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Esporte anima países atingidos por guerras

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Por Agencia Estado
Atualização:

Dois países do Oriente Médio que ainda sofrem seqüelas de guerras enfrentadas nos últimos anos estarão com suas bandeiras e novas esperanças entre as mais de 200 delegações previstas para o desfile de abertura da Olimpíada de Atenas, em 13 de agosto. Afeganistão e Iraque, longe de se considerarem completamente revigorados após os ataques militares dos Estados Unidos e aliados, pelo menos estão livres de dois tipos de ditaduras sangrentas: a do taleban e a de Saddam Hussein. As mudanças políticas e sociais ocorridas nos dois países destroçados se refletem no esporte e garantem novidades na Olimpíada em relação a Sydney-2000. Menos mal para as mulheres afegãs. Os bombardeios, a partir de outubro de 2001, não foram suficientes para as forças de coalizão chegarem ao terrorista Osama Bin Laden, mas o retrógrado regime taleban, destruidor de vidas, demolidor de tesouros históricos e inimigo de qualquer sinal de modernidade, acabou fazendo parte dos escombros de Cabul. As mulheres, antes proibidas de participar de competições esportivas, agora podem alimentar o sonho olímpico. O pioneirismo ficou com Lima Azimi, de 22 anos, que se tornou, em Paris, em 8 de setembro do ano passado, a primeira mulher do país a disputar prova no Campeonato Mundial de Atletismo. Lima levou ao pé da letra a antiga tese do idealizador das Olimpíadas da Era Moderna, o Barão Pierre de Coubertin, de que "o importante é competir". Ela fez os 100 metros rasos em 18 segundos e 37/100, bem longe do tempo da americana Kelli White e da jamaicana Merlene Ottey - 11 segundos e 26/100. E mais: em vez de usar short semelhante ao das adversárias, Lima evitou mostrar as pernas; tratou de correr de calça comprida. Não poderia ser diferente, pois, seu país, mesmo com as reformas, tem o nome oficial de República Islâmica do Afeganistão. A nova Constituição, por sinal, acaba de ser promulgada pelo presidente Hamid Karzai, tendo entrado em vigor no dia 4. Entre os 160 artigos, há um que estabelece: "O Islamismo é a religião sagrada". A atleta Lima Azimi, muçulmana, respeita os princípios de Maomé. Com esperança de ir à Olimpíada de Atenas, ela se diz vencedora: "Disputar o Mundial já foi importante para mim e para meu país." Em 1999, o Comitê Olímpico Internacional (COI) suspendeu o Afeganistão, por causa do taleban, o regime que dominou o país de setembro de 1996 a janeiro de 2002. A readmissão ocorreu só em 28 de junho de 2003, numa assembléia do COI em Praga. Se o Afeganistão levou 30 atletas à Olimpíada de Atlanta em 1996 e ficou fora dos Jogos de Sydney em 2000, desta vez há um ânimo justificável. Assim como ocorre com as moças, as chances do esporte masculino se ampliam. Fica liberada até a participação de pugilistas: derrubada a imposição do taleban obrigar os homens afegãos a ficarem barbudos, o país torna-se adequado às regras internacionais de boxe, pelas quais é proibida a inscrição de atletas que não fazem a barba. No futebol, porém, não há esperança para o Afeganistão. Os estádios de Cabul, que na época do taleban eram usadas para freqüentes execuções públicas de inimigos do regime condenados à morte, voltaram a ter vida nos dois últimos anos, mas a seleção nacional é fraca. No ranking da Fifa, que apresenta o Brasil à frente de outros 203 países e colônias, o Afeganistão aparece em 196.º lugar, deixando para trás apenas pequenas ilhas do Caribe e do Pacífico. Ao jogar em novembro pelas eliminatórias asiáticas da Copa do Mundo, o time afegão foi goleado pela seleção do vizinho Turquimenistão por 11 a 0, na capital do adversário, Ashgabat. O placar de dois dígitos não abalou o técnico Hamid Karzai, que, mesmo sabendo não haver chance de seu país conquistar uma vaga na Copa de 2006, prometeu: "O time vai melhorar. Estávamos sem experiência." O Afeganistão esteve por trás de uma das maiores crises do esporte mundial, quando do boicote da Olimpíada de 1980 por mais de 30 países. Foi a partir da invasão do Afeganistão por forças militares da União Soviética que o então presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, decidiu impedir a delegação americana de ir aos Jogos de Moscou e tentar convencer outras nações a aderir ao boicote. Países comunistas deram o troco, quatro anos depois: vários deles, entre os quais União Soviética, Alemanha Oriental e Cuba, não foram à Olimpíada de Los Angeles. O mundo mudou, o esporte também. O novo ataque ao Afeganistão, em 2001, desta vez por conta dos Estados Unidos em nome do combate ao terrorismo, foi insuficiente para ameaçar Atenas-2004. A palavra "boicote" está no museu. Haverá, porém, dura vigilância contra o terror nos Jogos, para evitar atentados como o de Munique-1972.

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