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Corinthians assume o risco e vai poupar titulares mais uma vez

Contra o Botafogo, domingo, reservas estarão em campo; para especialistas, futebol atual exige descanso maior

Por Anelso Paixão
Atualização:

O técnico Mano Manezes já avisou que o Corinthians não jogará completo também na segunda rodada do Campeonato Brasileiro, contra o Botafogo, domingo, às 18h30, no Engenhão. Um dia após a vitória por 1 a 0 sobre o Fluminense, pela Copa do Brasil, anteontem, o treinador confirmou que os mais desgastados vão ganhar descanso. A decisão de Mano, é claro, preocupa. Em todas as oportunidades em que o técnico resolveu fazer isso, o time não se saiu bem. Na estreia do Brasileiro, diante do Inter, no domingo passado, com apenas dois titulares, derrota por 1 a 0 no Pacaembu. No ano passado, na despedida da Série B, já com o acesso e o título assegurados, derrota para o América, em Natal, por 2 a 0. Naquela oportunidade, aliás, até mesmo os principais reservas foram poupados. No Brasileiro de 2008, o Fluminense, então na Libertadores, adotou a mesma postura e, após poupar jogadores em várias partidas, acabou lutando para não ser rebaixado. A justificativa para a decisão de Mano é mais uma vez priorizar a competição mais importante no momento, a Copa do Brasil, na qual o time já está nas quartas de final e tem vantagem diante do Fluminense - o jogo da volta será quarta-feira, no Rio. "Alguns serão poupados porque precisamos trabalhar para que tenham uma melhor condição no jogo da volta. Vamos conversar com os jogadores e ver o desgaste deles com a fisiologia para depois tomar uma decisão", explicou. O que deve ser diferente desta vez, porém, é que Mano não vai descansar tantos titulares como contra o Inter. "Uma coisa é você buscar no elenco soluções para duas ou três posições. Outra é colocar oito ou nove jogadores ao mesmo tempo." Mas o que muita gente questiona é se realmente é necessário dar tanto descanso aos atletas se a temporada ainda nem sequer chegou à metade. Em pleno mês de maio, o time já tem jogadores exaustos, sem condições de completar uma partida ou de jogar duas vezes na semana. O ex-jogador Neto costuma criticar veementemente isso em seus comentários na Band. "No meu tempo a gente jogava duas vezes por semana e não tinha esse problema todo." O fisiologista do São Paulo e do Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte (Cemafe), Turíbio Leite de Barros, afirma que a realidade do futebol hoje é outra e que isso obriga os clubes a tomarem atitudes como a do técnico Mano Menezes. "Há 20 ou 30 anos, a velocidade do futebol era outra. Quando você vê um jogo antigo, parece que era disputado em câmara lenta", explica Turíbio. "Hoje nas partidas da Copa dos Campeões, por exemplo, aparece quanto um jogador corre por partida. Os caras fazem dez quilômetros", diz. Se você fizer um cálculo simples, vai ver que, numa média de duas partidas por semana, em dez meses de atividade no ano, um atleta fará 80 partidas na temporada. Isso está muito acima da média ideal, que é de 50 a 60." Sobre os riscos que um time corre, Turíbio entende que é algo que precisa ser calculado. "O futebol é cíclico. Neste momento, o Corinthians vem de uma sequência de jogos decisivos. A partir da metade do ano, vai viver uma situação diferente, disputando uma única competição. Aí, vai ter tempo de recuperação", afirma. "Então, se você ficar com uma dívida no início da competição, vai ter fôlego para pagar lá na frente." A solução para esse problema crônico no futebol brasileiro, segundo o fisiologista, vem do exemplo dos clubes europeus. "Os times brasileiros precisam de elencos melhores tanto em quantidade quanto em qualidade. Com isso, até a preocupação em acelerar a recuperação será menor", comenta. "Na Europa, quando um jogador se machuca, se esquece dele. Mas é que eles podem se dar ao luxo de ter um Tevez ou um Ronaldinho Gaúcho no banco." Para o consultor-médico do Corinthians, Joaquim Grava, poupar jogadores já se transformou numa prática mundial. "O Boca (Juniors) escala um time no Argentino e outro na Libertadores. O fato é que o futebol é intensamente físico. O atleta de futebol está chegando no limite." Grava explica que uma lesão simples pode se tornar grave sem uma recuperação adequada. "Já ficou provado que não há tempo hábil se o time jogar na quarta e domingo." Entre os que devem ser poupados contra o Botafogo estão Elias, André Santos, Chicão e Jorge Henrique, com problemas musculares, William, que machucou o pé, e Ronaldo, que vem de forte gripe. O QUE ELES DISSERAM Turíbio Leite de Barros fisiologista "Numa média de duas partidas por semana, em dez meses de atividade no ano, um atleta fará 80 partidas na temporada. Isso está muito acima da média ideal, que é de 50 a 60" Paulo Farias médico O atleta de futebol está chegando no limite. Já ficou provado que não há tempo hábil se o time jogar na quarta e domingo"

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