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Dunga, o bode expiatório

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Por Ugo Giorgetti
Atualização:

Sei que é chato falar sobre seleção brasileira, mas não resisto. Pensei que todos tinham perdido interesse nela, mas o jogo contra a Argentina me alertou que a seleção sobrevive intacta na cabeça de muitas pessoas. Depois do jogo as reações foram quase sempre as mesmas: fora Dunga. Concordo com todos quanto às qualificações do Dunga. Nunca o tive em alta conta enquanto jogador e previa que não iria apreciá-lo enquanto técnico. Mas a explicação do mau futebol da seleção é outra: simplesmente não temos grandes jogadores. Faz tempo o Brasil vive de um mito que pouco a pouco se desfaz. Vive da imagem dos feitos de craques passados e desaparecidos, vive em suma de conquistas antigas, feitas por pessoas hoje em idade quase provecta. O acúmulo de males de que padece o futebol brasileiro, agravados nos últimos 20 anos, cobra agora seu preço. Clubes falidos, dirigentes despreparados, governo omisso e indiferente, novos espertalhões surgidos para fazer companhia aos que já existiam, agentes, conselheiros, empresários, representantes, firmas e corporações que chegam no futebol para encher os bolsos de dinheiro, mais treinadores incompetentes, tanto na base quanto nas equipes principais, televisões determinando até o horário das partidas e a publicidade transformando jogadores em "celebridades". Junte-se a isso uma massa de jovens que não pratica nenhum esporte, que sequer tem tempo para ir e voltar do trabalho, vivendo em grandes ajuntamentos urbanos que privilegiam a especulação imobiliária de todas as formas, eliminando campos, terrenos, várzeas e temos uma visão simplificada, mas não de todo imprecisa do estado do futebol brasileiro. E é o Dunga o culpado? Há algum meio-campista por aí que sequer lembre Falcão, Cerezo, Andrade, Zenon, Pita, para ficar só nos últimos 20 anos? Depois de Romário e Ronaldo apareceu mais algum centroavante? Como o futebol das seleções européias é o que sempre foi, é possível até ganhar uma Copa como a de 94, claro que, pelo menos, com a presença em campo de um Romário. Às vezes apenas um grande jogador é o suficiente, como foi em 2002, quando o injustiçado e freqüentemente subestimado Rivaldo carregou o time. Rivaldo não estava mais em 2006 e deu no que deu. No entanto, estamos convencidos que o problema está no banco. Então, por favor, me digam quem são os grandes jogadores do momento? Não pediam que Dunga renovasse o elenco? Aí está a renovação. O fato é que estamos exauridos e esgotados. Podemos até ganhar da Argentina. O futebol lá padece dos mesmos males que aqui, e não estão em nada melhores do que nós. Como nós, de vez em quando têm seus lampejos de grandeza e ganham um jogo. Mas lá como cá não há mais tempo para criar jogadores. Eles vão embora ainda em formação e contrariamente ao que muita gente pensa a Europa não lhes ensina nada. Freqüentemente são devolvidos abatidos e perplexos para tentar se recuperar aqui, como o jovem Leny, por exemplo, que saiu como enorme promessa e ao voltar não consegue sequer ser titular do Palmeiras.Vamos ver o que vai acontecer com o Pato. Um dia ele volta, só não sei como. Por isso Dunga é apenas o bode expiatório de quem não quer ver a realidade. De quem só vê a camisa em campo e por isso exige que jogadores médios sejam, Tostão, Gerson, Careca, Zico, Sócrates, etc.etc.

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