CBAt diz que Fabiane tomou veneno

A atleta que corre os 800 metros estaria internada depois de tentar suicídio em seu alojamento na Espanha; atitude foi tomada após divulgação de doping no Mundial de Edmonton.

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Por Agencia Estado
Atualização:

O espanhol Miguel Mostaza, manager da brasileira Fabiane dos Santos, negou que sua atleta tivesse tentado se matar após ser flagrada no antidoping pela segunda vez (o que deverá lhe custar o banimento do esporte). Mas nesta segunda-feira, Martinho Nobre dos Santos, secretário-geral da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), disse que a meio-fundista de 25 anos ingeriu veneno de rato. Quem contou ao dirigente foi a própria Fabiane. Segundo Martinho, a história da tentativa de suicídio surgiu logo após a divulgação do resultado da contraprova, que confirmou a presença exagerada de testosterona no organismo da atleta, por isso impedida de disputar os 800 metros no Mundial de Edmonton, Canadá, na primeira semana deste mês. A delegação brasileira em Edmonton recebeu um telefonema de Fernando, ex-marido de Fabiane (com o qual a garota se casou aos 15 anos, grávida). Segundo Martinho, ele pediu para que a CBAt não divulgasse informações sobre o doping, para que a imprensa parasse de falar da atleta, que teria até tentado se matar. "O Fernando disse que ela tinha tomado um negócio e dado instruções para ele tomar conta da filha (Luara, de nove anos). Não parecia ser mentira." Preocupado, Martinho ligou para o celular da atleta: "Atendeu um homem que disse que ele e a mulher eram amigos da Fabiane e que ela estava no hospital, internada. Tentei saber mais, mas ele deu um jeito de desligar." Na quarta-feira passada, o dirigente enfim conseguiu fazer contato. Achava que Fabiane negaria tudo, mas para sua surpresa... "Ela disse que não estava legal da cabeça e tinha tomado veneno de rato e sido internada. Falou que não anda conseguindo pôr os pensamentos em ordem e por isso não quer falar com a imprensa. Pediu para não dar o contato dela para ninguém. Depois, vai conversar com todo mundo." Ainda segundo Martinho, ele falou à atleta pelo telefone: "Nem pense em fazer besteira." E ela respondeu: "Veja bem, Martinho, isso era minha vida." Nesta segunda-feira, o celular do empresário Miguel Mostaza estava fora de serviço e o telefone fixo seguia na secretária eletrônica. No último sábado, ele havia negado uma notícia de que tinha encontrado a atleta caída no banheiro do alojamento onde mora, em Madri. "Fabiane só comentou com seu técnico Manuel Pascua Piqueras que tinha vontade de se matar se a situação não fosse esclarecida, por causa da injustiça que estaria vivendo", havia declarado Mostaza à agências internacionais no sábado. Para ele, a informação sobre o suicídio era "completamente falsa". Quando conversou com Fabiane, Martinho evitou entrar em detalhes sobre a forma como ingeriu o veneno. E também sobre a veracidade ou não do doping. "Essa pergunta eu jamais faço. Quando aparece um resultado positivo, sou eu que dou a notícia. A todos eles. Não é fácil. Todos falam que são inocentes." Fabiane também parece não saber quando apresentará sua defesa. A atleta busca argumento na tribo carajá do Mato Grosso, onde nasceu. Como são comuns os casamentos consangüíneos, algumas índias produziriam testosterona acima da média. O processo - A partir da confirmação do doping, a IAAF (Associação das Federações Internacionais de Atletismo) dá 60 dias para a Confederação responsável se pronunciar sobre o caso da atleta. Caso a CBAt julgue que Fabiane é culpada, só restará à atleta recorrer à IAAF. Caso contrário, o processo será revisto pela IAAF. Se não aparecer, será uma confissão de culpa e, provavelmente, será banida do atletismo. Martinho não acredita nessa hipótese, mas acha que Fabiane dificilmente sairá impune. "É uma defesa difícil, mas sabe Deus... Ela disse que tem propensão natural a ter mais hormônio. Teve uma evolução muito rápida, é inegável. Mas daí a dizer que tomou alguma coisa, é difícil." Fabiane é reincidente, o que agrava a situação. Em 1995, quando tinha 19 anos, foi flagrada por nandrolona, um esteróide anabolizante. Beneficiada por uma mudança na regra da IAAF, ficou dois, em vez de quatro anos suspensa. Em maio deste ano, durante o Meeting de Atletismo do Rio de Janeiro, o antidoping acusou testosterona em excesso. Para muita gente do meio, como Luciana de Paula Mendes, sua adversária nos 800 m, estava comprovada a suspeita de que seus tempos excelentes neste ano não se explicavam apenas por competência. O corpo de Fabiane dos Santos está tão forte que a atleta ganhou na Espanha o apelido de "La Tanqueta" - ou "Tanquinho".

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