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CBAt e combate ao doping

Da numerada

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Por Roberto Gesta de Melo
Atualização:

No dia 9, o Estado publicou artigo do Dr. Alberto Murray Jr. sob o título "Antidoping no Brasil é falho". Ao ler a matéria, alguns dias depois, telefonei ao Dr. Murray Jr. e manifestei-lhe, de forma veemente, minha insatisfação com o conteúdo de vários trechos do que foi publicado. A seguir, o articulista deu a conhecer, em seu blog na ESPN, o teor geral de nossa conversa, com bastante exatidão. O texto elucida, de forma sintética, as principais questões aventadas por ele anteriormente. Por outro lado, recebi amável convite do jornal para escrever sobre o assunto do doping, que é vasto. Aceitando a incumbência com prazer, procurei destacar alguns tópicos, em relação ao atletismo brasileiro. A CBAt instituiu, alguns anos atrás, agência própria de Controle Antidoping (ANAD), sob o comando do experiente advogado Dr. Thomaz Mattos de Paiva, e que tem por responsável, na área médica, o dr. Rafael Trindade, membro da Comissão Médica e Antidoping da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF). Na consolidação da ANAD, diversas ações foram executadas, como cursos para a formação de coletores de amostras em diversas regiões do País e a importação de, literalmente, milhares de kits para aplicação de testes. Pois bem, centenas de exames foram realizados em competições e fora delas, com significativos casos positivos detectados de uso de substâncias proibidas. Somente no ano em curso foram 353 testes, 61 deles fora de competição, até agora, o que não é pouco, mormente se considerado o seu alto custo. Tenho, no entanto, acompanhado notícias referentes aos métodos empregados pela CBAt no combate ao doping, apresentadas de forma distorcida e que procurarei esclarecer. Colocações, por exemplo, sobre o número de testes promovidos em competições em comparação com os testes-surpresa são feitas fora do seu contexto real e com subtração de algumas informações necessárias à melhor compreensão da questão. A não ser que a Confederação utilize recursos financeiros enormes, desproporcionais ao seu orçamento, em detrimento de todos os seus demais programas, sempre haverá mais testes em competições do que testes-surpresa. Por razão simples : a CBAt, pelas normas internacionais, tem a obrigatoriedade de aplicar testes durante suas competições, para que sejam reconhecidas. Com alentado calendário, muitos são os testes. Vale ressaltar que, no caso de obtenção de recordes, os atletas também devem passar por eles. Não seria justo que a CBAt cortasse projetos básicos, como os de apoio a atletas de alto nível, jovens talentos e treinadores; de organização de competições nacionais e internacionais; de participação de seleções brasileiras em campeonatos mundiais, pan-americanos, sul-americanos, ibero-americanos e outros; de centros de treinamento; de centros de descoberta de talentos; de campings; de apoio a federações estaduais; de cursos de atualização de treinadores; de seminários, para realizar milhares de exames anuais. Isso seria ferir os mais elementares princípios da razoabilidade. Não sei de outra entidade no Brasil que promova maior controle contra o doping. Outro ponto: na realização dos testes-surpresa, no Brasil, nem sempre alguns desportistas de maior nível são testados, porque essas pessoas já se encontram na lista da IAAF, que tem rigoroso controle sobre as mesmas. Assim, teria pouco sentido aplicar testes nos que estão sendo periodicamente submetidos a eles. A não ser em determinados períodos específicos de sua preparação técnica, mais propícios para a investigação de provável comportamento ilícito. Mas, muitas das vezes, nessas ocasiões os atletas encontram-se em preparação fora do País, onde é mais fácil à IAAF encontrá-los, pelo sistema de where about, que exige que seu paradeiro seja conhecido. Por conseguinte, a concentração de testes em pequeno grupo de desportistas, nas hipóteses descritas anteriormente, não parece ser o caminho natural, quando o leque de testados deve ser muito maior. Ademais, a CBAt recebe constantes denúncias de doping e as apura, quando apresentam algum grau de credibilidade, mesmo porque o combate ao doping visa não apenas assegurar o fair-play e a ética, mas é sobretudo instrumento eficaz para salvaguardar a saúde dos praticantes, qualquer que seja o seu potencial técnico. * Presidente da Confederação Brasileira de Atletismo

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