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Era uma vez um basquete campeão

Brasil perde para a Alemanha, na Grécia, por 78 a 65, e fica fora de uma Olimpíada pela terceira vez seguida

Por Amanda Romanelli
Atualização:

Era uma vez um basquete masculino bicampeão mundial e três vezes medalhista de bronze em Olimpíadas. Um Brasil que, cheio de glórias e feitos desde a década de 40, parou no tempo e num período de trevas que parece não ter fim. Ontem, a seleção brasileira perdeu a última chance de participar dos Jogos de Pequim, ao ser derrotada por 78 a 65 para a Alemanha, no Pré-Olímpico Mundial, em Atenas. Ficará, no total, 16 anos sem jogar a mais importante competição do esporte. A eliminação do Brasil, contudo, não começou na Grécia. Foi apenas o ponto final de uma conturbada tentativa de ir aos Jogos. Os próprios jogadores admitem que tiveram no Pré-Olímpico das Américas, em Las Vegas, no ano passado, a chance mais palpável de ir à China. Com praticamente sua força total, o Brasil sucumbiu diante dos problemas de relacionamento, individualismo, críticas públicas e severas contra o ex-técnico Lula Ferreira. A derrota para a equipe reserva da Argentina, atual campeã olímpica, postergou a chance para uma disputada repescagem. Na preparação para o torneio de Atenas, mais conflitos. A Confederação Brasileira de Basquete (CBB) buscou um técnico estrangeiro, o espanhol Moncho Monsalve, para tentar uma reação. Ouviu críticas de treinadores e ex-jogadores do País, que alegaram desprestígio à mão-de-obra nacional, e desagradou aos atletas da NBA, que preferiam um técnico que trabalhasse na Liga Norte-Americana. Moncho teve apenas um mês de trabalho, perdeu seis jogadores importantes - Nenê, Leandrinho, Anderson Varejão, Guilherme Giovannoni, Paulão e Valtinho - por alegados problemas físicos, de saúde e pessoais. Foi para a Grécia com uma equipe de base européia, como Tiago Splitter e Marcelinho Huertas, além de jovens inexperientes, como o armador Fúlvio, do Paulistano, e o pivô Jonathan Tavernari, da Brigham Young University (EUA). Na última cartada, o Brasil falhou, perdendo duas partidas - contra Grécia e Alemanha - e ganhando da fraca seleção libanesa. Ontem, sem poder contar com o pivô Murilo, machucado, Moncho perdeu o jogador que seria responsável pela marcação do astro alemão Dirk Nowitzki. Não mudou o time que vinha começando as partidas, com Marcelinho Huertas, Marcelo Machado e Alex Garcia, Tiago Splitter e João Paulo Batista. O que se via em quadra era um time ansioso, intimidado, mas que conseguiu melhorar a situação assim que o pivô Baby Araújo entrou no jogo. Deixou os primeiros dez minutos de partida perdendo por apenas um ponto de diferença (14 a 13), mas sucumbiu no período seguinte. Nowtizki e o armador Roller fizeram um segundo quarto perfeito e colocaram a Alemanha em vantagem de quase 20 pontos (31 a 13). Raça e briga não faltaram, mas a ansiedade brasileira voltou a aparecer. No fim do último tempo, o Brasil até diminuiu a diferença, mas não havia o que fazer contra um adversário que aproveitou 93% de seus lances livres e acertou 50% das bolas de três pontos. "Sabemos que é cada vez mais difícil entrar numa Olimpíada. Tivemos uma oportunidade no ano passado que, a meu ver, era mais fácil. Não conseguimos", analisou o pivô Tiago Splitter, único atleta a ser mais incisivo em suas declarações. "Foi um golpe duro (a eliminação). Mas, se a classificação tivesse vindo e todo mundo achasse que a situação era boa, a vaga iria tapar os buracos, e não adiantaria nada." O período de jejum coincide com a despedida de um dos maiores ídolos do basquete nacional, Oscar Schmidt, que participou da última Olimpíada em que o Brasil esteve - Atlanta/96. Coincide, também, com a administração do presidente Gerasime Bozikis, que assumiu a CBB em 97 e tem mandato até o ano que vem.

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