Concentrando os holofotes

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Por Daniel Piza
Atualização:

Qualquer pessoa que goste de futebol há de lamentar que Neymar e Ronaldo não estarão em campo hoje na Vila, no clássico entre Santos e Corinthians. Mas convém olhar a situação do ponto de vista de quem não é apenas torcedor. Ronaldo, como disse Ugo Giorgetti no domingo passado, agora parece que só fará "participações especiais"; está cada vez mais difícil imaginá-lo numa longa sequência de partidas até o final do ano, embora tenha todo o direito - e todo o mérito - de encerrar sua carreira em campo, não no departamento médico. Além disso, Iarley, desabituado a jogar entre os zagueiros, começou a fazer gols com maior frequência e deve receber apoio para continuar assim, já que o clube não teve a capacidade de contratar um centroavante de qualidade. Ronaldo é que deve reconquistar seu espaço; entrar aos poucos em momentos oportunos e mostrar que pode ajudar, como mostrou contra o Atlético-PR. Mas não se pode descartar Iarley como se fosse chuteira velha.O caso Neymar é muito mais delicado. Depois das primeiras reações a seu comportamento dentro de campo, como a queixa de Chicão de ter levado um chapéu com a partida parada, muitos saíram defendendo o menino da Vila porque seria herdeiro de um estilo artístico e provocador que seria a marca do futebol brasileiro. O tempo, porém, mostrou que seu comportamento é bem diferente da saudável irreverência que todo jovem talento deve ter, da bendita petulância que move os craques em afirmação; está mais para mascarado, marrento, arrogante. Não é apenas por ser "liso" com a bola nos pés que irrita zagueiros e técnicos adversários; é por gostar de humilhar, de desrespeitar - até mesmo seu próprio treinador, Dorival Júnior. Logo, ficar fora de alguns jogos é um puxão de orelhas inadiável. O Santos e o torcedor pagam o preço, mas preço maior seria passar a mão em sua cabeça mole. Ele parece destinado a ser um grande? Sim, mas destinos se jogam fora também.Os dois casos pessoais, acima de tudo, não devem obscurecer a perspectiva de um bom jogo e a situação dos dois times. O Corinthians, obviamente, chega com mais confiança e mais qualidade. É líder de novo, com um jogo a menos que o Fluminense, e vem de duas boas partidas. Tem bons jogadores na defesa, nas laterais (Roberto Carlos merecendo pedidos de desculpas de todos que duvidaram de sua forma física e técnica) e sobretudo no meio, onde Jucilei, Elias, Paulinho e Ralf são opções que nenhum outro clube tem, por sua versatilidade em desarmar sem falta e apoiar com rapidez. Bruno César está um pouco abaixo do que vinha antes, mas já esboçou reação. Não há um craque entre os titulares, mas há muitos bons jogadores. Com a queda de produção do Fluminense, em função de desfalques (Emerson, Fred, Diguinho, Deco no último jogo), a liderança ficou em bons pés.Já o Santos sem Robinho, André (vendidos) e Ganso (contundido), com Neymar tendo ataques precoces de estrelismo, perdeu muita qualidade. Ainda tem alguns jogadores experientes e novatos promissores e sempre é perigoso dentro de casa, mas aos poucos começa a perder espaço na tabela para times mais coesos, como Botafogo e Cruzeiro. Este em especial, depois da chegada de Montillo, ganhou um diferencial técnico que antes não tinha, apesar do empate com o Botafogo. O Internacional, que o Corinthians enfrenta no próximo domingo, no Beira-Rio, é outro que tende a ir mais longe, se bem que carece de bom banco de reservas e ainda parece viver ressaca da Libertadores. Os seis times que citei ainda podem chegar ao título.O fato de que os três melhores jogadores do campeonato no momento sejam três meias de criação argentinos - Montillo, D"Alessandro e Conca - diz muito sobre o futebol brasileiro no momento. Mas o campeonato começou a melhorar, e aquilo que o torcedor gosta de ver - jogadas de talento - não tem nacionalidade. Se Ronaldo se despedir como merece e Neymar botar a cabeça no lugar, tanto melhor. Mas vamos concentrar os holofotes nos que estão produzindo futebol.

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