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Em Moscou, a decisão do futebol globalizado

Com atletas de 20 países, Chelsea e Manchester decidem título europeu

Por Jamil Chade e GENEBRA
Atualização:

Uma verdadeira final do futebol globalizado. É assim que o jogo de hoje entre o Manchester United e o Chelsea está sendo chamado. Pela primeira vez, a disputa pelo título mais cobiçado da Europa ficará entre dois times da Inglaterra. Mas isso só nas aparências. Com mais de 20 jogadores estrangeiros, duas equipes inglesas compradas por russos e americanos e com torcedores espalhados da China ao interior da África, a partida é uma vitrine das novas fronteiras do futebol e de sua estrutura mundial. O jogo será disputado em Moscou, cidade que vem gastando cada vez mais dinheiro do petróleo no futebol. Responsável por fornecer combustível a toda a Europa, a Rússia descobriu em poucos anos que poderia passar de uma potência nuclear para uma potência energética e, assim, está financiando não apenas seus clubes como novos estádios, a sede dos Jogos Olímpicos de Inverno e outras atividades esportivas. De fato, o jogo marca o que pode ser o final de um ciclo para um russo: Roman Abramovich, cuja fortuna é estipulada em US$ 23,5 bilhões pela revista Forbes. Em 2003, o magnata comprou o Chelsea por 150 milhões de libras e prometeu transformar o time no maior do mundo até 2014, com investimentos de 500 milhões de libras. Para isso, não economizou: trouxe Drogba, Ballack e Shevchenko, por 30 milhões de libras. Na Rússia, Abramovich também está ativo e tem ligações com o CSKA Moscou. Sua empresa de petróleo, a Sibneft, é a patrocinadora da equipe. Uma vitória de Abramovich seria apreciada no Kremlin, pois demonstraria que o dinheiro russo tem o poder de transformar um time médio na Inglaterra na principal potência da Europa. Não por acaso, rumores em Moscou apontam que o magnata reserva uma festa de gala se sair vencedor. No rival, a história não é diferente. O Manchester foi comprado em 2005 pela família americana dos Glazers. Os investidores ainda são hostilizados pela torcida e a esperam que o título comece a mudar as coisas. No total, estarão em campo ou na reserva jogadores de cerca de 20 nacionalidades, entre eles o candidato a ganhador do prêmio de melhor jogador do mundo em 2008, o português Cristiano Ronaldo. Os times também estão entre os clubes com maior número de torcedores pelo planeta. O Manchester conta com sites em chinês, japonês ou coreano para estar melhor identificado na Ásia. No total, o time teria torcida de 32 milhões de pessoas. O Chelsea, com uma ampla campanha, conseguiu em dez anos ampliar em cinco vezes o número de seus torcedores pela Europa, chegando a 25 milhões. CONTRADIÇÕES Mas a final também é a da contradição. Apesar de os times ingleses dominarem hoje a Europa e o campeonato local ser o mais rico do planeta, a seleção da Inglaterra não conseguiu se classificar para a fase final da Eurocopa, em junho. Tanto dinheiro não trouxe felicidade. O jogo em Moscou pode ser um tiro financeiro no pé da Uefa. Há temores de que o estádio não estará lotado, já que alguns torcedores não conseguiram passagem ou visto para entrar na Rússia. Os clubes receberam 40 mil ingressos para dividir entre seus simpatizantes para o estádio de 83 mil lugares. Mas, com a entrada mais barata a US$ 200 (R$ 330), sem contar hotel e passagem, os torcedores podem não ter acompanhado o ritmo de gastos dos donos de suas equipes. TÉCNICOS O escocês Alex Ferguson e o israelense Avram Grant vivem situações opostas. Ferguson, há 22 anos no Manchester, é idolatrado pela torcida. Em sete meses, Grant é acusado de deixar o Chelsea com um futebol feio e sem identidade.

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