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Condições para velejadores em Toronto ressaltam problemas da Baía de Guanabara

Por STEVE KEATING
Atualização:

Para os velejadores, as águas em que competiram nos Jogos Panamericanos nesta semana irão parecer água mineral em comparação com a mal-cheirosa Baía de Guanabara que os aguarda na Olimpíada do Rio de Janeiro de 2016. Enquanto os iatistas disputavam medalhas nas águas claras ao redor da Ilha Central de Toronto, no Canadá, centenas de banhistas aproveitavam o Lago Ontário durante o final de semana ensolarado, uma visão que dificilmente se repetirá no Rio – os atletas olímpicos que foram conferir os preparativos em eventos de teste se queixaram de sofás boiando e carcaças de animais. “É um problema sério”, disse a brasileira Fernanda Demetrio Decnop, medalhista de bronze do iatismo na classe laser radial, à Reuters. “É sério, nós atletas nos queixamos muito disso porque velejamos com o vento, velejamos com a natureza, e nos preocupamos com a natureza e é terrível ter um lugar, no meu lar, onde velejo e é poluído”. “Espero que façam algo para melhorar, porque até agora não vi muita coisa”. A limpeza da Baía de Guanabara foi um item importante da campanha do Rio para sediar a Olimpíada e é uma meta de sucessivos governos há tempos. Centenas de milhões de dólares já foram gastos, mas a água continua fétida. Biólogos têm dito que os rios que desaguam na baía contêm uma superbactéria resistente a antibióticos e que pode causar infecções urinárias, gastrointestinais e pulmonares.    Quando se candidatou aos Jogos, o Rio se comprometeu a reduzir em 80 por cento a quantidade de esgoto sem tratamento que escoa na baía.    Os organizadores do evento brasileiro declararam aos repórteres durante um boletim à imprensa no Pan que continuam a fazer progresso, mas ainda é improvável que a meta de 80 por cento seja alcançada. A baía poluída, que alguns velejadores descreveram como um esgoto a céu aberto, desencadeou temores a respeito da saúde dos atletas, mas a norte-americana Paige Railey, medalha de ouro na categoria laser radial no sábado, afirmou que não entende o porque de tanto falatório. “Passamos bastante tempo lá e não tivemos nenhum problema”, disse Paige, sexta na classe laser na Olimpíada de Londres de 2012. “Sei que o Comitê Olímpico dos Estados Unidos e a equipe de vela dos EUA adotaram medidas para que todos nós estejamos com saúde e bem”.    "Acho que está tudo bem. Até nado ali, não me incomoda nem um pouco.”    As águas poluídas, entretanto, continuam sendo uma grande preocupação para a Federação Internacional de Vela (Isaf, na sigla em inglês).    Como o planejamento olímpico exige três provas dentro da baía e duas fora, a Isaf está cogitando realizar uma terceira prova no Oceano Atlântico para ter mais flexibilidade no cronograma das competições se as condições na Guanabara não melhorarem. Robert Scheidt, o velejador brasileiro mais bem sucedido e um dos maiores atletas olímpicos da história do país com suas cinco medalhas, admitiu que as condições poderiam ser melhores, mas que não terão impacto nas competições. Scheidt, que conquistou medalhas nas cinco últimas Olimpíadas e ouro na classe laser nos Jogos de Atlanta de 1996 e de Atenas em 2004, reconheceu que sua atenção está voltada à conquista do ouro em casa, onde quer que as provas aconteçam. “Concordo que as condições não são ideais, mas acho que não irão prejudicar a competição”, disse Scheidt à Reuters. "Precisamos deixar a água um pouco mais limpa, mas no ano passado fizemos um evento de teste e não houve nenhum grande problema”. “Não é a primeira vez que vou à Olimpíada, mas em casa haverá, é claro, grandes expectativas”. “Acho que depois de todos estes anos competindo você aprende a lidar com estas situações para não deixar que a pressão se torne algo negativo”.

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