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Dor abate o herói chinês

Liu Xiang desiste e país cai em pranto

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Por Cláudia Trevisan
Atualização:

As 39 medalhas de ouro conquistadas pela China até ontem não foram suficientes para amenizar o choque e a desilusão provocados pela desistência de Liu Xiang, o maior herói entre os esportistas nacionais, que tentava repetir a façanha dos Jogos de Atenas e vencer a prova dos 110 metros com barreira. O silêncio e o choro tomaram conta dos milhares de espectadores que lotaram o Ninho de Pássaros na ensolarada manhã de ontem para ver seu ídolo pela primeira vez nesta Olimpíada. Mas Liu nem chegou a correr. Com uma contusão no calcanhar, ele saiu do estádio mancando, diante de 90 mil fãs perplexos. Muitos vindos de outras cidades apenas vê-lo correr. "Estou muito, muito, muito triste", disse a estudante Song Xie, que viajou duas horas de trem com o namorado, Zhu Junxun, para torcer por Liu. Ontem foi o primeiro dia da fase eliminatória da modalidade. Quando Liu apareceu na pista de atletismo às 11h45 de ontem, os torcedores reagiram em uníssono e começaram a gritar "jia you!" (algo como "força!") e a agitar bandeiras chinesas. O indício de que algo não ia bem surgiu logo que o atleta correu poucos metros para se aquecer e se agachou com uma expressão de dor. Ainda assim, Liu foi para o bloco de partida e saiu quando outro atleta queimou a largada. Nesse momento, os telões do Ninho de Pássaros revelaram seu rosto contorcido pela dor e ficou claro que o herói chinês estava fora da disputa. Enquanto os outros corredores tomavam suas posições, Liu saiu mancando do estádio, sob o silêncio da platéia. "Fiquei espantado com a quantidade de pessoas que dependem dele como um herói nacional. São crianças, velhos, adolescentes, adultos. As pessoas estavam chocadas e havia gente chorando à minha volta", afirmou Brian Sung, americano filho de pais chineses. Jornalistas chineses, voluntários olímpicos e pessoas de todas as idades derramaram lágrimas depois que o atleta abandonou o estádio. Seu treinador, Sun Haiping, chorou na entrevista que concedeu logo depois para falar da lesão de Liu. O atleta ganhou a admiração dos chineses em 2004, quando conquistou a medalha de ouro nos 110 metros com barreira, contrariando a convicção de que asiáticos não são bons em provas de velocidade. O atleta concluiu a prova em 12s91 e se tornou o primeiro não afrodescendente a obter um tempo inferior a 13 segundos. Em 2006, quebrou o recorde mundial da prova, com 12s88. Com essas credenciais, o corredor era considerado favorito na Olimpíada de 2008 e foi o escolhido para ser o primeiro atleta a carregar a tocha olímpica em Pequim, depois de ela ser acesa pelo presidente Hu Jintao, em 31 de março. Na semana passada, seu treinador, Sun Haiping, afirmara que Liu havia se recuperado do problema no tendão que o tirou do Reebox Grand Prix de Nova York, em maio. Ontem, afirmou que Liu começou a sentir dores no sábado em razão de outra lesão que apareceu há cerca de seis anos. O problema é no pé direito, o que dá impulso à sua largada. "Há um enorme stress nessa área", observou Sun Haiping, depois de conseguir controlar o choro compulsivo.

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