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Ex-dirigente revela ter escondido doping para ajudar finanças da federação de atletismo

Lamine Diack, ex-presidente da entidade, é julgado por corrupção em Paris e disse, diante do tribunal, que intercalou ações disciplinares contra atletas russos dopados para 'salvar a saúde financeira' da federação

Por AFP
Atualização:

O ex-presidente do atletismo mundial, Lamine Diack, julgado por corrupção em Paris, assumiu na última quinta-feira diante do tribunal a decisão de intercalar ações disciplinares contra atletas russos dopados para "salvar a saúde financeira" da federação internacional (IAAF, atual World Athletics), negando parte dos fatos.

O senegalês de 87 anos se recusou a estabelecer claramente um vínculo entre a gestão de casos de doping na Rússia e um financiamento de US$ 1,5 milhão para contribuir para a derrota de Abdoulaye Wade nas eleições presidenciais de 2012 em seu país.

Lamine Diack revela ter escondido doping para ajudar finanças da federação de atletismo Foto: Thomas Samson/AFP

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No final de 2011, graças a uma nova ferramenta de detecção, o passaporte biológico, o departamento antidoping da IAAF tinha a sua disposição uma lista de 23 atletas russos suspeitos de doping sanguíneo.

"Fui eu quem decidiu que era necessário escalonar" as sanções disciplinares " e todos disseram que eu estava sendo imprudente", assumiu Lamine Diack, se alinhando à versão do ex-chefe do departamento antidoping da IAAF, Gabriel Dollé, interrogado na segunda-feira.

"Foi principalmente por causa da saúde financeira da IAAF", acrescentou Diack, pois a divulgação de tantos casos teria causado um escândalo e arruinaria as negociações com os patrocinadores.

"A saúde financeira (da IAAF) precisava ser protegida, e eu estava disposto a assumir esse compromisso", insistiu ele, em meio a respostas desconexas.

Durante a investigação, Lamine Diack reconheceu que as sanções foram espalhadas ao longo do tempo para não manchar a imagem da Rússia antes do Mundial de Atletismo de 2013 em Moscou, quando a IAAF estava negociando a renovação de contratos de patrocínio e a transmissão com o banco VTB e a rede RTR, duas empresas russas.

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- "Isso não é esporte!" -

Os juízes também denunciaram alguns dos seis acusados, incluindo Lamine Diack e seu filho Papa Massata Diack, ex-consultor de marketing da IAAF, por chantagear atletas russos, obrigados a pagar centenas de milhares de dólares para se beneficiarem de um "proteção total" em questões de doping, como foi o caso da maratonista Lilya Shobukhova.

O filho de Lamine Diack, Papa Massata Diack, que se recusou a comparecer, está abrigado no Senegal e é alvo de um mandado de prisão internacional.

O ex-presidente da IAAF alega não estar ciente da chantagem financeira para atletas russos dopados.

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Diack disse que ficou "intrigado" quando os investigadores disseram que seu filho estava relacionado ao gerenciamento de casos de doping.

O atraso nas sanções permitiu que vários atletas russos participassem dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, apesar de passaportes biológicos anormais. Alguns deles conquistaram medalhas, que acabaram sendo cassadas anos depois.

Lamine Diack garantiu que esses bons resultados em Londres-2012 não estavam previstos e que ele havia recebido garantias do ex-presidente da Federação Russa de Atletismo, Valentin Balakhnichev, de que os atletas não apareceriam na lista de vencedores.

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"A ideia de alguém participar para não ganhar é manipular os resultados, isso não é esporte!", disse então a juíza Rose-Marie Hunault.

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