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É hora de falar sério, Brasil

Não é viável e tampouco recomendável, técnica e economicamente, realizar o projeto de Pirituba em cerca de três anos, sob pena de termos obras mal planejadas

Por José Roberto Bernasconi
Atualização:

A Copa de 2010 terminou. Exige-se, agora, que os responsáveis pela preparação brasileira para realizar bem a Copa de 2014 se debrucem sobre os desafios de executar as obras de infraestrutura esportiva e geral para a realização do Mundial. Isso porque ainda há indefinição em questões básicas, essenciais, como sobre o estádio que receberá a abertura.A polêmica que se instaurou após a decisão da Fifa de retirar o Morumbi da Copa 2014 ? se a capital paulista deve construir um novo estádio em Pirituba para recepcionar o jogo de abertura do campeonato ou optaria por outra solução, desistindo do jogo inaugural ? é emblemática da época em que vivemos. Este é o momento de falar sério e pensar não somente no espetáculo, mas essencialmente nos custos e benefícios, no legado para a sociedade, nos investimentos a serem feitos, públicos em sua maioria. Ponderando todos esses quesitos e tendo em vista que a construção de um novo estádio em São Paulo, com capacidade para mais de 65 mil espectadores, e de todas as demais obras exigidas para atender às exigências da Fifa (transporte de massa, vila de hospitalidade, entre outras), envolveria alguns bilhões de reais, o mais sensato seria o Brasil definir o Maracanã, revitalizado, para ser sede da abertura e da final. Afinal, os investimentos públicos na reforma do Maracanã para o campeonato serão feitos, obrigatoriamente.O novo estádio paulistano estaria situado numa área de 5,5 milhões de m2, declarada de utilidade pública pela Prefeitura de São Paulo, que pretende erguer ali um novo, moderno e amplo espaço para eventos, que substituiria o parque do Anhembi, já acanhado para a demanda, como principal centro de eventos da capital paulista. São Paulo é o maior polo de atração da América do Sul, possui diversificado turismo de negócios, é um centro de feiras e exposições e, assim, necessita construir e operar um novo centro de eventos de padrão global, condigno e compatível com sua condição de cidade mundial ? candidata a sede da Expo 2020 ou 2025. Mas, para isso, deve desenvolver o masterplan do empreendimento, obter as aprovações e os licenciamentos ambientais, proceder às licitações de caráter internacional para decidir a quem atribuir a concessão do empreendimento (construção, operação e manutenção) por 20 a 30 anos, incluindo os espaços cobertos de 350 mil m2 e espaços abertos, parque hoteleiro, restaurantes, equipamentos de apoio e até uma arena multiuso, além, é claro, da adequação total da área e de prover a infraestrutura necessária para sua implantação e operação. Só que isso, para ser pensado, estudado, planejado, projetado, licenciado, construído, equipado e montado, testado e aí, então, operado, demanda um prazo de seis a oito anos. Não é viável e tampouco recomendável, técnica e economicamente, realizar esse projeto em cerca de três anos, sob pena de temos obras mal planejadas, executadas às pressas e sujeitas a problemas de toda ordem, até mesmo de descontrole de custos e de qualidade, entre outros.Assim, a opção pelo Maracanã seria a que ofereceria a melhor solução. Com essa decisão, lógica, racional e que otimiza investimentos, São Paulo pode receber os jogos de classificação, das oitavas e até das quartas de final com o Morumbi, que já está pronto e exige apenas adaptações.O Brasil não pode correr o risco de soluções improvisadas. Os investimentos que devem ser alocados sob a rubrica Copa 2014 não são pequenos: para a reforma/construção dos 12 estádios, a estimativa é de cerca de R$ 6 bilhões; somando-se a isso as obras de infraestrutura chega-se a aproximadamente R$ 60 bilhões.Enfim, essa é uma oportunidade de ouro e que não pode ? e principalmente não deve ? ser desperdiçada pela falta de planejamento e de ações previamente estudadas e definidas. PRESIDENTE DA REGIONAL SÃO PAULO DO SINDICATO DA ARQUITETURA E ENGENHARIA (SINAENCO/SP)

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