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Cuidados especiais em proteger as fontes

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Por Craig Simons
Atualização:

Há alguns dias, telefonei para um amigo chinês que, por acaso, é um grande advogado de Pequim. Ele frustrou certas autoridades de alto escalão dentro do Partido Comunista Chinês ao representar clientes delicados. Sabendo que o encontro com um jornalista poderia acarretar num problema maior, sempre tomo cuidado quando ligo para ele. Mas por causa da Olimpíada, tive a sensação de que deveria tomar mais cuidado do que o habitual. Sabendo que meus telefones estão provavelmente grampeados, fui até um hotel próximo e utilizei um telefone público. Sabendo que os telefones dele estão certamente grampeados, não mencionei a matéria na qual estou trabalhando, apenas perguntei se poderíamos nos encontrar para tomar um café. Para os correspondentes internacionais trabalhando na China, esta é a principal regra: certifique-se sempre de proteger suas fontes (e, é claro, os seus amigos). Para milhares de jornalistas que devem chegar a Pequim antes do início da Olimpíada, esta regra terá de ser aprendida rapidamente, em especial porque o país incrementou a vigilância em antecipação aos Jogos. A maioria dos dissidentes, subversivos e até aqueles geralmente considerados inconvenientes pelo Partido Comunista foi colocada sob vigilância, com freqüência observados pelas próprias comunidades locais. Os jornalistas estrangeiros receberam a promessa de poderem trabalhar num ambiente de reportagem livre - inclusive dispondo do direito de entrevistar qualquer um sem a necessidade da aprovação do governo. Mas as autoridades têm pressionado os prováveis críticos do Partido Comunista para que se recusem a dar entrevistas e, em alguns casos, para que deixem a cidade. Alguns conhecidos manifestantes chineses foram mesmo obrigados a deixar Pequim. A extensão das medidas para sufocar os dissidentes só ficou clara para mim recentemente durante uma visita a um restaurante. Enquanto conversava com o dono a respeito de uma série de novas restrições, ele me contou que a polícia local havia instruído os empregados do restaurante a não conceder entrevistas a jornalistas. "Mas o que poderia dizer uma garçonete de 20 anos a ponto de irritar o governo?", perguntei. Ele deu de ombros: "É assim que funciona o Partido Comunista." Na semana passada, o governo reiterou sua promessa. "Vamos respeitar completamente as regras de imprensa da Olimpíada", disse o porta-voz do ministro do Exterior da China, Liu Jianchao, durante reunião com a imprensa[NOVA CHINA][NOVA CHINA]. Era uma resposta às queixas feitas por alguns dos detentores dos direitos de transmissão de TV dos Jogos, que reclamavam de não receber acesso suficiente. Para mim e para minha noiva, Jen Lin-Liu, autora e jornalista, os protestos que vimos nas ruas são um lembrete para mantermos a vigilância. Enquanto cobrimos os jogos fora da Olimpíada - o gato e rato dos manifestantes e da polícia, as provações e o júbilo de uma cidade recebendo o evento pela primeira vez, o aparato de vigilância maciço empregado para garantir a segurança de um número recorde de autoridades estatais em Pequim - vamos nos lembrar de que as pessoas corajosas o bastante para dizer que o imperador está nu merecem de nós o maior esforço para preservá-las a salvo.

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