Publicidade

Campeão mundial de skate, Jagger Eaton se declara ao Brasil: 'Melhor lugar para competir'

Norte-americano de 20 anos também foi medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio

PUBLICIDADE

Por Josué Seixas
Atualização:

Um mês antes de competir em Tóquio, Jagger Eaton estava em Roma, numa das etapas do Mundial de skate street. Uma manobra deu errado e, ao voltar para os Estados Unidos, o skatista de 20 anos descobriu que estava com os ligamentos machucados e três fraturas no tornozelo.

Sequer havia tempo para se chatear. Foram duas semanas usando uma bota para estabilizar a região e mais duas semanas treinando dia sim, dia não, cerca de 30 minutos, para pegar a rotina de movimentos que teriam de ser aplicados na competição nos Jogos Olímpicos. O planejamento deu certo. Dos skatistas americanos, ele foi o único a conquistar medalha.

Em Tóquio,Jagger Eaton ficou com o bronze, atrás somente do brasileiro Kelvin Hoefler (prata) e do japonês Yuto Horigome (ouro). Foto: Lucy Nicholson/Reuters

PUBLICIDADE

Ele ficou com o bronze, atrás somente do brasileiro Kelvin Hoefler (prata) e do japonês Yuto Horigome (ouro). No mês passado, em Jacksonville, na Flórida, ele coroou o ano de 2021 com o título do Super Crown, superando o cearense Lucas Rabelo e o português Gustavo Ribeiro.

Em entrevista exclusiva ao Estadão, o skatista se declarou ao Brasil, país no qual competiu em diversas oportunidades. Uma delas, a mais memorável, foi em 2012, quando Jagger tinha 11 anos, na Mega Rampa de Bob Burnquist.

"Faz tempo que não vou ao Brasil e sinto muita falta daí. É um lugar muito diferente. É um lugar que o skate e o surfe dominam porque as pessoas vão para ver, já que muitos atletas daí são bons. Eu queria manter esse laço com o Brasil e sinto que consegui isso até nessa conversa", disse.

Você competiu em Tóquio após uma lesão no tornozelo. O que você pensou na hora e como ainda assim conseguiu o bronze?

Então, a minha preparação para as Olimpíadas foi extremamente estratégica. É a única palavra que posso usar. Roma foi a nossa última etapa e aí eu cheguei em casa e fui diagnosticado com ligamentos machucados, com fratura no tornozelo, e eu tinha um mês para as Olimpíadas, praticamente. Passei duas semanas usando uma bota e, nas duas últimas semanas, treinava dia sim e dia não por 30 minutos. E aí fui entendendo a minha estratégia, fazendo exatamente o que eu podia fazer - nem mais, nem menos. Eu dei meu máximo dentro das minhas possibilidades. Meu tornozelo estava muito mal. Eu estava mais preocupado em ter um dano permanente do que em andar de skate. Eu tinha uma estratégia de acertar duas manobras boas, de nota alta, e eu tinha que acertar essas duas.

Publicidade

A medalha de bronze mudou muita coisa para você?

Mudou muito, sabe? Não há uma competição como as Olimpíadas. Eu acho que a competição em Tóquio serviu para legitimar o skate pelo mundo. Tivemos muitos olhos prestando atenção no evento e eles puderam ver o quanto esse esporte é único, porque fazemos coisas iradas e nos divertimos. É uma comunidade mesmo.

Eu ganhei uns 250 mil seguidores com as Olimpíadas. É muito legal ver as pessoas interagindo. Elas falam o quanto gostam de skate e eu gosto de sentir que estou ajudando elas a gostarem ainda mais. É bom sentir que inspiro as pessoas, especialmente as crianças, porque elas são o nosso futuro. Antes das Olimpíadas, eu não tinha toda essa atenção. Não fazia ideia da atenção que eu receberia após a medalha.

Você compete no skate desde muito novo. Como tudo começou?

Eu aprendi a andar de skate quando tinha quatro anos, no dia de Natal. Meu pai fez uma pista para mim como presente e aí eu comecei a andar. Ele cresceu andando de skate um pouquinho e ali, mas nunca competiu nem nunca fez nada muito sério com isso. Ele sempre se dedicou à ginástica, inclusive na época que aprendia skate, então se concentrou ali.

Em Tóquio, Jagger Eaton ficou com o bronze, atrás somente do brasileiro Kelvin Hoefler (prata) e do japonês Yuto Horigome (ouro). Foto: Toby Melville/Reuters

Quando você soube que queria ser profissional?

Eu acho que, quando eu tinha uns seis ou sete anos, eu já sabia que queria ser um profissional. Quando eu tinha 11 anos e fui para o X Games, foi quando eu percebi que eu realmente queria continuar competindo neste nível profissional, mas indo além das mega rampas. Eu queria competir em park e street também e queria fazer dar certo. Eu inclusive tinha o objetivo de estar em park e street nas Olimpíadas, mas não passei para o park por duas posições.

Publicidade

Você disputou a Mega Rampa em 2012, com 11 anos. Seus pais liberaram sem reclamar?

Meus pais me deram muitas facilidades porque viram o quanto eu sempre fui apaixonado por skate e entenderam que não poderiam me afastar dele, eu acho. A Mega Rampa foi só uma forma de progredir no skate. Eles viram o quanto eu amava e disseram: 'Ah, Jag, é com você'.

Eles nunca colocaram dificuldades para mim. Os dois eram ginastas de nível olímpico, então o que a minha família entende é competição. Quando eu era criança, o que nós mais fazíamos era treinar e nos preparar para competições. Daí, nos meus 11, 12 anos, eu percebi que há muitas possibilidades no skate além do convencional. Dá para andar na rua, nas pistas, dá para fazer filmagem, então é muito dinâmico. Foi aí que eu entendi que dá para fazer tudo, muita coisa.

Hoje em dia, você prefere park ou street? E como é a relação com as megarampas?

Não dá para dizer qual dos dois eu prefiro. Eu amo o park porque é muito agressivo. Gosto de poder ir forte nas manobras, ir lá no alto. Dá para realmente sentir o estilo do skate. Já o street é muito progressivo. Sempre tem coisa nova para fazer, novas manobras, novos postos para passarmos… É muito dinâmico. Eu já tive minha diversão com a mega rampa, mas parei. Acho que não tinha muito o que para progredir e não estava andando de skate com todo o meu potencial e eu conseguiria atingir esse potencial no street e no park. Eu acho que estou sempre progredindo, que é o meu maior objetivo. Quero continuar me mexendo, crescendo, e posso fazer isso agora.

Você só tem 20 anos, mas uma grande progressão no esporte. O que você faz no dia a dia?

Eu ando de skate entre duas e quatro horas, dependendo da forma em que eu estiver andando de skate. Geralmente, eu acordo cedo, vou jogar um pouco de golfe. Sei que é uma coisa estranha para um cara de 20 anos, mas eu amo demais. Meu pai me ensinou a jogar quando eu tinha 15 anos e eu me apaixonei. Quando eu falo que ando de skate e jogo golfe, as pessoas não acreditam.

Publicidade

Você me falou que sua relação com o Brasil é muito antiga. Do que você lembra?

Eu sempre tive uma relação boa com os brasileiros. Gosto muito do Kelvin. Sempre olhei para ele com admiração porque ele é um cara de alto nível no esporte, além de ser gente boa. Conheço muitos brasileiros. Cresci perto do Pedro Barros, por exemplo. Conheci muita gente no park, no street. Acho que eu fui muitas vezes aí e consigo lembrar de várias vezes em que fui aí e me diverti quando era criança. No Rio de Janeiro, num STU Open de 2019, eu estava competindo e foi um dia irado. É muito bom ver o quanto todo mundo é próximo no Brasil, uma grande família. Eu tenho uma família gigante, então me sinto parte dessa família brasileira também. Eu fui na casa do Pedro Barros algumas vezes. Fui para Floripa quando eu tinha 13 anos e passei 20 dias andando de skate lá. Acho que Floripa é o lugar de andar de skate no Brasil. Tem muito skatista, surfista, é um lugar muito irado.

Eu cresci ao redor de gente falando português a minha vida toda, mas nunca aprendi a língua. É uma coisa que eu queria muito fazer [aprender].

Algumas das minhas melhores memórias de competição são no Brasil. Eu amo o Brasil demais. Em 2012, por exemplo, eu estava competindo na Mega Rampa. Eu tinha 11 anos. Foi um evento que o Bob Burquinst tinha anos atrás e foi uma coisa extremamente divertida. Foi uma das coisas mais iradas que eu já fiz na minha vida, nunca vou esquecer.

Muitos brasileiros vão à sua rede social?

Eu tenho uma boa base de fãs do Brasil e é o melhor país para competir. Não tem nenhuma torcida que se compare à daí. Eu realmente espero voltar a competir no Brasil no ano que vem. Já usei o tradutor algumas vezes para entender, admito (risos). Faz tempo que não vou ao Brasil e sinto muita falta. É um lugar muito diferente. É um lugar que o skate e o surfe dominam porque as pessoas vão para ver, já que muitos atletas daí são bons. Eu queria manter esse laço com o Brasil e sinto que consegui isso até nessa conversa.

As redes sociais são uma plataforma muito importante, mas acho que é bom quando nos distanciamos um pouco delas. No meu caso, eu gosto de postar as coisas que me fazem feliz e coisas que não me fazem parecer o melhor ser humano do mundo. Eu acho que é difícil conhecer uma pessoa pelas redes sociais, então tento focar na vida fora disso. Quando posto, penso em fazer as pessoas feliz ou mostrar algo que acho muito legal.

Publicidade

Você ganhou o Super Crown com manobras bem fortes. O tornozelo já está 100%?

Meu tornozelo está melhor. Descansei bastante, fiz muita fisioterapia e não precisei de cirurgia. Ganhar o Super Crown foi um sonho. Significou muito para mim, mais do que muitas coisas do que eu fiz. Tenho que agradecer ao público e garanto que sou um abençoado por participar disso. Eu não entro em nenhuma competição sem achar que vou vencer. Não vejo sentido em competir para não vencer. Lá em Jacksonville, pensei muito no processo: como eu gosto de competir, como é bom ter torcida de novo, e toda a parte estratégica das provas também. É um pacote completo.

Em Tóquio, Jagger Eaton ficou com o bronze, atrás somente do brasileiro Kelvin Hoefler (prata) e do japonês Yuto Horigome (ouro). Foto: Lucy Nicholson/Reuters

Sua família tem uma relação muito forte com a música, até mesmo com os nomes, não é? Por isso você usa os fones de ouvido?

Eu sempre ando de skate com fones de ouvido. Escuto muito rap, country, blues, jazz. Sou um cara muito eclético para música. Os fones de ouvido não são feitos para andar de skate, sabe? (risos). Eles caem bastante e eu tenho que ficar ajeitando. Em Tóquio, por exemplo, foi um pouco triste não termos a torcida ao redor durante as provas. Os fones ajudaram bastante porque eu consegui criar a atmosfera com a música. E o Jagger é, sim, por causa de Mick Jagger. O primeiro encontro dos meus pais foi com os Rolling Stones. A minha música favorita é Brown Sugar. Não sei a dos meus pais, mas tenho certeza que ele ficaria conversando sobre isso o dia inteiro se pudesse.

Em Paris-2024, se fala em limite de idade para os atletas. Você, até 2019, era o competidor mais novo da história do X Games. Concorda com essa medida?

Eu não concordo com o limite de idade para o skate. Eu acho que se você está pronto para competir nesse nível e se tem condições de competir nesse nível, tem que deixar competir. Quando eu era mais novo, a competição era divertida demais. Fica tudo na memória, porque eu ficava muito feliz. Hoje eu ainda amo competir, sinto que moro em cada lugar que vou competir. Eu quero continuar nessa jornada.

Ainda não existem datas para as suas competições em 2022, mas já está focado em Paris-2024?

Publicidade

Eu estou 100% pensando nas Olimpíadas de Paris. Eu quero voltar a competir nesse tipo de atmosfera. Quero começar o processo para me qualificar de novo. Eu acho que vou conseguir me classificar em street e park. Admito que preciso trabalhar muito para ter garantir essa façanha, claro, mas eu nunca fui o tipo de pessoa que desiste quando vê obstáculos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.