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Crise financeira amedronta os clubes europeus

Apesar dos gastos milionários do Real, times da Espanha contabilizam prejuízo; 8 pediram concordata

Por Jamil Chade e GENEBRA
Atualização:

O anúncio das contratações milionárias de Kaká e Cristiano Ronaldo pelo Real Madrid esconde uma realidade de caos e dívidas no futebol espanhol e europeu. Ao final da temporada 2008/2009, vários clubes descobriram que simplesmente não têm mais dinheiro em caixa. Só na Espanha, um estudo da Universidade de Barcelona concluiu que os times somam dívidas de 3,4 bilhões (R$ 9,7 bilhões). Só o Real Madrid, o Atlético de Madrid e o Valencia acumulam um déficit de mais de 500 milhões (R$ 1,43 bilhão). Na temporada recém-terminada, só dois clubes tiveram lucro: Real e Barcelona. Mas a receita não foi suficiente para pagar as dívidas passadas. Sporting, Levante, Málaga, Murcia, Alavés, Las Palmas, Celta e Real Sociedad já declararam concordata para impedir uma falência ou, ainda pior, para evitar que sejam obrigados a cair para a Terceira Divisão e reiniciar suas atividades esportivas e financeiras com outros nomes. Os oito renegociam suas dívidas com os bancos. Segundo o estudo, esse endividamento é consequência quase direta do preço pago por jogadores. No Real Madrid, a dívida é de 562,78 milhões (cerca de R$ 1,6 bilhão) antes das aquisições dos novos craques. No Barcelona, multicampeão da temporada, o buraco é de 437,79 milhões (R$ 1,19 bilhão). A conta é simples. Por anos, os clubes conseguiram empréstimos de bancos e passaram a ter gastos acima de suas receitas. Com a chegada da pior recessão em décadas, a fonte secou. Por isso, os problemas não se limitam à Espanha. O Liverpool, por exemplo, foi obrigado a abandonar o projeto de construir um novo estádio. A empresa que controla o clube, a Kop Football Limited, de empresários americanos, perdeu mais de US$ 60 milhões (R$ 115 milhões) desde julho de 2008. Um avaliação feita pela agência KPMG alertou que o Liverpool correria o risco de não ter como se financiar mais a partir de agosto. A dívida do clube chega a £ 350 milhões (R$ 1,1 bilhão) com dois bancos. Há apenas cinco anos, a direção do clube havia dado ao técnico Rafa Benítez mais de 200 milhões (R$ 540 milhões) para gastar na contratação de jogadores. No total, o time somou 64 jogadores e um gasto fixo de salários de mais de 120 milhões (R$ 324 milhões) por ano. Mas tudo isso dependia de empréstimos que acabaram secando. Até o ano passado, investidores de Dubai e do Kuwait estavam interessados em comprar a equipe. Mas a crise fez isso também esfriar. Agora, o Liverpool passa por um sério aperto. Dan Jones, da consultoria Deloitte, garante que a renda do futebol continua em expansão. Prova disso é que a Premier League inglesa teve uma alta de £ 2,7 bilhões (R$ 8,5 bilhões) de entrada de recursos em 2007 para mais de £ 3,1 bilhões (R$ 9,8 bilhões) em 2008. Mas o problema é que os custos explodiram. Hoje, o futebol inglês soma uma dívida de mais de quase £ 2 bilhões (R$ 6,2 bilhões). "As dívidas não são necessariamente ruim. Mas elas precisam ser administráveis", alertou Paul Rawnsley, da divisão de esportes da Deloitte. A realidade das dívidas também passou a atormentar os pequenos clubes. O Newcastle caiu para a Segunda Divisão neste ano e está à venda - nenhum comprador apareceu. No Southampton, os salários de funcionários e jogadores foram cortados por uma semana. O clube espera a venda de um atleta para conseguir voltar a pagar suas contas. Na Escócia, a falência de uma empresa acabou deixando a federação nacional sem US$ 40 milhões (R$ 76,8 milhões) que seriam distribuídos aos clubes pelos direitos de TV. Sem esses recursos, os times alertam que podem ir à falência.

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