PUBLICIDADE

Publicidade

Doping: maior adversário do COI

Entidade investiu pesado para evitar novos vexames como o de Marion Jones, que de heroína passou a grande vilã

Por Valeria Zukeran
Atualização:

A Olimpíada tem vários inimigos ocultos, como o terrorismo, as falhas operacionais ou a corrupção. Mas não há adversário mais combatido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) que o doping. A entidade não poupou esforços nem dinheiro para garantir que os Jogos de Pequim sejam os mais ?limpos? possíveis, tanto que investiu US$ 6 milhões (cerca de R$ 9,6 milhões) só para montar um laboratório na capital chinesa e promete a maior ?operação pente-fino? da história da competição. Serão 4.550 exames, contra 3.667 feitos em Atenas/2004 e 2.360 em Sydney/2000. Há um bom motivo para tanto investimento. O doping não afeta apenas a distribuição de medalhas dos Jogos, mas a credibilidade da Olimpíada como instituição e a circulação de dinheiro no meio esportivo. Basta lembrar das conseqüências do recente escândalo envolvendo a atleta norte-americana Marion Jones, que ganhou cinco medalhas, três de ouro, nos Jogos de Sydney. Desde 2003, quando descobriu-se que o laboratório Balco desenvolveu e forneceu tetrahidrogestriona(THG) para vários atletas - substância até então não detectada em exames antidoping - Marion tornou-se suspeita, pois o marido, Tim Montgomery, foi um primeiros atletas flagrados pelo uso da substância. Inicialmente, diante da Justiça, a campeã olímpica negou envolvimento no caso, mas no ano passado, quando novas revelações vieram à tona, Marion admitiu que competiu dopada em 2000. O COI resolveu tirar as medalhas da atleta, que foi condenada à prisão pela Justiça americana por perjúrio, mas escapou de pena maior com a confissão. A heroína virou vilã. No entanto, muito estrago foi feito em sete anos: durante o período, Marion faturou com patrocínios e campanhas publicitárias a partir de sua imagem de campeã. Além disso, a revelação do doping da americana colocou os dirigentes do COI na constrangedora situação de ter de passar uma das medalhas para a grega Katerina Thanou, que foi punida por não participar de um exame antidoping nos Jogos de Atenas. O Comitê não quer passar por novos vexames. Dos 4.550 exames previstos - que terão os resultados divulgados em, no máximo, 72 horas - mil serão feitos a partir de amostras de sangue, as quais serão guardadas por alguns anos para novas análises no caso da descoberta de novas substâncias dopantes, tal como ocorreu com Marion. Das 3.550 amostras de urina, 650 passarão por testes para detectar a presença de eritropoietina (EPO) e 400 terão análise de presença de hormônio do crescimento (hGH). COLETA JÁ COMEÇOU As coletas foram iniciadas ontem, na abertura da Vila Olímpica. A partir do ingresso na área, os atletas se comprometem a ficar disponíveis 24 horas para exames. Em caso de doping positivo, eles poderão recorrer à Corte Arbitral do Esporte (CAS), que decidirá a questão em 24 horas. Os americanos também não querem passar por novos constrangimentos. Para os Jogos de Pequim, a agência antidoping do país (Usada) intensificou os projetos de conscientização. O Brasil já experimentou os dois extremos da questão. Em Atenas, ganhou um ouro no hipismo de saltos, com Rodrigo Pessoa, bom tempo depois da competição, em seguida à divulgação da análise de doping no cavalo do irlandês Cian O?Connor. Em contrapartida, no Pan do Rio teve a nadadora Rebeca Gusmão flagrada pelo uso de substâncias proibidas. Está suspensa temporariamente, embora caiba recurso. A confederações têm procurado orientar os atletas. Fora isso, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) montou uma policlínica na Vila Olímpica com atendimento médico permanente, recurso que pode impedir casos de doping por automedicação. FRAUDES NOS JOGOS 1904 O inglês Thomas Hicks ganha a maratona dos Jogos de Saint Louis com a ajuda de estricnina. 1960 O ciclista dinamarquês Knut Jensen morre durante competição dos Jogos de Roma depois de uma overdose de estimulantes. O Comitê Olímpico Internacional (COI) reúne uma junta médica para elaborar uma lista de produtos proibidos. 1968 Os Jogos do México, em 1968, são os primeiros a contar com exames antidoping. 1988 O velocista canadense Ben Johnson ganhou a medalha de ouro nos 100 metros com recorde mundial de 9s79, mas sua glória durou pouco. No dia seguinte o exame antidoping apontou presença de estanozolol (esteróide anabolizante). A medalha foi retirada e dada ao americano Carl Lewis. 2000 A velocista Marion Jones ganha cinco medalhas nos Jogos de Sydney, em 2000, três ouros e dois bronzes Sete anos depois, a atleta americana confessa que competiu dopada e teve suas medalhas retiradas pelo COI. 2004 Os velocistas gregos Costas Kenteris e Katerina Thanou são requisitados para exames antidoping, mas desaparecem da Vila Olímpica, em Atenas. Horas depois, em um hospital, alegam que sofreram um acidente de moto. A dupla foi punida pelo COI. Katerina tenta competir em Pequim, mas a entidade ainda vai avaliar o caso. 2008 COI divulga nova regra na qual se um atleta for punido por doping em Pequim e tiver de cumprir mais seis meses de suspensão, ele não poderá competir na Olimpíada de Londres, em 2012. RIGOR BEM MAIOR 2.360 exames antidoping realizados nos Jogos de Sydney 3.667 amostras foram colhidas na Olimpíada de Atenas 4.550 exames estão programados para o evento deste ano em Pequim 72 horas será o tempo para a divulgação dos resultados

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.