realizada pela CBF ("A barata sumiu no buraco"). E por aí vai.Gilmar e Dunga alegaram que não se trata de nenhuma novidade, apenas foi feita adaptação a regulamento anteriormente estabelecido. Explicaram, também, que toda corporação tem um conjunto de diretrizes a ser seguido pelos funcionários. Têm razão, em parte. A antiga CBD, por exemplo, baixou normas severas em 1958 para o grupo que foi ao Mundial da Suécia, assim como se repetiria em tantas ocasiões. E, de fato, empresas costumam ter normas.A questão está no fato de que nem todas as recomendações - no futebol ou em outra atividade - têm o bom senso como base. Há muita gente que nada contra a corrente, se aferra a estereótipos ultrapassados e superficiais, perde o trem da história e, ao se dar conta, já entrou pelo cano junto com a firma. Vocês e eu cansamos de ver marcas tradicionais afundarem por inaptidão de quem as comandou, por falta de sensibilidade para a modernidade, etc. Sem hipocrisia ou moralismo, o que tem a ver usar brincos, bonés, amuletos, anéis com a arte de jogar futebol? Em que os objetos influem no desempenho do atleta? Quem disse que a aparência indica a capacidade profissional? Mentalidade tosca, limitada, que se preocupa com o exterior e não com a essência. O aspecto importa tão pouco quanto fé, convicções políticas ou opção sexual. É risível.Claro que um mínimo de ordem é necessário em qualquer atividade, ao menos para distribuir responsabilidades. Mas o que se deve estimular, acima e além do modo de vestir-se, são a criatividade, o comprometimento com as ideias e com os objetivos da empresa, a lisura no trabalho, a camaradagem. De que vale ter jogadores limpinhos por fora e desinteressados ou desunidos? Quem disse que atemorizar traz melhores resultados do que incentivar? Antes Neymar cheio de badulaques e tatuagens e arrebentando do que Neymar careta, comportado a contragosto. Só para ficar num caso. Esse tipo de postura vale para tropas - e olhe lá. Na Europa, já se questionam tais preceitos para militares. Cada vez mais comum ver policiais na Itália, na França, na Alemanha estilosos, com cortes de barba e de cabelos modernos. Nem por isso são menos eficientes ou disciplinados.Gente, vamos parar com bobeiras? ("Bebê toma gema de ovo.")

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