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Danielle supera lesão e 3 derrotas até cumprir profecia da mãe

Por MAIR PENA NETO
Atualização:

Depois de perder três finais esse ano, a brasileira Danielle Zangrando não aguentava mais ouvir sua mãe lhe dizer que Deus estava guardando uma coisa boa para ela. Mas foi exatamente isso que lhe passou pela cabeça ao ganhar neste sábado a medalha de ouro dos Jogos Pan-Americanos, na categoria leve, até 57 quilos. "Acho que eu estava com mais vontade de superar essas três derrotas do que ela (a norte-americana Valerie Gotay) de ganhar o ouro", disse Danielle, referindo-se aos revezes sofridos na Copa do Mundo, em Belo Horizonte, um torneio em Cuba e ao Pan-Americano de Judô. "Não queria perder de novo de jeito nenhum." O ouro de Danielle salvou a pátria do judô brasileiro no terceiro dia de competições da modalidade, marcado pela contusão de Flávio Canto, outro favorito à medalha dourada, na semifinal da categoria meio-médio, abaixo de 81 quilos. Nas outras finais disputadas, o Brasil levou a prata na categoria leve (-73 kg) masculino, com Leandro Guilheiro, e na meio-médio (-63 kg) feminina, com Danielli Yuri. O primeiro perdeu por Yppon para o norte-americano, Ryan Reser. A segunda caiu na experiência e na categoria da cubana, Driulis Gonzalez, quadrupla medalhista olímpica. A vitória de Danielle na final do Pan também serviu para desempatar o confronto direto com Valerie Gotay, que registrava uma vitória para cada judoca. "Sempre tivemos lutas difíceis e estou muito feliz de ter ganho em casa, diante dessa torcida maravilhosa. Me senti dentro de um estádio de futebol", comentou Danielle, que reverenciou de joelhos a torcida, assim que a luta acabou, e passou em frente às arquibancadas jogando beijos e com o indicador levantado simbolizando o número um. A conquista do ouro no Pan teve significado importante para a judoca brasileira, que um mês antes dos Jogos teve uma lesão no quadril que chegou a ameaçar sua participação. Enquanto a equipe feminina seguia para treinar na Europa, Danielle ficou se tratando no Brasil. "Fiz uma artroscopia com infiltração no quadril e até para dormir sentia dor. Tinha que ir todo dia de Santos a São Paulo para me tratar e foi tudo muito difícil", contou. Danielle decidiu, então, procurar o fisioterapeuta Nílton Petroni, o Filé, que está trabalhando no Santos, e ele aceitou tratá-la. "Tenho que dedicar essa medalha também a ele, que me recuperou", disse Daniele, que teve na torcida 47 pessoas que vieram de Santos. "Minha família não se resume ao meu pai, minha mãe e meu irmão, mas também a amigos e primos." Outro importante sabor da medalha de ouro para Danielle foi ter quebrado o tabu de só conquistar bronze nos Jogos Pan-Americanos, como ocorrera em Mar del Plata (95) e Winnipeg (99). "Sempre na primeira luta pegava a cubana (Driulis) Gonzalez, que era uma pedra no meu sapato. Graças a Deus ela subiu de categoria", disse Daniele, falando da judoca cubana de 33 anos, ouro na categoria meio-médio, que enquanto lutou na leve conquistou nada menos que quatro medalhas olímpicas, incluindo a de ouro em Atlanta (96). Danielle tem um título mundial conquistado em Tóquio, em 1995, e gostaria de repetir a dose na competição marcada para setembro, no Rio. "Mundial é totalmente diferente e não dá para se iludir em repetir as medalhas conquistadas aqui. Mas as sete (judocas) da equipe têm condições de um bom papel para pensar depois em medalha olímpica", avaliou. Essas duas competições (Mundial e Olimpíada) são os próximos focos de Danielle, que já começa a pensar na aposentadoria. "Estou me programando para parar depois de Pequim, se possível com a medalha olímpica. Já me formei em direito e não posso viver do judô para o resto da vida."

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