'Estou de um lado e a Federação de outro', diz Rodrigo Pessoa

Cavaleiro abre guerra contra entidade e diz estar disposto a criar uma liga independente para limpar seu nome

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Por Valéria Zukeran - O Estado de S. Paulo
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A guerra está declarada entre Rodrigo Pessoa e a Federação Eqüestre Internacional(FEI). O cavaleiro, campeão olímpico em Atenas 2004, está disposto a ir às últimas conseqüências - até organizar um movimento para a criação de uma liga independente - para limpar o seu nome depois de ter sido suspenso por quatro meses e meio por doping do cavalo Rufus durante os Jogos de Pequim. Veja também: Sem Rodrigo Pessoa, Athina Onassis Horse Show tem dia agitado   "Eu estou de um lado e a FEI está de outro", diz o brasileiro que garante ter o apoio de uma maioria esmagadora dos atletas do hipismo de saltos no sentido de que a entidade precisa se modernizar.   Nesta quarta, a FEI mostrou que não vai aceitar passivamente o fato de o cavaleiro ter obtido na Justiça brasileira uma liminar que permite a participação no Athina Onassis Horse Show, a final do Global Champions Tour, que está sendo disputado na Sociedade Hípica Paulista.   Além de divulgar uma nota oficial reprovando a atitude do cavaleiro e ressaltando que aos olhos da entidade Rodrigo ainda está suspenso, os dirigentes entraram em contato com os organizadores do evento no Brasil pressionando para que Rodrigo não fosse aceito entre os competidores. As maiores cobranças recaíram sobre os árbitros, que são diretamente ligados à FEI.   "Alegamos que não poderíamos deixar de cumprir uma ordem judicial", explicou André Beck, um dos organizadores da competição hípica.   Nesta quinta o Athina Onassis tem a prova classificatória para a grande final da temporada, com premiação de 900 mil Euros, que será realizada no sábado. Os 25 melhores cavaleiros do circuito participam da disputa, que começa às 15 horas.   Rodrigo deve participar. Na quarta estava inscrito para as provas, mas alegou não ter competido para poupar seus cavalos, que por um problema no vôo da Europa para o Brasil só chegaram quarta pela manhã. Rodrigo, no entanto, não poupou a FEI.   Por que você recorreu à Justiça, depois de ser punido por causa do doping positivo na Olimpíada? É claro que a gente quer um esporte justo e limpo, mas a punição foi desproporcional e nós vamos brigar para criar novas regras. Se você for pego por uso de uma substância proibida, que seja definido o quanto é porque muitas vezes a dose é tão pequena, tão fraca, que não tem nenhuma influência. É um erro, é um engano, pode ser uma contaminação. É preciso redefinir essas regras imediatamente para não acontecer mais isso. Recorri dessa decisão injusta, mas o tribunal esportivo raramente reverte as decisões das federações internacionais porque são elas quem indicam quem fará parte desses tribunais esportivos. O único jeito para mim era entrar com um recurso em um tribunal civil para poder competir.   Mas você está recorrendo ao CAS (Corte Arbitral do Esporte)? Estou recorrendo ao CAS. Na FEI não tem nada mais o que recorrer.   Mas o que aconteceu realmente? O tratador usou a pomada? Ele não usou. A substância entrou por contaminação. O tratador estava usando a pomada nele mesmo. Um dia não cuidou, não lavou as mãos, e como manipula 15 horas por dia, passou para o cavalo. Outra coisa que pode ter acontecido é que o cavalo do Doda estava sendo medicado com essa pomada, que continha a substância proibida, e usando a mesma máquina de gelo do Rufus. Essas podem ter sido as duas formas de contaminação. Mostramos fotos, mostramos argumentos, mas a FEI não considerou. É preciso definir a quantidade de uma substância usada em um tratamento que se pode encontrar posteriormente no animal, o que o pessoal chama em inglês de 'trash hole' (resíduo), uma quantidade que não vá mudar a performance do animal. Mas na FEI, ao entrar no processo você já é culpado.   E o que você considera uma punição justa? É delicado julgar minha própria situação, mas se você conseguir provar que foi um engano, um erro, que você não melhorou a performance, deveria acontecer como com a atleta do adestramento que foi desclassificada e tomou um mês de suspensão. Foi um engano, um erro, mas se eu repetisse daqui um mês ou seis meses, aí uma sentença maior seria adequada. O que não pode ser é dar para um quatro meses e meio, para outro três meses e meio e outro um. Aí não tem uma linha.   Essa decisão de acionar a justiça não pode ser ruim para você mais para frente, prejudicando seu relacionamento com a FEI? Eles já estão se sentindo afrontados e estão esperneando. Mas minha relação com a FEI não precisa ser boa nem ruim. Se explodir, explodiu. Não tem mais relação. Saltar um concurso a mais ou a menos não faz diferença, embora, é claro, eu queria saltar. Se (no meu caso) for uma sentença justa e adequada, não tem problema. Mas se não for, eu vou brigar pelos meus direitos, pela minha reputação. Minha relação com a FEI acabou. A partir de hoje eles estão de um lado e nós cavaleiros do outro. Existe unanimidade entre os cavaleiros - isso é importante falar também. Não estou sozinho. Eles sabem: o que aconteceu comigo pode acontecer com qualquer um.   Mais quais são as reivindicações? Regras mais precisas? Regras precisas, saber definir quantidades, definir dias que a substância permanece no organismo do animal, o 'trash hole'. Isto tem de ser definido. Se você toma uma aspirina, é avisado que ela fica no corpo 12 dias, mas encontram a substância no 14.º dia você é culpado. Digamos que você usa algo para melhorar a performance, também é culpado. Se eu estou com dor de cabeça eu tomo uma aspirina e vou trabalhar é uma coisa, mas se eu tomar uma 'bomba' e for trabalhar é outra coisa. Aí não.   Você tem conversado com os outros cavaleiros? Por exemplo, pensa em fazer um abaixo assinado? Encaminhar algo à FEI? Estou conversando com todos. Porque até agora nunca foi discutido uma revolução com justiça civil passando em cima da FEI. Tem outros casos na justiça civil, com liminar. Não é novidade no hipismo. É preciso fazer algo para o futuro do esporte. A casa da FEI foi construída sobre uma fundação bamba. Agora caiu tudo no chão. Se eles quiserem sentar com a gente e resolver, a gente vai sentar junto. Se não, nós vamos fazer do nosso lado mesmo, como associação independente, como foi no tênis ou no golfe.   Mas vocês estão dispostos a um movimento tão radical? É isso mesmo. Radical.

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