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Costas mediterrâneas

Grand Prix

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Por Reginaldo Leme
Atualização:

Viajar de carro na Europa é um ótimo programa. Quem já fez, sabe bem disso. Para quem não fez, o meu conselho é um bom roteiro, um bom carro e tempo de sobra, pra poder parar onde der vontade. Só não pode ser em alta temporada para não correr o risco de não encontrar vaga em hotel algum, especialmente se o seu roteiro for pelas praias. Foi o que fiz nesta última semana, saindo de Barcelona para chegar a Mônaco. De auto estrada pode ser feito num tiro só, de 800 quilômetros. Mas a graça da brincadeira é viajar pelas estradas costeiras. Da espanhola Costa Brava e da francesa Côte d?Azur. Especialmente na parte espanhola, algumas estradas são propositadamente bem rústicas para não interferir na natureza. Caminhos estreitos em serras íngremes, com uma cerca de madeira de 50 centímetros, apenas o suficiente para se saber onde termina o asfalto e começa a encosta da montanha. Mesmo não sendo um caminho novo para mim, há sempre uma forma de mudar o roteiro e, desta vez, a surpresa foi conhecer Cadaqués, extremo nordeste da costa espanhola, a 170 quilômetros de Barcelona. Lugar frequentado por Miró, Picasso, Garcia Lorca, Luis Buñuel, atores do cinema e teatro que foram amigos pessoais do mais famoso morador local, o maluco Salvador Dali. Estar ali diante de sua casa em Port Lligat, banhada por aquele pequeno braço de mar que foi inspiração para as criações surrealistas do paranoico genial Salvador Dali é algo muito forte. Já na costa francesa, um pit stop para uma boa cerveja no porto de Cassis, que foi minha base durante nove anos nos GPs da França de 1982 a 1990, quando era disputado no agradável circuito de Paul Ricard. Dali em diante, La Ciotat, Bandol, Toulon, Hyeres, cidades e vilas da chamada Costa Provençal até entrar na Côte d?Azur e estacionar em St. Tropez por uns dias. O duro foi sair de lá. Mas já estava chegando o momento de eu estar em Mônaco e a passagem por St. Maxime, San Raphael, Cannes e Nice foi só pra matar saudades. Cannes agitada ao extremo em pleno Festival de Cinema, 62ª edição, sempre coincidindo com o GP de Mônaco, este criado bem antes, em 1929, quando ainda não existiam nem a F-1 nem o Mundial. A F-1 reencontra Mônaco, o seu GP mais aguardado, em um momento que nada deixará para ser lembrado. FIA e Fota brigam nos bastidores, cada uma com suas razões consideráveis, mas ambas sem nenhuma disposição de acordo. Max Mosley não está errado em buscar uma diminuição do orçamento das equipes e, num primeiro momento, ele até imaginava estar ajudando a permanência das montadoras, todas em dificuldades econômicas. Mas acabou radicalizando ao estabelecer teto tão baixo e resolveu enfrentar a oposição das equipes com mão de ferro. A Ferrari, historicamente legalista, desta vez lidera os times na luta contra a antiga aliada FIA. E aí está o foco principal do problema. A briga não acaba tão cedo e a data limite de 29 de maio para inscrição das equipes no Mundial de 2010 deve ser solenemente desprezada. A Ferrari vai continuar usando todas as armas que puder para derrubar o que a FIA pretende que seja o regulamento do próximo Mundial. Certo está Fernando Alonso ao dizer que uma F-1 sem Ferrari e outros nomes tradicionais ficaria com a cara de uma GP-2. Brilhante definição. Só não sei se é mesmo assim que Alonso vê o esporte ou se ele já pensa com alma ferrarista.

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