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Daiane: a ginasta moleque

Desde que conquistou o ouro no solo na etapa brasileira da Copa do Mundo de Ginástica, Daiane dos Santos não parou quieta. Entre suas visitas, esteve na redação do Estadão.com.br

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Por Agencia Estado
Atualização:

A ginasta Daiane dos Santos já tinha fãs esperando por ela antes mesmo do café da manhã, nesta segunda-feira, no hotel, em São Paulo. Desde que conquistou o ouro no solo na etapa brasileira da Copa do Mundo de Ginástica, não parou quieta. Festejou a medalha numa danceteria na noite de domingo mesmo e nesta 2ª, entre um compromisso e outro, visitou as redações do Estado e do JT, acompanhada da irmã Deise e da sobrinha Eduarda. Contou como é agitada sua rotina, que é chocólatra, amiga de Ronaldinho Gaúcho, muito mal-humorada quando está com fome e que foram as ginastas do Brasil que ensinaram o frio técnico ucraniano Oleg Ostapenko a abraçar. Todos querem saber da vida dessa gauchinha de 1,45 metro e ?41 quilos e 200 gramas?, que pôs a ginástica em evidência no Brasil. ?Parabéns, parabéns?... ia ouvindo Daiane enquanto andava pela redação. A agitação na rotina da garota de 22 anos começou com o primeiro lugar no solo no Mundial de Anaheim, em 2003. E só fez aumentar com cada uma das seis medalhas de ouro que conquistou em etapas da Copa do Mundo, a última delas em São Paulo. Não se aborrece com o assédio dos fãs, mas acha chato receber conselhos e críticas de todos os lados: dão palpites em como deve ser seu namorado e até nos exercícios de solo que executa. Quando bateu o carro, imediatamente criou um fato, com repórteres e manifestação de moradores contra os buracos e os perigos do local. No ano-novo teve de ficar no local mais escuro da praia para não ser reconhecida. Daiane volta nesta terça-feira para Curitiba ? não terá tempo de ir para a casa da família, em Porto Alegre. À tarde, já tem treino. O técnico vai complicar ainda mais a série no solo, incluindo uma pirueta e um salto mortal de costas na segunda passada, depois do famoso salto duplo twist carpado, para o Mundial de Melbourne, em novembro. Mas ainda ao som de ?Brasileirinho?. Daiane já está enjoada da música, que tocam em sua homenagem onde quer que vá, de pagode a restaurante. Mas acha difícil que Oleg mexa na coreografia agora. ?TIA ANA? - O pior momento em termos de pressão foi na etapa da Copa do Mundo do Rio, em 2004. Eu estava fazendo tudo ao mesmo tempo. Minha mãe (Magda) mora em Porto Alegre. Agora, tenho a ajuda da tia Ana (a melhor amiga de sua mãe) e ficou melhor para mim. Algumas coisas que não deveriam chegar a mim chegavam: tipo batata-quente na mão, que não se pode jogar no chão e tem de ficar segurando... E tem de treinar, conseguir resultado, ir para a faculdade, ter nota boa, ser atenciosa, dormir direito, comer direito e nunca ter mau humor. Passei praticamente tudo para a tia Ana. Só treino e estudo. COMEÇO DE TUDO: O resultado de 1999, no Pan de Winnipeg (prata, no salto, e bronze, por equipe) teve repercussão. Mas depois do Mundial de 2003 foi aquele baque. Por causa da medalha e do duplo twist carpado. Comecei a fazer esse salto por causa de uma troca de passada. Eu apresentava o esticado duplo para a frente, só que estava tendo muita dor no joelho. Aliás, o meu joelho ficou ruim por causa disso. Operei o joelho e, quando voltei, em 2003, fazia o duplo twist carpado, no treino, para criar resistência. Acabamos incluindo o salto na série. PRESSÃO: Em 2003, acabou o sossego. É um pouco difícil quando estou de mau humor, com pressa ou não posso atender. É difícil as pessoas entenderem. E também quando dão opinião sobre a ginástica ou a vida. Eu compreendo, mas é difícil quando estou de mau humor (?Principalmente quando ela está com fome?, entrega a irmã, Deise). Com fome, eu fico completamente mal-humorada. Não consigo esconder, a expressão do meu rosto fala por mim. PESO: Eu não vivo em fome permanente. Mas em dia de competição eu como muito pouco. Como após competir porque sei que tenho de estar pesando entre 41 quilos e 200 gramas e 41 quilos e meio, no máximo. Cem gramas fazem diferença. Cem gramas... Se isso for multiplicado, na hora da passada, vira 100 quilos. Por isso nossa briga constante contra a balança. Não só no solo, mas nas paralelas, no salto, na trave, em qualquer aparelho... pelo impacto no solo. Comer um pouco a mais ou até de beber já dá as cem gramas. Às vezes o ginasta pode nem jantar, mas só de tomar muito líquido pode ganhar peso. Ginasta não toma os dois litros de água por dia que recomendam para todo mundo. Ontem (domingo), comi de café da manhã um queijo e presunto enrolado e tomei um copo de suco. Ainda comi, já dentro da competição, um pedaço de chocolate. Fui almoçar às 4 da tarde. Eu não como muito. BAIXINHA: É de família. Meu avô materno era só um pouquinho maior que eu. Minha mãe tem 1,50 m. Minhas irmãs (são quatro mulheres) não são altas. Eu não podia ser mesmo muito alta. Eu não ligo de ser baixinha. Só no colégio, quando me chamavam de tampinha. O DESTINO E OLEG: Acho que a gente tinha de se encontrar. Nos damos bem, temos uma relação que não é só de técnico e ginasta. Hoje, ele sabe quando eu não estou bem, se eu não dormi direito... Eu também sei quando ele tem algum problema, se está chateado. O sucesso sa série depende 50% de cada um... Ele é um dos melhores do mundo. O mundo inteiro o conhece. No fim de 2004 foi uma briga por causa dele. O técnico da Rússia saiu e quiseram levar o Oleg. A Rússia é do lado do país dele. A China também queria, mas ele ficou. LIÇÃO DAS GINASTAS: É fácil conviver com ele. Mas ele odeia dar entrevistas, não pode ver um repórter dentro do ginásio. Acho que é porque lá fora, na Ucrania, eles não deixam repórter, fotógrafo e TV, entrar no ginásio. Comigo, a relação é normal. Com todas as ginastas. Ele não é de guardar ressentimento. Sempre chamamos ele por Oleg, e não por Ostapenko... acho que ele se adaptou ao Brasil. Aprendeu muita coisa aqui, como abraçar e não estender apenas a mão... Era estranho no começo. Ele é europeu, mais seco. Mas ele até faz brincadeiras. O Ricardo (técnico) ensina várias coisas. Outro dia o Oleg chegou com algo novo: ?Se não treinar direito posso matar você com minhas próprias mãos?. Também aprendeu a falar bisonho, como sinônimo de muito ruim. AMIGA DE RONALDINHO GAÚCHO: Em raras ocasiões consigo encontrar o Ronaldinho. Dar festa na casa dele não pode, porque a mãe não gosta. Geralmente ele fecha alguma casa noturna ou casa de amigo. Eu sou fã dele. Ele é o melhor do mundo. Joga muito. Além disso, é um cara muito legal. Sou corintiana por causa dos meus primos de São Paulo. COMPETIÇÕES: Tem o Brasileiro de Belém, em maio, e, no mesmo fim de semana uma etapa da Copa do Mundo em Ghent, Bélgica. Não sei quem serão os ginastas que irão para a Copa e os que disputam o Brasileiro. Tenho de competir fora, mas eu também tenho responsabilidade com o meu patrocinador, a Brasil Telecon, e o clube, o Grêmio Náutico União, de competir no País. Tudo isso está em jogo. Tenho de colocar muitas coisas na balança. O FUTURO: Sempre quis fazer Educação Física, mas não quero trabalhar como técnica de ginástica. Quero fazer especialização para trabalhar com crianças excepcionais. MENINA MOLEQUE: Sempre fui agitada. Até hoje não consigo ficar sentada em casa vendo televisão. Eu tenho de estar sempre fazendo algo. Para eu ficar em casa, só se estiver muito cansada. Da irmã Deise: ?No colégio ela se juntava com os mais terríveis da sala. Estava sempre aprontando. Brincava o tempo todo, vivia rasgada, descabelada, brigando com os meninos.? Acho que todas as ginastas foram mesmo meninas moleques....

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