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Estádios operam no vermelho

Com exceção do Morumbi, e só nos últimos dois anos, todos os outros são deficitários para seus proprietários

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Por Anelso Paixão
Atualização:

No exato momento em que os estádios de futebol se transformam no foco das atenções para a Copa de 2014, os clubes brasileiros ainda vivem o dilema de encontrar uma forma de torná-los rentáveis. Ao contrário de famosos templos internacionais, que geram receitas interessantes a seus proprietários, por aqui o problema persiste. Privados ou estatais, os palcos de futebol ainda são gigantes de cimento armado com áreas pouco aproveitadas a seu redor. Por isso, seguem deficitários. Em São Paulo, dois tradicionais estádios vivem situações bem distintas. Enquanto o municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, ainda convive com prejuízo mensal, o particular Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, do São Paulo Futebol Clube, espera fechar o ano com receita de R$ 19 milhões contra R$ 12 milhões de despesas - superávit na casa de R$ 7 milhões. O aconchegante Pacaembu, palco de momentos marcantes do futebol paulista, tem um custo anual de aproximadamente R$ 2,5 milhões e a receita com aluguel, neste caso exclusivo ao Corinthians, é de R$ 1,2 milhão, de acordo com o secretário municipal de Esportes, Lazer e Recreação, Walter Feldman. "Esse é o gasto apenas com o estádio, mas o valor com toda a estrutura do Pacaembu é de aproximadamente R$ 5 milhões", disse o secretário. Uma das atrações do local, aliás, é o Museu do Futebol, orçado em R$ 32,5 milhões. O Museu, porém, não paga aluguel e nem ajuda nas despesas. "Ele (o museu) também está buscando seu equilíbrio e gasta mais do que arrecada", justifica Feldman. Já o superávit do Morumbi é uma situação que vem ocorrendo há pouco tempo, desde 2007, quando a diretoria de marketing do São Paulo resolveu abandonar a ideia de estádio de futebol para um conceito moderno de polo de comunicação. Ou seja, um grande negócio. "Hoje, o futebol é um detalhe a mais no cenário do Morumbi. Estamos localizados numa região com o metro quadrado mais caro de São Paulo, encravado entre três shoppings, e estamos aproveitando bem nossa posição estratégica", diz o diretor de marketing, Júlio Casares. "Hoje somos um minishopping. Oferecemos várias opções de lazer, num conceito que batizamos de Morumbi Concept Hall." No local existe uma loja da Reebok, numa área de 720 metros quadrados, o restaurante São Paulo Bar, e a Livraria Nobel. "Em breve teremos outras novidades, como um bufê infantil, uma academia de ginástica e outras opções gastronômicas. Nossa visitação que era de 300 pessoas por dia chegou hoje a mais de 3 mil", explica Casares. Para receber a Copa de 2014, a previsão é que sejam gastos cerca de R$ 130 milhões em reformas. "Mas já temos vários contatos com a iniciativa privada, que vai bancar esse valor. O governo estadual vai participar com a estrutura externa, como vias de acesso", conta Casares, lembrando que o Metrô Morumbi deve ser entregue até 2011. A locação do Pacaembu sai por 20% da renda ou R$ 20 mil, enquanto a do Morumbi é de 15% da renda ou R$ 100 mil. Para shows, o São Paulo exige garantia de R$ 1 milhão. Mesmo sem receber os jogos do Corinthians no primeiro semestre, que provocou queda no orçamento, o estádio tricolor ainda opera no azul. "Quando se tem seis ou sete fontes de renda e você perde uma, o problema é menor. Para se ter ideia, só com a gravação de um comercial do Ronaldo com uma cervejaria, faturamos R$ 120 mil de aluguel. Isso, por seis horas", comemora o diretor de marketing tricolor. Ter um estádio gigante em uma região nobre da cidade, porém, já não é garantia de sucesso. Em Campinas, Guarani e Ponte Preta estão com projetos avançados para a construção de modernas arenas e para a venda de seus estádios, localizados em áreas de alto valor imobiliário. "Ninguém vive de glórias do passado. Para sobreviver, é preciso ver a situação do presente", costuma dizer o presidente do Guarani, Leonel Martins de Oliveira, sobre a eminente venda do Brinco de Ouro da Princesa. "Nosso estádio pode ter um fim semelhante ao da Fonte Nova, em Salvador", repete o presidente Sérgio Carnielli, da Ponte Preta, justificando a necessidade de negociar o Moisés Lucarelli. Mas, enquanto quem tem estádio pensa em vender, quem não tem sonha com um. E garante ser um bom negócio. O Corinthians, dono da maior torcida de São Paulo e a segunda maior do Brasil, resolveu descartar o Morumbi como "casa alternativa" para grandes jogos. Chegou a realizar partidas na distante Presidente Prudente. Agora, para o Brasileiro, confirmou o Pacaembu, sua tradicional "casa", para todos os jogos. O custo de aluguel, no entanto, não é pouco. Segundo o diretor financeiro, Raul Corrêa da Silva, 50% da arrecadação vai para gastos com o palco. "Não se trata apenas do valor do aluguel (R$ 20 mil). Tem muito mais coisas." Por esse cálculo, no ano passado o Corinthians arrecadou R$ 16,59 milhões (segundo o relatório de sustentabilidade) e teria deixado mais de R$ 8 milhões com locação. "Ter um estádio apenas como arena de futebol é certeza de déficit. Mas, como uma arena multiuso, aí é diferente", afirma o diretor. O desafio é operar no azul. O orgulho de ter um estádio próprio já não parece suficiente se o clube não conseguir pagar a conta. A RECEITA DOS ESTÁDIOS R$ 1,2 milhão é quanto o Pacaembu fatura por ano com aluguel ao Corinthians R$ 19 milhões é o valor que entrará nos cofres do São Paulo com o Morumbi neste ano R$ 130 milhões é quanto o Arsenal lucra com o Emirates Stadium por temporada R$ 300 milhões é a média de custos dos estádios que serão construídos para 2014

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