E o atletismo perde espaço em SP

Direção do Complexo Constâncio Vaz Guimarães defende uso misto do local e desagrada a técnicos e atletas

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Por Giuliano Villa Nova e Heleni Felippe
Atualização:

Mesmo a contragosto, o atletismo terá de dividir o espaço no Estádio Ícaro de Castro Melo, no Ibirapuera, em São Paulo. A administração do Complexo Constâncio Vaz Guimarães vai a abrir a área ? que é do governo estadual ? para outros esportes. O atletismo, que tem reinado absoluto no local, ficou apreensivo com a decisão, principalmente quando alguns treinadores souberam da transferência da gaiola de proteção do lançamento de martelo da pista de atletismo. Eles garantem que não é compatível dividir espaço com outros esportes. Há preocupação porque a pista do Ibirapuera é a única pista em São Paulo para treinamento de atletas olímpicos e para competições importantes. Mas o processo é irreversível. "Este é espaço público e não podemos dar exclusividade para alguns, em prejuízo de outros", afirma Eduardo Anastasi, diretor do Constâncio Vaz Guimarães. "No complexo, estão sediadas mais de 30 federações, dos mais diversos esportes." O administrador confirma que o estádio será cada vez mais utilizado por outros esportes, como o rúgbi. E a Escola de Árbitros da Federação Paulista de Futebol começará a fazer aulas práticas no gramado. Mas não haverá jogos de campeonato de futebol ? a reportagem do Estado constatou que o gramado está muito esburacado, até para torneios de várzea. No governo anterior, o ex-secretário Lars Grael fez parceria com uma empresa, que investiu US$ 1 milhão na reforma da pista do Ícaro de Castro Melo, para provas de atletismo. "O uso misto é incompatível. O governo vai ter pouco retorno político e tirar muito do atletismo", reclama Elson Miranda, técnico de Fabiana Murer. Ele diz que os treinadores não foram comunicados sobre a mudança da gaiola do lançamento do martelo. Em sua avaliação, isso é grave porque a pista perderia o status de classe A, definida pela Iaaf, a Federação Internacional de Atletismo, para a realização de competições como o Grand Prix. "Não pode dividir. Os atletas treinam aos sábados, às vezes à noite, e aos domingos." Anastasi reconhece o compromisso com a empresa que investiu na reforma da pista, mas não de exclusividade. "Há contrato de licitação, válido por mais um ano, para exploração do espaço publicitário", informa. "Não haverá prejuízo para o atletismo. O compartilhamento ocorre em outros lugares", opina Eduardo Anastasi. Para o dirigente, o problema principal é a falta de espaços adequados para a prática esportiva. Ele exemplifica com a crescente procura do complexo pela população: no ano passado, 2 mil pessoas se inscreveram nos cursos gratuitos ministrados no local; só este ano, são mais de 6 mil. A gaiola do lançamento do martelo foi mesmo desmontada. Mas Anastasi garante que o equipamento será instalado do outro lado do gramado.

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