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COLUNA-O que importa é torcer

Por MARIUCHA MONERÓ
Atualização:

A cada edição de Jogos Pan-Americanos ou Olímpicos o congraçamento entre atletas de diferentes países, culturas, credos e etnias é o que realmente vale por detrás do brilho das medalhas. É emocionante ver uma prova que reúna jovens tão diferentes perseguindo um mesmo objetivo. E se isso acontece dentro dos campos e quadras o mesmo se aplica à turma que garante o show na arquibancada. É incrível como a simples disposição para torcer iguala quem quer que seja e produz uma massa para lá de divertida. A democracia da torcida garante a boa convivência entre os que são conhecedores daquela modalidade esportiva, os que apenas sabem a regra do jogo e aqueles que nem desconfiam o que se passa. O público que vem lotando o pavilhão do judô não poderia ser diferente. O esporte que tradicionalmente rende medalhas ao Brasil é acompanhado nesse Pan por praticantes do esporte, aficionados e torcedores que precisam apenas de um reles motivo para cantarem que são brasileiros com orgulho e amor. Achando graça, os vizinhos da animada senhora que incentivava o atleta brasileiro na luta pelo bronze na categoria até 100 quilos nem pensaram em lhe contar que o nome do judoca era Luciano e não Cristiano como ela gritava a plenos pulmões. Tampouco se aborrecia o professor de judô que dividia a fila com um casal que se esforçava para entender o placar que traduzia o andamento da luta. "Você reparou se são sempre as mesmas letras que aparecem?", perguntava a esposa, referindo-se ao I, W, Y e K, iniciais de Ippon, Waza-Ari, Yuko e Koka, golpes que pontuam no judô. A doce ignorância de parte da platéia é bem vista pelos atletas. "O que importa é que me sinto apoiada e incentivada. Além disso, o importante é atrair cada vez mais gente para o judô", disse Edinanci Silva, que sagrou-se bicampeã pan-americana na categoria até 78 quilos. O também medalhista de ouro Tiago Camilo não parecia se importar com a recentíssima intimidade estabelecida com a torcida, seja ela expert em judô ou não. Muito menos João Gabriel Schlitter, prata em luta polêmica contra Cuba. Com a medalha conquistada na véspera ele engrossava a torcida pelos brasileiros na arquibancada e se divertia com quem se aproximava para dizer que fora injustiçado, da mesma forma com aqueles que exultavam ao conseguir uma foto a seu lado. O sorriso provavelmente ainda estaria lá se tivesse ouvido o comentário de dois jovens ao conferirem o resultado da câmera digital: "Legal, mas quem é ele?", perguntava um. "Não é do levantamento de peso. Mas será que ele ganhou medalha?", indagava o outro. Tanto faz, o que importa é torcer. Entender é mero detalhe.

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