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Cérebros

Por Wagner Vilaron
Atualização:

Em 2000, dois anos após a criação da Lei Pelé, esse jornalista cansava de receber ligações de dirigentes que, perdidos, tentavam entender as mudanças pelas quais passava o futebol brasileiro e, consequentemente, seus clubes. Ontem, dividi a bancada do Arena Sportv com a advogada Gislaine Nunes. Sincera, ela resumiu o que pensa do comportamento dos cartolas hoje em dia. "São arcaicos, despreparados. Alguns até me ligam para pedir consultoria", disse ao explicar parte de seu sucesso na defesa de atletas contra essas agremiações.Foi então que caiu minha ficha. Passaram-se 14 anos desde a entrada em vigência da lei e boa parte da cartolagem brasileira ainda se comporta da mesma forma. Mostra-se ignorante em relação à legislação e a encara como uma "novidade".De seu jeito, Gislaine reforçou percepção que tenho há algum tempo: a de que faltam cérebros ao futebol brasileiro. Nesta semana publiquei em meu blog no portal estadao.com.br texto que tratava desse assunto, porém voltado especificamente à dificuldade de encontrar uma liderança no Palmeiras. O problema, no entanto, é bem mais amplo. Muitos clubes carecem de um líder e sofrem as consequências de tal ausência, como a eterna briga política entre tantos que gostariam de ocupar o posto. E não faltam exemplos. Dez anos atrás a diretoria do São Paulo vangloriava-se do curso interno para formação de dirigentes ministrado no Morumbi. Hoje, o clube não consegue disfarçar a dificuldade de encontrar um nome de consenso que traga propostas e metodologias novas. Resultado: a administração envolve poucas pessoas e fica concentrada na figura do presidente Juvenal Juvêncio.No Corinthians, Andrés Sanchez, com seu estilo truculento, mas de muita personalidade, representou a condição de líder. Porém, sua saída deixou o posto vago. Considero Mário Gobbi, o sucessor, uma pessoa correta, mas que não tem a liderança entre suas virtudes. E o Parque São Jorge sente os resultados da falta de uma liderança natural. Confrontos e picuinhas políticas já pipocam pelos quatro cantos.No Rio, grandes marcas como Flamengo e Fluminense também sofrem com o despreparo de seus dirigentes. O Rubro-negro, mergulhado em conflitos que envolvem seis - se é que não perdi as contas - grupos políticos, mostra-se quase inadministrável. Nas Laranjeiras, a fragilidade da política interna tricolor permitiu que o homem-forte do clube passasse a ser o dono da empresa patrocinadora. Ou seja, em vez de um líder, o Fluminense tem um mecenas. E, por mais que o torcedor vibre com a contratação de craques, sempre terá aquela incômoda pergunta a atormentar seu sono: o que será do time no dia em que o patrocinador concluir que não é mais um bom negócio gastar tanto dinheiro com o futebol?Gislaine ri quando cartolas a chamam de "inimiga número 1 dos clubes". E tem de rir mesmo. A advogada não é inimiga de clubes, apenas encontrou na incompetência dos cartolas um nicho profissional que soube aproveitar.Os verdadeiros inimigos dos clubes têm carteirinha de sócio e andam pelos corredores da sede.

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