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Domingos de tédio

Por Eduardo Maluf
Atualização:

Não existe um apaixonado por futebol que abra mão da tarde de domingo. Festinha de família, cinema, reunião de amigos, encontro de casais, etc... Nada o tira da frente da telinha ou da arquibancada. Há dois anos (semanas antes de me casar), confessei esse vício incorrigível à minha noiva. Ela torceu um pouco o nariz, mas aceitou. Pela primeira vez em muito tempo, comecei a perceber os domingos meio sem graça. Acredito ter sido atingido pelo auge do desinteresse em 20 de março, quando jogavam São Caetano x Palmeiras e Corinthians x Americana. Seria um prato cheio. Mas, em meio à sonolência dos jogos, mudei a TV para o Programa do Gugu. Jamais imaginei que isso pudesse ocorrer. Naquela tarde, o apresentador levou ao palco uma cantora lírica adolescente, Paula Eduarda, 13 anos. Ela interpretou My Heart Will Go On, de Titanic, Memory, de Cats, sucessos da Ópera de Carmen, do Fantasma da Ópera, e ainda arriscou Ivete Sangalo... Um show! Quando me dei conta de que a bola rolava, as partidas estavam no fim. Mas não me arrependi da escolha. Já se passaram três meses e meio da temporada 2011, e até agora (quase) nada de emoção, competição, disputa acirrada. Os culpados de terem acabado com a diversão dos domingos são aqueles que inventaram o regulamento deste Campeonato Paulista. O que já não estava bom (pela fragilidade evidente dos clubes do interior) ficou ainda pior. Não via a hora do fim dessa primeira fase. Ufa, ela chegou! Depois de amanhã, será realizada a 19.ª e última rodada! São 19 jogos que servem para muito pouco. Peço licença a Antero Greco, meu amigo, professor e vizinho de coluna às sextas-feiras, para discordar do que escreveu na segunda. Nem para Palmeiras, o líder, e São Paulo, o vice, vejo grande utilidade. Felipão acertou a defesa alviverde, Lucas se encaixou ainda mais no ataque tricolor. Mas tudo isso tem pouco significado diante de adversários tão frágeis como Prudente, Linense, Ituano... Boa parte dos resultados vale mais para animar e iludir o torcedor. Não quero, de jeito nenhum, dizer que Palmeiras e São Paulo são fracos e nada mostraram. São eficientes, competentes, têm bons jogadores e podem lutar por títulos em 2011. Mas foram pouco testados. Nasci em Piracicaba e adoro o futebol do interior. A queda dos pequenos, no entanto, é cada vez mais acentuada... Um exemplo recente é a Ponte, um dos melhores "caipiras" do Estadual. Na Copa do Brasil, sofreu 3 a 0 do abalado Goiás em Campinas e caiu precocemente. Marco Polo del Nero, o presidente da FPF, é aberto a mudanças e sabe que essa fórmula de disputa não deu resultado. Em 2012, certamente teremos algo diferente. Sou amplamente favorável ao sistema de pontos corridos, que teria proporcionado grande emoção nestas últimas rodadas. Os quatro grandes estariam brigando, jogo a jogo, pelo título. O Corinthians não teria entrado tão devagar contra o São Caetano. O Santos não teria utilizado time misto em Americana. Os clássicos teriam grande relevância e não seriam lembrados apenas por momentos especiais, como o centésimo gol de Rogério Ceni, contra o Corinthians. De que adianta termos algumas semanas de emoção na fase de mata-mata, depois de três meses insossos? Marco Polo já explicou que é inviável retomar a fórmula de pontos corridos, por causa da escassez de datas. "Não daria para fazermos dois turnos." Ok. Mas dar oito vagas na primeira fase é demais. Em 2/3 do campeonato, os grandes já se garantem nas quartas de final e passam a perder ainda mais o interesse pela disputa. E os times do interior não vão ver a situação melhorar apenas por se classificar para a segunda fase. Não sou contra o Estadual, mas, se medidas não forem adotadas, ele vai morrer, por mais charmoso que seja. Veremos mesmo o ranking de forças a partir do Brasileirão. Apesar da decepcionante campanha na Libertadores, ainda aposto no Santos como principal equipe. Isso, claro, se mantiver Ganso e Neymar. Mas vejo o São Paulo, com a chegada de Luís Fabiano, bem próximo, ambos à frente de Palmeiras e Corinthians.

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