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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Estreia sem susto

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Por Antero Greco
Atualização:

Uma das máximas do futebol ensina que é importante estrear com vitória, ainda mais em competições de tiro curto. Com resultado positivo, espanta-se tensão e decrescem as dúvidas, na mesma proporção em que aumentam confiança e chance de classificação. Por essa perspectiva, foram impecáveis os 3 a 0 sobre o Japão, na abertura da Copa das Confederações. Triunfo sem sobressaltos, que deu a medida da diferença entre as equipes. Felipão e seus rapazes podem curtir relaxados o domingo de folga.Noves fora a constatação inicial, é preciso deixar claro que o Brasil desempenhou o papel que se esperava de um anfitrião de grosso calibre - quer dizer, cumpriu com a obrigação. E o fez com certo brilho, elegância e atenção. Com raros momentos de comportamento burocrático. Não foi brilhante - ainda continua comum, como observei, depois de ganhar da França -, tampouco passou tédio ao público.Concentração talvez tenha sido o aspecto mais agradável da turma de Luiz Felipe Scolari. O pessoal levou a sério o desafio, como manda o manual do profissional correto. Como consequência dessa atitude, não passaram de esporádicos os episódios de desatenção, assim como erros de marcação. Vá lá que os japoneses não exigiram suor acima da conta - Julio Cesar apareceu no máximo com três defesas. Também os brasileiros não vacilaram a ponto de tomarem sustos. Deu pra perceber, desde que a bola começou a rolar no irregular gramado do Mané Garrincha, que o adversário oriental, já classificado para o Mundial, não seria páreo duro. E não foi, ainda bem. A largada feliz começou pelo meio-campo, em geral o fiel da balança de qualquer equipe. Luiz Gustavo e Paulinho barraram arroubos ofensivos dos nipônicos, e receberam ajuda dos laterais, fora Hulk e Oscar. A estratégia prevaleceu cedo, e o lindo gol de Neymar aos 3 minutos deixou o rival grogue. Neymar acabou com a cobrança de que amargava jejum de sei lá quantas horas. Os amantes das estatísticas estapafúrdias advertiam que faltavam uns poucos minutos para superar o próprio "recorde negativo" de mandar a bola às redes. Essa zica foi pro espaço, e vale notar que o rapaz não caiu muito após as divididas. Neymar saiu na metade do segundo tempo (Lucas entrou no lugar dele) por precaução, já que sentia dores. Até então, havia sido um dos destaques, ao lado de Oscar. Ambos jogaram de acordo com a categoria que possuem e reforçaram a sensação de que a seleção vai girar, cada vez mais, em torno deles. Não se trata de supervalorização, porque são mesmo os que têm talento de sobra. Só continuo com um pé atrás pela idade e rodagem baixas. Espero que Felipão faça a cabeça da dupla para não encarar a missão como fardo pesado pra carregar. Se estiverem serenos, a tendência é a de ditarem o ritmo do time, agora e principalmente dentro de um ano.Ainda tem vento pra chuchu pra soprar, o México será mais complicado e, espera-se, a Itália o osso duro de sempre. Mas, devagar, se delineia o contorno da amarelinha: a defesa se consolida com Julio Cesar, Daniel Alves (caiu muita na segunda parte), Thiago Silva (firme), David Luiz e Marcelo. No meio, Luiz Gustavo protege bem, Paulinho continua incansável (e faz gols, para o bem de crítica, torcida, companheiros e certamente também o treinador), Oscar assume a condição de maestro e Hulk carrega piano, é jogador que se encaixa no espírito que Felipão pretende ver. Neymar é intocável e Fred, o costumeiro centroavante, que some e aparece na hora certa (ontem, discretamente). A seleção tem uma cara, tende a evoluir, afinar o entrosamento - e não pode ser diferente. Fico só a imaginar com que cara foram pra casa a presidente Dilma e Joseph Blatter. As vaias que tomaram não estavam no gibi. O manda- chuva da Fifa ensaiou um pito na plateia, na base do "que é isso, gente?", e ouviu assovios mais forte, interpretados como "vai mandar em outra freguesia". Na próxima, chama o Pelé. É mais seguro.

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