Em crise, atletismo busca uma luz no fim do túnel

Modalidade tenta sobreviver às dificuldades financeiras em um ano importante com a disputa do Pan e do Mundial

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Por Gonçalo Junior e Paulo Favero
3 min de leitura

Modalidade mais nobre do programa olímpico, o atletismo vive uma crise no Brasil. Equipes de corrida tradicionais, como a do Cruzeiro, estão sendo extintas e projetos vitoriosos foram encerrados ou não sabem como vão sobreviver nesta temporada. Para piorar, a CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) passa por crise financeira e política, pois o antigo presidente, José Antônio Martins Fernandes, renunciou após ser acusado de fraude.

Nesse cenário de incertezas, a entidade busca forças para fazer com que os atletas de elite tenham um bom papel nos Jogos Pan-Americanos, que serão disputados em Lima, no Peru, e no Mundial da modalidade, em Doha, no Catar. Mesmo com todas as dificuldades, muitos brasileiros conseguiram ter um bom desempenho no ano passado.

Centro Nacional de Desenvolvimento do Atletismo, em Bragança Paulista Foto: Wagner Carmo/CBAt

“A crise mostrou que nossos atletas, treinadores, membros da assembleia geral e da comunidade atlética são guerreiros. Eles conseguiram atravessar a crise política e financeira alcançando grandes resultados em 2018. Para este ano já temos outra perspectiva”, comenta otimista Warlindo Carneiro da Silva Filho, presidente da CBAt.

No ano passado, a B3, maior clube de atletismo do País, decidiu parar de investir na modalidade e retirou seu patrocínio do esporte. Com isso muitos atletas migraram para a Orcampi, de Campinas, e a melhor pista indoor de atletismo do Brasil começou a ser desativada. Outros competidores ficaram sem clube e alguns deles estão treinando no NAR (Núcleo de Alto Rendimento Esportivo), em São Paulo.

“Fiz de tudo para que isso não acontecesse, mas não deu. Nós temos uma pista indoor de aquecimento em Bragança, mas logicamente que não é da mesma categoria”, explica Warlindo, citando o Centro Nacional de Desenvolvimento do Atletismo (CNDA), que fica no interior paulista. Inclusive, a CBAt mudou sua sede para lá, a fim de economizar, além de ter promovido corte de funcionários.

Se a saída da B3 do atletismo caiu como uma bomba no ano passado, desta vez é a Orcampi que tem futuro incerto. O motivo é a falta de investimentos. “Nós não temos recursos diretos para 2019”, revela Ricardo D’Ângelo, coordenador da equipe. Nesse cenário, a primeira medida é a redução do número de atletas em 2019. Serão mantidos entre 30% e 40% dos 250 atletas que treinam hoje, em Campinas, sede do clube. Desse total, cem são atletas de alto rendimento e o restante pertence à base.

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Atualmente, a equipe recebe investimentos de três empresas em projetos aprovados na Lei de Incentivo ao Esporte (LIE). Apesar de os recursos garantirem a sobrevivência da instituição, há regras que limitam a utilização, principalmente para o alto rendimento. Um deles é o teto salarial de R$ 2,4 mil. Com isso, o foco será o treinamento da base. O destino dos atletas de alto rendimento está indefinido. “Vivemos um momento ruim, acredito que nunca tivemos uma situação pior que essa”, opina o coordenador.

A Orcampi possui atuação de destaque. O time perdeu por pouco o título do Troféu Brasil de Atletismo do ano passado para o Esporte Clube Pinheiros. Na edição, foram 102 atletas inscritos. Em 2018, o orçamento foi de R$ 3,7 milhões. Desse total, mais da metade foi repassado pela extinta B3.

Na opinião do coordenador, a saída é atrair investimentos privados. “O esporte não pode depender do investimento público. Precisamos convencer as entidades privadas a investir nessa ferramenta de educação”, define.

Em 2012, quando ainda se chamava Clube de Atletismo BM&F Bovespa (só depois virou B3), a empresa investiu R$ 20 milhões no Centro de Treinamento em São Caetano do Sul. Era nele que Fabiana Murer, do salto com vara, treinava. Agora, o local está em reforma e vai virar um centro de lutas. Os equipamentos de atletismo foram retirados e enviados para a Orcampi.

“Vamos dar atendimento a mais de 1.200 pessoas por dia, nas modalidades boxe, taekwondo, caratê, judô e jiu-jítsu, incluindo os munícipes do PEC (Programa Esportivo Comunitário). Nos próximos meses vamos iniciar obras de adequação do local, para receber os atletas. No momento, corre licitação para as obras de adaptação a serem realizadas”, diz a Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude da Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul.