Rafael Capote tinha 19 anos quando estreou, em 2007, pela equipe de handebol do São Caetano. Poucos meses antes, ele havia sido um dos três atletas cubanos que desertaram durante o Pan do Rio de Janeiro. "Minha vida pode melhorar."
Aos 27, ele agora é um 'catari' e defende a seleção do país árabe. O Catar enfrenta a Polônia nesta sexta-feira por uma vaga inédita na final do Mundial de Handebol. A vida de Capote, definitivamente, mudou.
Quando abandonou a delegação cubana no Rio de Janeiro, ele tinha 300 dólares no bolso. Com esse dinheiro, conseguiu pagar um táxi que o levou a São Caetano, onde jogava seu amigo cubano Michel. Em 2013, quando já atuava na Espanha, o El Jaish pagou sua rescisão contratual no valor de 300 mil euros.
Capote decidiu desertar a delegação de seu país por motivos, segundo ele, apenas profissionais. Ele tinha um sonho: iniciar a carreira de jogador de handebol no Brasil como um trampolim para a Europa. "Eu queria jogar, ter meu salário e mudar de vida", disse à época.
O jogador atuou no handebol brasileiro por pouco tempo. Já em 2009 conseguiu ir para a Itália. Mas Capote se destacou, no entanto, na liga espanhola, jogando pelo Naturhouse La Rioja, onde atuou duas temporadas, até 2013.
Capote, jogador alto e de boa força física, era um dos artilheiros do time espanhol. Indiretamente, o caminho para o Catar começou na Espanha. Em 2013, Valero Rivera, espanhol, foi contratado pela seleção do Catar para ser o técnico da equipe no Mundial de 2015.
Ribera passou a observar jogadores que tinham potencial para jogar pela seleção do Catar. Capote foi um dos escolhidos. O 'projeto mundial' estava no início.
Capote e outros jogadores da seleção do Catar estariam recebendo altos salários para atuar pelo país. Além disso, ganhariam uma bonificação por vitória no Mundial.
O Catar 'contratou' todos os 16 jogadores convocados para o Mundial, exceto o goleiro Saric, que atua no Barcelona. Os outros 15 jogadores atuam na liga de handebol do Catar.
O time de Capote, o El Jaish, é a base da seleção catari: oito jogadores atuam no clube. Rivera, que vive em Doha há 20 meses, recebe, segundo publicações europeias, 800 mil euros por ano.
Esse é um dos motivos que Rivera e jogadores da seleção do Catar evitam abordar o tema naturalização de atletas nas entrevistas. Capote não fala com a imprensa nem mesmo na zona mista, local onde jogadores dão entrevistas após as partidas.
* O repórter viajou ao Mundial a convite da Federação Internacional de Handebol