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Esporte

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Por Ugo Giorgetti
Atualização:

Começamos o ano muito mal. A nomeação do ministro do Esporte causou sensação, mesmo num país acostumado às péssimas surpresas proporcionadas por governantes de toda espécie. Sei que a chamada "base aliada" deve ser lembrada na formação de um governo. Mas não seria possível que o governo se reservasse o direito de vetar nomes apresentados pelos partidos contemplados? Não seria possível ao governo exigir do partido que apresentasse alguém de comprovada competência? Afinal, da base aliada é o partido, não necessariamente a pessoa que o partido indica para um cargo. Não posso crer, por outro lado, que o governo, consultado antes, tenha aprovado a nomeação do atual ministro do Esporte que tomou posse dia 1.º e lá está na foto oficial da cerimônia. Excluída essa possibilidade, fica o fato de que o partido nomeia quem quiser, sem dar qualquer satisfação a respeito do currículo, da vida pregressa, dos feitos e, principalmente, da afinidade que o nomeado possa ter com a pasta que vai comandar. Dizem que um ministro não necessariamente precisa ser um técnico da atividade do ministério. Em parte concordo. Mas há um dado importantíssimo que é o dado simbólico, um sinal dirigido a toda a sociedade, que não é mais do que um resumo da importância, do apreço, do status da pasta. Esse dado imediato, essa mensagem resumida, é o nome do ministro. A meu ver o nome do ministro embute o que se pretende da pasta e para que ela serve. Quando o ministro é um solene desconhecido a mensagem me parece clara. Quando, pior ainda, o ministro é muito conhecido e muito mal avaliado a mensagem é claríssima. Sem dúvida o esporte não está nas preocupações desse governo, ou foi usado como moeda de troca, entregue incondicionalmente a um partido político e, aparentemente, deixado à própria sorte. Isso é terrível, principalmente para um governo que se auto caracteriza como altamente preocupado com as questões sociais. Não há nada mais socialmente necessário que o esporte num país como o Brasil. Digo isso pensando na população como um todo, principalmente os menos favorecidos. Esporte é barato, inclusivo, solidário. Ensina valores de coletividade, de verdadeira liderança, de coragem, valentia, dignidade nas derrotas e vitórias. Devia ser levado a sério a partir da escola pública. Não requer investimentos absurdos. Requer apenas vontade e inteligência. Uma quadra, um campo de futebol, mesmo uma piscina, não são investimentos gigantescos. Países pequenos, mas de grande visão social, perceberam isso e utilizam o esporte como fator de educação do povo. O esporte brasileiro volta as costas para tudo isso. Aqui só interessa o ganhador, o vitorioso, o fenômeno que acontece de vez em quando e que vai "representar o Brasil lá fora". Não representa nada. Garotos são levados do Brasil em qualquer idade para qualquer lugar do mundo, movimentos como o Bom Senso são abafados e ignorados. O esporte funciona como uma miragem, como um bilhete de loteria para pais e mães do Brasil. De resto ele é notícia nos jornais e televisões apenas para injetar um pouco de ânimo num país que acaba de ser humilhado no esporte em que reinou. Por isso é exaltado só o campeão, a exceção, e não a regra. Não importa a modalidade. Aposto que nesta nação um número apenas miserável de pessoas pratica o surfe. Um número ligeiramente maior sabe o que é. Mas temos um campeão mundial de surfe. Merece ser honrado naturalmente e merece todo o respeito. Mas só é honrado porque é um fenômeno, um inesperado e surpreendente vencedor. Só isso. Se não fosse surfe seria outro esporte qualquer, inclusive os enfiados goela abaixo do brasileiro como as lutas de MMA. O país, como praticante de esporte, não existe. Mudar isso seria começar a mudança pelo Ministério do Esporte. Mudamos, mas, tudo indica, não para melhor. Feliz 2015.

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