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Chineses e norte-americanos, relação de amor e ódio

Brigas e alianças marcam a história dos povos, que aliviaram as tensões em 1971 após a Diplomacia do Pingue-Pongue

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Por Marco Chiaretti
Atualização:

Estados Unidos e China têm um relacionamento muito conturbado, em que os períodos de guerra, aberta ou não, entre eles ou envolvendo terceiros, ultrapassam em muito os tempos de paz. Os norte-americanos começaram a freqüentar o Império do Meio no século 19, na onda das guerras que devastaram a dinastia Qing e acabaram com o poder imperial. Junto de Grã-Bretanha, França, Alemanha e outras nações, também os EUA ficaram com seu quinhão de território chinês. No início do século 20, a China tornou-se uma república. Seu modelo eram exatamente os Estados Unidos. As duas nações eram aliadas, unidas contra um inimigo comum, os japoneses. Missionários norte-americanos abriram centenas de escolas e creches; emissários chineses eram recebidos em Washington. Filmes norte-americanos faziam furor em Xangai, Nanquim e Pequim. Durante a guerra contra os japoneses (que começou em 1931), essa aliança se fortaleceu. Embora oficialmente os EUA não tivessem à época declarado guerra ao Japão (fizeram-no somente em 1941, após o ataque a Pearl Harbour), soldados, marinheiros e aviadores norte-americanos lutaram por muitos anos ao lado dos chineses. Nesses anos, a sobrevivência do regime nacionalista era garantida pelo suprimento constante de matérias-primas, alimentos, armas e munição, fornecido pelos EUA. A parceria tinha uma série de razões. Aos Estados Unidos interessava ''atrapalhar'' o poderio militar japonês, e manter uma guerra permanente na China era parte dessa estratégia. Interessava também impedir que os comunistas de Mao tomassem o poder, e se aliassem aos soviéticos. A primeira parte foi muito bem-sucedida: a manutenção de exércitos enormes em território chinês enfraqueceu e muito o esforço de guerra japonês. A segunda parte foi um fracasso. Aliados históricos do Kuomintang, o partido nacionalista governado por Chiang Kai-shek, os norte-americanos nunca conseguiram entender o quebra-cabeças chinês. Quando Mao venceu, os nacionalistas foram varridos para Taiwan, os EUA perderam um aliado e a União Soviética aproximou-se de Pequim. Nasce daí a aliança dos EUA com o Japão, para muitos surpreendente. Em Tóquio, souberam usar muito bem essa posição de cabeça-de-ponte norte-americana em uma parte do mundo dominada pelo comunismo. Por muitos anos, o espectro de uma guerra total esteve sempre presente. Durante a Guerra da Coréia, os militares americanos se prepararam para usar bombas atômicas. Os dois países construíram uma teia de ódios mútua, que a Guerra do Vietnã só fez crescer. O pêndulo só começou a se mover em abril de 71, com um desafio no tênis de mesa, a chamada ''Diplomacia do Pingue-Pongue''.

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