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Cresce número de mulheres surfistas no Brasil

Antes marginalizadas, agora elas colocam a prancha debaixo do braço, mostram estilo e pegam as ondas que sempre sonharam

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Por Paulo Favero
Atualização:

A Escola Pública de Surfe de Santos tem um motivo especial para se orgulhar nesta data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher: pela primeira vez, desde que foi inaugurada, em 1992, a maior parte de novos matriculados para as aulas da modalidade esportiva é de mulheres. Segundo levantamento da prefeitura, 58% dos praticantes deste ano é do sexo feminino. “O surfe nunca esteve tão em evidência como agora”, explica Cisco Araña, professor e coordenador do projeto.

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Ele aponta que são vários os fatores que ajudaram a promover a inserção de mulheres na modalidade, e entre eles destaca o título mundial do brasileiro Gabriel Medina e o respeito que os profissionais da escola têm com todos os alunos. “Antigamente existia muito preconceito com a presença de mulheres na água. Os surfistas não davam chance e muitas evitavam surfar de prancha e preferiam o bodyboard por causa dessa discriminação”, conta.

Cisco foi o primeiro surfista profissional de São Paulo e fez fama na década de 1970. Aos 58 anos, ele vê uma importante mudança de paradigma. “É o efeito Medina e aqui em Santos nós percebemos em todos os lugares. O carteiro vinha perguntar sobre ele, o vizinho, e isso trouxe pais mais felizes, que acompanham seus filhos nas aulas. Quebrou de vez o preconceito, pois ele é um garoto de família, que não faz apologia às drogas, e um ótimo profissional. Isso ajudou bastante.”

Ao garoto de Maresias, que está na Austrália para a disputa do Circuito Mundial de Surfe, a presença de mulheres no esporte é muito importante. Ele, inclusive, sabe que ajudou a inspirar muitas delas. “É verdade! Quero dar os parabéns para todas as mulheres e principalmente para as praticantes de surfe. Me sinto um privilegiado por ajudar a melhorar a imagem do esporte e espero que muitas mulheres realmente pratiquem, pois assim teremos novos talentos femininos no circuito.”

Prática. As aulas em Santos ocorrem três vezes por semana e têm uma hora de duração. São gratuitas e os equipamentos são emprestados para os alunos no período. Uma parte da aula, de aquecimento, é feita na areia, e depois os alunos vão para a água. Além da maioria feminina, o contraste de idade também é muito grande. Crianças e adolescentes dividem as pranchas com pessoas da terceira idade. Em alguns dias da semana, há aulas para crianças especiais, deficientes visuais e pessoas com mobilidade reduzida. Um outro dado interessante é que a escola possui professoras, o que ajuda no contato com o público feminino.

Aos 32 anos, Isabela Panza de Andrade festeja o fato de poder viver do surfe. Ela dá aula na escola, onde começou em 2006 e só paralisou suas atividades por um período após ficar grávida. “A maior parte dos meus alunos é de mulheres. Elas conquistaram um espaço muito importante, tabus foram quebrados e agora temos respeito”, comenta. Ela lembra que a escola trata todos da mesma maneira, o que ajuda na divulgação e chegada de novas garotas. “O mar está mais bonito e colorido. O crowd é de meninas”, afirma, citando uma expressão usada para definir quando o mar está cheio de surfistas.

Para o prefeito Paulo Alexandre Barbosa, de 36 anos, o aumento no número de mulheres é uma grande notícia. “Santos é uma cidade com mais mulheres do que homens, inclusive no serviço público. E hoje, como elas saem à luta para ocupar o espaço que é delas, é natural que as políticas públicas levem isso em conta, abrindo cada vez mais espaço às mulheres. Na escola de surfe, o aumento da procura dá o recado. A hora é delas”, conclui.

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