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Escrita dolorosa

Por Marcos Caetano
Atualização:

A queda do Cruzeiro diante do Estudiantes, em pleno Mineirão, na última quarta-feira, custou à equipe de Belo Horizonte o sonho do terceiro título da Libertadores. Além da evidente dor que infligiu sobre metade dos torcedores mineiros - a outra metade, dos atleticanos, encontra-se em estado de graça pela vitória no clássico, pela liderança do Brasileirão e, sobretudo, pelo fracasso rival -, o resultado da partida nos fez refletir sobre as razões dos tropeços de equipes que jogam em casa. A derrota do Cruzeiro foi tão inesperada que já foi apelidada de Minerazo, uma alusão ao Maracanazo, a decisão da Copa do Mundo de 1950, perdida pelo Brasil do mesmo jeito: jogando em casa e tomando a virada depois de abrir o marcador. Por conta do Minerazo, Verón e seus companheiros de Estudiantes desfilaram no aeroporto com a bandeira do Atlético-MG, torcedores do Galo fizeram um buzinaço pela madrugada e as gozações instantâneas dos rivais se multiplicam pela internet. Já vimos esse filme antes. Na verdade, não vimos outro filme neste milênio. Desde 1999, quando o Palmeiras venceu o Deportivo Cali nos pênaltis e conquistou sua Libertadores, todos os brasileiros que enfrentaram estrangeiros em finais saíram de mãos vazias. As duas conquistas de times nacionais na última década ocorreram em finais brasileiras. Foi o caso do São Paulo, que bateu o Atlético-PR em 2005 e do Internacional, que passou pelo mesmo São Paulo no ano seguinte. As últimas seis finais não caseiras terminaram em derrotas dos nossos times. O grande algoz dos brasileiros foi o Boca Juniors, que em 2000 abriu a série de vitórias estrangeiras em finais ao derrotar o Palmeiras na decisão por pênaltis, em pleno Morumbi. O Boca repetiria a dose em 2003, em cima do Santos, e em 2007, diante do Grêmio. Nas três decisões, os argentinos venceram o jogo de volta fora de casa, o que ajudou a construir sua legenda de equipe copeira. As finais que não envolveram o temível Boca também acabaram em desgosto para os brasileiros. Em 2002, o São Caetano, na ocasião um time da moda, venceu o Olímpia no Paraguai, mas, no jogo de volta no Pacaembu foi derrotado no tempo normal e nos pênaltis, dando adeus ao sonho de Cinderela. No ano passado foi a vez do Fluminense cair também nas fatídicas cobranças de pênaltis. O time precisava reverter os 4 a 2 que levou da LDU em Quito, sofreu um gol no início do jogo no Maracanã, teve o mérito de virar o placar para 3 a 1, mas, após mais de 60 minutos martelando no que restava do tempo normal e na prorrogação, não foi capaz de marcar o quarto gol, que seria histórico. Os equatorianos fizeram a festa. Consolidando a terrível escrita, na noite de quarta o Estudiantes deu a sexta volta olímpica estrangeira consecutiva em gramados brasileiros. Qual o mistério que seria capaz de justificar tantas derrotas em casa? É difícil apontar uma única causa. Mas se eu tivesse que apostar numa explicação diria que a dificuldade de administrar um resultado favorável obtido no jogo fora de casa, foi a principal razão da nossa sina. Fora o Fluminense - que, aliás, foi o único a vencer em casa -, os outros cinco times que perderam as finais em seus estádios foram bem nos jogos de ida. Mas aí caíram na manjada tentação de jogar com excesso de cautela, temerosos de ver a vantagem conquistada evaporar diante da própria torcida. A cautela acaba virando nervosismo e, farejando o nervosismo, os adversários crescem. Coragem pode não ser tudo na hora de decidir. Mas é quase tudo. Que o próximo finalista brasileiro tenha isso em mente.

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