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Ex-atletas opinam sobre mudança no código antidoping da Wada, que abranda pena ao uso de cocaína

Agência Mundial Antidoping definiu que a partir de 2021 não suspenderá mais atletas flagrados por uso de maconha, cocaína e outras drogas de fins recreativos. Casagrande aprova decisão. Ana Paula, não

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Por João Prata
Atualização:

Atletas e ex-atletas, de maneira geral, foram pegos de surpresa com a informação sobre a mudança no código da Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês), divulgada pelo Estado com exclusiviade nesta quinta-feira. A reportagem conta que a partir de 2021, atletas pegos no antidoping para uso de maconha e cocaína, por exemplo, não serão mais punidos com quatro anos de afastamento, conforme regra atual. O Estado entrou em contato com diversas personalidades do meio esportivo que não estavam sabendo da alteração. Algumas delas preferiram não opinar. O ex-jogador Walter Casagrande, comentarista esportivo do Grupo Globo, e as ex-jogadoras de vôlei Isabel e Ana Paula analisaram a nova medida que entrará em vigor a partir de 2021, após os Jogos Olímpicos de Tóquio.

A Wada não punirá mais atletas por uso de drogas de uso social, como maconha e cocaína, por exemplo. Para isso, terá de ser provado que a utilização da substância proibida não teve como finalidade obter performance esportiva. A entidade entendeu que atleta com problemas com drogas, pegos nos exames, não está tentando se beneficiar com ganho em performance. Portanto, a prioridade nesses casos deve ser com sua saúde. Por isso quem provar que usou a droga para fim social, em festas na noite, por exemplo, será advertido e não mais punido com ganchos que podem chegar a quatro anos. 

Casagrande defendeu mudança da Wada. Foto: Reprodução/SporTV

"Sempre falei que deveria mudar o código, que cocaína e maconha são drogas sociais e não aumentam o rendimento esportivo. Em vez da punição, sempre defendi que deveria ter exigência de tratamento. Quem é pego por cocaína e maconha é porque não tem mais o controle", destacou Casagrande, autor do livro Casagrande e seus Demônios, que trata de sua experiência com as drogas quando era jogador e depois também.

Em vez da punição, sempre defendi que deveria ter exigência de tratamento. Quem é pego por cocaína e maconha é porque não tem mais o controle

Walter Casagrande, ex-atleta e comentarista do Grupo Globo

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Isabel, ex-jogadora de vôlei da seleção brasileira, concordou com o ex-atleta do Corinthians. "É um avanço não haver mais punições severas para drogas como maconha e cocaína. Sou a favor da punição por doping quando há a tentativa de melhorar a performance. É uma covardia, não é legal. Mas acho que cocaína e maconha, caso seja registrado que não se usou para obter melhora de performance, não é nada. A pessoa que está com problema precisa de ajuda", destacou. Recentemente, o Estado fez reportagem contando a história do ex-são-paulino Régis.

Ana Paula, também com passagem pela seleção brasileira de vôlei e blogueira do Estado, demonstrou opinião divergente dos colegas. "Sou totalmente contra. É uma mudança que não tem cabimento. Primeiro que as palavras droga e esporte não cabem na mesma frase. As políticas antidoping estão sempre correndo atrás dessa indústria do doping, que está anos-luz à frente sempre. Eles estão sempre buscando novas formas de burlar os exames e em algum momento conseguem. Qualquer tipo de droga, anabolizante, qualquer substância proibida, seja para uso recreativo ou para aumento de performance, sou absolutamente contra."

Sou totalmente contra. É uma mudança que não tem cabimento. Primeiro que as palavras droga e esporte não cabem na mesma frase

Ana Paula, ex-jogadora de vôlei da seleção brasileira

CÓDIGO

A mudança substancial do código é detalhada no seu item 24 do novo código da Wada. A entidade justifica a alteração com base em muitas análises e cita ponderações como no uso da cocaína, que também pode melhorar a performance de um atleta. "O que se nota frequentemente é que a quantidade detectada nos exames antidoping durante a competição é pequena, o que sugere fortemente que o uso ocorreu fora do torneio, em um contexto social, sem afetar o desempenho esportivo."

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As substâncias que entrarão nesse contexto ainda não estão todas definidas, pois há muitas drogas sintéticas de origens variadas. A Wada destinará um grupo de peritos para identificar na lista de substâncias proibidas quais são frequentemente usadas "socialmente". Quando o atleta for flagrado por consumo de uma delas, deverá provar que o uso ocorreu fora da competição e não estava relacionado ao desempenho esportivo, ou qualquer ganho nesse sentido. Vale ressaltar que as drogas continuam proibidas.

No momento em que a contraprova der positiva, haverá uma punição automática de três meses ao esportista. O atleta poderá reduzir esse período de inelegibilidade para um mês se aceitar entrar para um programa de reabilitação. Se ele não provar que usou a droga fora da competição, aí sim será suspenso por quatro anos, como diz a regra atual. A Wada vai colocar o novo código em vigência a partir de 2021. 

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