PUBLICIDADE

Clássicos e clássicos

Por Marcos Caetano
Atualização:

Existem clássicos e clássicos. Desde os mais amenos sob a ótica da carga de rivalidade, como o Botafogo x Fluminense que veremos hoje ou o San-São que será disputado amanhã, até os que são carregados de ressentimento, caso dos demais choques previstos nesta rodada do Brasileirão: Coxa x Furacão, Vasco x Flamengo, Gre-Nal, Galo x Raposa, Figueira x Avaí e Palmeiras x Corinthians.Clássicos são o sal do futebol, o verdadeiro tempero do esporte - e que bom que eles tenham sido reservados para as últimas rodadas do turno e do returno.A rivalidade entre clubes de uma mesma cidade é tão absurda que às vezes eu gosto de imaginar o que aconteceria com dois clubes que fossem obrigados, por alguma razão, a unir forças. Curiosamente, isso já aconteceu, no Paraná, onde os rivais Pinheiros e Colorado deixaram de existir individualmente para forjar uma nova entidade: o Paraná Clube.Brincando com essas rivalidades, certa vez imaginei - e caí na besteira de publicar - a proposta de fusão de dois rivais. Escolhi Fluminense e Botafogo, os clubes mais antigos do Rio. Quase me mataram. Ninguém entendeu o texto como chiste. Por conta do Clássico Vovô, hoje, me animo a repetir a proposta, agora deixando bem claro, pelo amor de Deus, que não passa de brincadeira.Perguntem aos botafoguenses por qual outro time carioca eles torceriam, caso não existisse o Alvinegro. Não vale responder o América, porque o Mequinha, como sabemos, é o segundo time de todo mundo no Rio. Sem o América no páreo, em quase todos os casos a resposta dos alvinegros seria: "pelo Fluminense". Da mesma forma, se confrontados com semelhante pergunta, a esmagadora maioria dos tricolores não hesitaria em apontar o Botafogo como sua opção. Há entre Flu e Bota o parentesco indiscutível da solidariedade das minorias. O parentesco de duas torcidas acostumadas em não ocupar os maiores espaços do noticiário, mesmo quando brilham. Tricolores e botafoguenses sabem que seus times não são os de maior torcida. E gostam disso. Sentem orgulho por não terem escolhido o caminho fácil e embarcado no trem da maioria.Às vezes sofrem por isso, mas exibem suas cicatrizes como troféus de guerra, como declarações de caráter.Agora imaginem se os dois se fundissem. O novo clube se chamaria Fluminense de Futebol e Regatas, nome abrangente, na geografia e nas modalidades praticadas. Como o primeiro uniforme do Tricolor não era tricolor, mas cinza e branco (parente próximo do alvinegro) a camisa adotada seria a do Glorioso. O alvinegro Fluminense de Futebol e Regatas teria no escudo a estrela solitária, mas incorporaria, acima do mesmo, as letras F.F.R. O panteão da glória já nasceria pronto: Didi, Ademir, Gérson, Carlos Alberto, Paulo César, Marinho, Rodrigues Neto, Renato Gaúcho, Túlio, Washington e Edmundo jogaram pelos dois clubes. Garrincha, Nilton Santos, Heleno, Rivellino, Castilho e Romário, que só atuaram por um dos lados, seriam integrantes de honra.O novo clube seria o que historicamente mais cedeu jogadores à Seleção Brasileira, sua elegante sede social ficaria nas Laranjeiras, adotaria General Severiano como sede de esportes olímpicos, treinaria suas divisões de base no estádio Caio Martins, em Niterói - justificando assim o nome Fluminense, relativo ao Estado do Rio -, e jogaria no Engenhão. Além disso, já nasceria com os títulos brasileiros de 1968, 70, 84, 95 e 2010, seis Rio-SP, uma Taça Olímpica, uma Copa do Brasil, uma Conmebol, um Mundial Interclubes do Rio, em 1952, além de impressionantes 49 títulos estaduais. Ou seja: indiscutivelmente, uma potência do futebol.Um exercício curioso, não? E possível de ser feito porque a rivalidade dos dois não chega à irracionalidade. Tentem fazer o mesmo para Palmeiras e Corinthians. Juro que tentei, mas não cheguei nem perto de algo razoável. Pensando bem, é melhor não forçar a amizade entre inimigos que só se reúnem no campo de jogo para lutar eternamente pela glória que jamais será de apenas um deles.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.