Publicidade

Dois dias, dez cães e 240 km na natureza: é assim a corrida Iditarod para adolescentes

A corrida de trenós puxador por cães Junior Iditarod, a mais longa do Alasca para competidores com menos de 18 anos, é uma oportunidade de os jovens colocarem suas habilidades à prova

PUBLICIDADE

Por Marlena Sloss
Atualização:

Quando Morgan Martens, 14 anos, deixou seu trenó ao ultrapassar a linha de chegada da corrida Junior Iditarod, após 16 horas, 40 minutos e 20 segundos de prova, mal dava para ver o sorriso em seu rosto, debaixo das camadas de roupa que o aqueciam. À parte seu tempo de prova, ele realizou uma façanha que poucos rapazes de 14 anos tentam: liderou uma matilha de 10 cães puxadores de trenó durante uma corrida de aproximadamente 240 quilômetros em meio à natureza selvagem do Alasca.

Morgan Martes e sua mãe após vitória no Junior Iditarod Foto: Marlena Sloss/ The New York Times

PUBLICIDADE

A Junior Iditarod, a mais longa corrida de trenós puxados por cães do Alasca para competidores com menos de 18 anos, é uma chance para os adolescentes demonstrarem suas incomuns habilidades com o trenó. Eles precisam saber esterçar o trenó, utilizar equipamentos de sobrevivência, resistir a ventos gelados e evitar a hipotermia.

Precisam saber como navegar sem sair do percurso e o que fazer se forem pegos por uma nevasca ou se a trilha desaparecer. Também precisam conhecer bem seus cães: qual deles prefere peixe em vez de carne de boi? Os pés deles precisam de proteção ou o tempo está quente demais? Dez competidores com idades entre 14 e 17 anos enfrentaram esse desafio em uma recente manhã de sábado, uma semana antes da Iditarod deste ano, uma corrida de trenós de 1.371 quilômetros que está atualmente em andamento.

Os competidores da categoria júnior iniciaram a corrida em Knik Lake, uma hora de carro ao norte de Anchorage, e avançaram por mais de 120 quilômetros até um refúgio remoto, onde acamparam ao relento para passar a noite, sob ventos congelantes e temperaturas de -12ºC ou menos. Após uma parada obrigatória de 10 horas, eles conduziram seus trenós por mais 104,6 quilômetros, até a linha de chegada em Big Lake. Anna Coke, uma competidora de 17 anos, conduz trenós puxados por cães há anos. Ela disse que se inspirou assistindo à Iditarod quando criança. “Quando tinha 10 anos, eu rezava todas as noites para conduzir trenós de cães”, afirmou ela.

Dois anos depois, ela ficou amiga de Jessica Klejka, uma competidora veterana da Iditarod, e passou a ser treinada por ela desde então. Anna faz excursões diárias de sua casa, nas proximidades de Wasilla, até o canil de Jessica, em Knik, e praticamente vive lá em fevereiro, gastando todo o seu tempo livre cuidando dos cães e treinando condução de trenós. Ela competiu puxada pelos cães de Jessica na corrida júnior nos três anos mais recentes.

“Nada no mundo é melhor do que estar sozinha com seus cães, sua equipe”, afirmou Anna. “Isso traz muita paz. E assim eles fazem de você uma pessoa melhor. Eles dependem de você, e você depende deles. É um exemplo realmente muito lindo de trabalho em equipe, perseverança e trabalho duro.”

Junior Iditarod é realizado desde 1978 Foto: LOREN HOLMES/ REUTERS

Muitos competidores júnior de corridas de trenós treinam anos para conseguir participar das provas, e amigos e parentes vão à linha de partida lhes dar apoio antes da jornada de dois dias. “Há muito trabalho de preparação”, afirmou Anna. “Para estudantes do ensino médio, competir na categoria júnior é um compromisso muito, muito grande.”

Publicidade

Para alguns participantes, o evento marca a primeira vez que passarão a noite longe dos pais. A maioria dos competidores da corrida júnior literalmente nasceu praticando o esporte. Ava Moore Smyth, de 14 anos, de Willow, é a terceira geração se sua família nas corridas de trenós de cães: sua mãe e seu pai competiram na Iditarod, o avô participou da primeira edição do evento, e a avó foi uma das primeiras mulheres a completar a prova.

Ellen Redington, 14 anos, de Knik, é a quarta geração de competidores em sua família. O bisavô dela, Joe Redington Sr., ficou conhecido como fundador da Iditarod, e os pais dela se conheceram na Junior Iditarod de 1991. Martens, o vencedor deste ano, era o único participante de fora do Alasca. Mas o esporte está no sangue de sua família. A mãe dele, Janet Martens, compete em corridas de trenó de 32 a 64 quilômetros, perto da fazenda da família, em Brule, Wisconsin. Morgan Martens conta com o apoio de seus colegas de escola, também. “O diretor disparou um e-mail para a escola inteira, todo mundo vai assistir”, afirmou ele.

A Junior Iditarod é organizada desde 1978, cinco anos após a primeira Iditarod. A corrida tem apoio de patrocinadores, que ajudam a proporcionar os prêmios: o vencedor ganha um trenó novo, uma pele de castor e luvas que protegem de frio polar. Há também uma bolsa de estudos de US$ 6 mil.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Antes de empreender a jornada de dois dias, cada competidor carrega o trenó com equipamentos de emergência, e todos os cães são examinados por veterinários. Ainda que haja adultos ao longo do percurso, incluindo um inspetor de prova em uma moto de neve, os jovens atletas carregam também rastreadores via satélite para sua segurança.

Todos os competidores completaram a corrida em segurança, alguns resistindo a mais de 20 horas de prova. Eles enfrentaram ventos gelados, montes de neve fofa acumulada, trilhas que desapareciam e, ocasionalmente, algum alce. “A corrida ensina eles a serem confiantes e a habilidade de encarar problemas imprevistos e resolvê-los, não somente por conta própria, mas com sua equipe de cães”, afirmou Julia Redington, integrante da comissão organizadora da Junior Iditarod e mãe de Ellen Redington. “Todos eles gostam de competir, mas participar da Junior Iditarod é mais que isso: envolve percorrer uma jornada e muito aprendizado.” TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.